A solenidade da Epifania está ligada à luz. Na tradição bíblica, a luz é sempre um sinal da presença de Deus e identifica-se com o próprio Deus. Opõe-se às trevas, à escuridão, à noite, que são expressões de ausência de Deus. Onde há luz há vida e onde ela não está domina a morte.
É a luz que faz quebrar as barreiras que separam os povos e permite abrir as portas sem medo. A noite e a escuridão fecham, são a causa de muitos receios e de desconforto. Quem caminha na luz abre-se ao outro, manifesta-se, confia, levanta os olhos e segue de cabeça erguida.
Apesar de a nossa vida incluir luzes e sombras, momentos felizes e crises, esperanças e inquietações, ainda acreditamos que há uma estrela que se distingue das outras; uma estrela que não se vê com os telescópios potentes da tecnologia ou da finança. Essa estrela só é vista pelos que têm o coração simples e a fé: para estes, a estrela desce, fixa-se no horizonte do seu coração e da sua vida. Esta estrela é a de Belém, é a LUZ que muda a vida e o rumo de quem a contempla como os Magos, os peregrinos da fé, os caminhantes, os que procuram Deus. Essa luz é Jesus que brilha nas trevas.
- A Luz é Cristo
– Na primeira leitura o profeta Isaías diz: “A noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas sobre ti levanta-se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz…” Ele dirige-se à cidade de Jerusalém que se converte no centro e no lugar de atracção de todos os povos.
– Mas quem há-de dar luz à cidade e a todo o mundo é Cristo: Ele é a luz que hoje celebramos; luz para todos os povos, para todos os homens e mulheres do mundo…
– S. Paulo (2ª leitura) diz que tanto os gentios, como os judeus, pertencem ao mesmo corpo e são herdeiros da mesma promessa em Cristo porque foi Ele que eliminou as separações que existiam entre os povos…
– O Evangelho apresenta-nos os Magos, gentios vindos do Oriente, a reconhecer no Menino, o Salvador…
– Esta luz que é Cristo manifesta-se na humanidade: Deus não se manifestou de forma espectacular nem no lugar mais concorrido do mundo, mas numa criança nos braços de sua mãe, na nossa carne, na de todos, independentemente da língua, cultura, etnia ou região geográfica…
- Vimos a sua estrela
– Os Magos, os personagens-tipo da solenidade de hoje, que representam todos os povos e culturas, “viram a sua estrela” e puseram-se a caminho… Deixam a sua comodidade (de vida e de saber), as suas seguranças e as suas certezas; unicamente movidos pela esperança, põem-se a caminho procurando a luz verdadeira…
– Aconteceu com eles o mesmo que se passa com a luz nas nossas vidas: a estrela aparecia e desaparecia; passam por tribulações, por dúvidas, por crises… Encontram-se com o símbolo do poder, com Herodes, que parecia ter os meios para ver mas não vê, e passam adiante… Cada dificuldade é mais uma prova de fidelidade e, por isso, continuam a caminhar confiando em Deus…
– À nossa frente, a luz aparece como a estrela dos Magos: é sempre Deus que vem primeiro ao nosso encontro, que nos desperta… Nós podemos dar a resposta como eles: pondo-nos a caminho e procurando… Deus desce, coloca-se ao nosso nível, vem ao nosso encontro encurtando todas as distâncias…
– Os Magos intuíam qualquer coisa mas, como qualquer de nós, são surpreendidos quando essa luz baixa até à humanidade de uma criança recém-nascida, à humildade da condição humana: é Deus num menino…
- Epifania: universalidade e abertura
– Todos nos damos conta que, estes personagens vindos do Oriente, representam os que, não estando dentro do círculo das tradições e dos lugares geográficos do povo histórico de Israel, se encontram com Jesus e o descobrem como luz para os seus caminhos…
– A nossa sociedade tem sofrido transformações rápidas e profundas em parte também devidas à mobilidade e à presença, entre nós, de gente de outras regiões e culturas… Diante de nós está este desafio permanente de saber conviver e dialogar em ordem à construção de uma sociedade mais fraterna e solidária, tolerante e respeitadora, acolhedora e humana, particularmente nestes tempos mais difíceis…
– Os Magos convidam-nos a conviver, como crentes, num mundo cada vez mais plural… Também a Igreja, porventura, deve ser mais plural, sabendo conviver com a diversidade, enriquecendo-se cada vez mais em humanidade… Uma Igreja com as portas abertas para todos os que procuram um sentido para a sua vida, para todos os que querem seguir a luz…
– “Os Magos voltaram à sua terra por outro caminho”: naturalmente que a sua mentalidade, o seu modo de ver e interpretar a vida, tinham mudado… A luz verdadeira altera o rumo da vida…