Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo
Eu mesmo guardarei as minhas ovelhas

Felizes os que compram roupas caras e andam nus. Felizes os que comem as aparências do mundo e não saciam a alma. Felizes os que andam pelas ruas prisioneiros da tecnologia. Felizes os que vivem a solidão dos palácios. Felizes os que se sentam nos tronos da riqueza e do poder para esconder a sua pequenez. Felizes os que correm sem destino porque não chegarão a lugar nenhum.
Vinde benditos de meu pai porque tive fome…

LEITURA I Ez 34, 11-12.15-17

Eis o que diz o Senhor Deus: «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas, assim Eu guardarei as minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei as minhas ovelhas, Eu as levarei a repousar, diz o Senhor Deus. Hei de procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa. Hei de apascentá-las com justiça. Quanto a vós, meu rebanho, assim fala o Senhor Deus: Hei de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos».

Disperso em Babilónia, como ovelhas perdidas em dia de nevoeiro e de trevas, o povo de Israel não tem quem o tire do exílio e o conduza de regresso à sua terra. Só o Senhor o pode fazer. O profeta anuncia que o Senhor, ele mesmo, virá como pastor do seu povo.

Salmo responsorial Sl 22 (23), 1-2a.2b-3.5.6 (R. 1)
Depois da leitura de Ezequiel só podia vir o salmo 23. Os filhos de Israel são como ovelhas perdidas a quem o Senhor procura, são como fugitivos que tentam escapar ao inimigo. O Senhor é o pastor que conduz Israel a um lugar seguro e o protege na sua tenda.

LEITURA II 1Cor 15, 20-26.28

Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai, depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte. Quando todas as coisas Lhe forem submetidas, então também o próprio Filho Se há de submeter Àquele que Lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.

Cristo ressuscitado é a garantia da nossa ressurreição. Ele não é só o primeiro a ressuscitar, ele é a força que vence a morte e nos abre, a todos o caminho da vida eterna. Vitorioso ele está acima de todas as forças do mal e domina sobre a morte que já não tem poder sobre ele. Unidos a Cristo, também nós fazemos parte da criação redimida que é entregue nas mãos do Pai.

EVANGELHO Mt 25, 31-46

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna».

Cristo, o Rei do Universo, aparece no texto de Mateus como o pastor juiz que vai separar e julgar as ovelhas. O seu julgamento é salvação do homem que faz a vontade do Pai. A medida do julgamento é o amor aos irmãos, a todos os pequenos com quem Jesus, o Rei, se identifica sempre.

Reflexão da Palavra

Sem dizer que é o pastor, Ezequiel apresenta o Senhor a fazer o trabalho dos pastores. Vai em busca das ovelhas e vai encontrá-las, vigia o rebanho e guarda as ovelhas, tira-as de onde se perderam, apascenta-as, leva-as a repousar, procura a que anda perdida, reconduz a tresmalhada, trata da ferida, revigora a enfraquecida, vela pelas que estão bem e exerce a justiça entre elas.
De onde as ovelhas se encontram ninguém mais as pode tirar. Só o Senhor é que pode reunir e salvar as ovelhas do seu rebanho, porque são suas. Ele, como pastor, vai aonde elas se encontrem, e elas estão em Babilónia. Mesmo ali, desterradas em Babilónia, são as suas ovelhas. As ovelhas estão longe da sua terra porque aqueles que deviam cuidar delas não o fizeram e, agora, para as libertar, tem que vir o próprio Senhor. Mesmo depois de libertadas vão aparecer ovelhas que se julgam mais fortes e querem dominar sobre as outras, por isso, o Senhor vai fazer justiça entre elas.

Já temos refletido sobre o salmo 23 (pode ver-se por exemplo o que se disse no 4º domingo do tempo pascal). Pelo seu conteúdo tinha que estar neste domingo na sequência do texto do profeta Ezequiel. De facto, Israel é o rebanho do Senhor, disperso pela má conduta dos seus pastores, dos chefes do povo, que tinham a missão de o conduzir e não o fizeram. O Senhor não é como eles, o Senhor é um verdadeiro pastor, sabe conduzir o seu povo e abrigá-lo na sua tenda.

Na carta aos Coríntios, Paulo afirma a ressurreição de Cristo como acontecimento central. Sem ressurreição a fé cristã é vazia e a pregação uma inutilidade. No texto desta segunda leitura, a ressurreição de Cristo é apresentada como primícias, isto é, garantia de ressurreição para todos os que morreram. E fortalece esta certeza com o paralelismo entre Cristo e Adão, a vida e a morte, o Reino de Deus e as forças do mal. Do mesmo modo que em Adão encontrámos a morte e o mundo ficou submetido às forças do mal, em Cristo encontramos a vida e a vitória sobre todos os inimigos, incluindo a morte. Esta vida nova, que é vitória de Cristo sobre a morte, realiza-se em cada um à medida que se concretiza a missão salvadora de Cristo. Quando estiver terminada esta missão, o mundo que em Adão foi entregue à autoridade do homem e que se deixou dominar pelo mal, será dominado por Cristo e finalmente entregue a Deus seu Pai. Tudo regressará a Deus princípio de vida.

Nos últimos domingos, com as parábolas do capítulo 25 de Mateus, ficámos a saber que o Senhor vem e quando vier vai pedir contas. Trata-se do juízo final que, de algum modo já estava presente nas parábolas anteriores, pois, as virgens insensatas ficam fora do banquete e o servo preguiçoso é lançado fora. Nesta parábola Mateus apresenta o juízo final tal como ele irá realizar-se.
O texto começa por uma introdução que afirma a vinda do Senhor, o Filho do Homem. Ele vai sentar-se, vai reunir todos os homens, e vai separá-los e julgá-los. Mateus identifica esta ação com a dos pastores, o que faz pensar num juízo para salvar e não para condenar, ao jeito de Ezequiel da primeira leitura.

Depois dirige-se aos bem-aventurados “Vinde, benditos de meu Pai”, explica porque os considera benditos, eles perguntam “quando foi que te vimos”, o Senhor explica. Depois dirige-se aos malditos dizendo “afastai-vos de mim” e justifica porque assim os considera, eles perguntam o mesmo “quando foi que te vimos” e o Senhor explica. No final do texto surge a conclusão: “Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna”.

Meditação da Palavra

A parábola do juízo final que Mateus apresenta no capítulo 25 e nós escutamos na solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, apresenta Jesus sentado num trono de glória, vencedor de todas as forças do mal e da morte pela ressurreição, depois de ter submetido todas as coisas e ter entregue o reino a Deus seu Pai. Ele é a garantia de que todos os homens, de todos os povos e nações, serão retirados da morte e feitos participantes da vida eterna.

Este rei, sentado no seu trono glorioso, é o pastor de que fala Ezequiel ao povo do exílio. O pastor que se preocupa com as ovelhas e vai procurá-las onde elas estiverem, porque são suas, mesmo no exílio, porque se identifica com elas e vai ser juiz para dirimir todas as contendas que se levantem entre elas.

Este juiz é o Filho do homem, o rei do universo, é Jesus que vem, ainda que não saibamos quando é que vai chegar. E quando vier, vem julgar, um julgamento que tem como finalidade salvar e não condenar, pois, apesar de ser juiz, não esquece que em primeiro lugar é pastor que “vigia o seu rebanho”, “apascenta”, “leva a repousar”, “procura a que anda perdida e reconduz a que anda tresmalhada. Trata a que estiver ferida, dá vigor à que anda enfraquecida e vela pela gorda e vigorosa”.

No entanto, o seu juízo não pode ignorar a verdade do tempo de espera, este tempo que vivemos entre o momento em que o Senhor “partiu de viagem” e o tempo do “seu regresso”. “Sentado no seu trono glorioso”, como o pastor faz com as ovelhas e os cabritos, ele separa os benditos dos malditos.

Os “benditos”, como as virgens prudentes que entram no banquete e como os servos fiéis que entram na alegria do Senhor, recebem “como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo”, porque fizeram a vontade do Pai especificada em casos concretos. A surpresa com que recebem a sentença confirma a intenção das ações. Eles nunca fizeram o bem pensando que estavam a fazer a alguém muito importante como o Rei nem à espera de recompensa. Foi gratuito e desprendido o bem realizado á pobreza, à indigência, à fome e à sede dos irmãos padecentes. Atitude confirmada pelo rei que se identifica com aqueles que foram auxiliados.

Do outro lado estão os que não fizeram a vontade do Pai e têm como destino o “suplício eterno”. A razão desta sentença está no polo oposto à atuação dos “benditos”. Eles tiveram as mesmas oportunidades, mas agiram de modo distinto. Não agiram contra, não provocaram mal, mas não fizeram o bem que estava ao seu alcance. A sua culpa é não terem feito nada. Podemos dizer que a sua culpa é a indiferença perante o outro.

Nós que celebramos a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, ainda estamos no tempo da espera. Contemplamos a Cristo e reconhecemo-lo como rei, mas ainda estamos no tempo de espera, um tempo que se pretende criativo do bem, identificando o rei do universo com os pobres da terra, os que têm fome e sede, os que não têm que vestir, os que não têm casa para se abrigar, os doentes e os prisioneiros.

Neste tempo criativo havemos de saber identificar as sedes e as fomes da humanidade para assistirmos os que padecem física ou espiritualmente destes males, vendo neles Cristo, o Rei.

Havemos de detetar as situações em que o homem vive como sem abrigo e nu, para reconhecer aí o rosto de Cristo, o rei, e agir em seu favor.

Havemos de reconhecer as doenças e as prisões do mundo de hoje e sentir a responsabilidade de curar e salvar com o empenho da nossa própria vida, porque é Cristo, o rei, quem está carente de salvação.

Rezar a Palavra

Sinto-me ovelha perdida no mundo de pobres, carenciados, desgraçados, doentes e prisioneiros. Sinto-me perdido sem saber o que fazer para saciar a fome e a sede de tantos que gritam por um pedaço de pão e uma gota de água. Sinto-me perdido diante de tantos sem casa, sem roupa e sem dignidade. Sinto-me perdido no mundo sem caminhos para andar e sem rumo para onde seguir. Sinto-me perdido perante o silêncio dos bons. Preciso de ti, pastor de Israel, da tua luz, da tua voz, do teu cajado, do ruído dos teus passos para não me perder de tantos, para não me perder de ti.

Compromisso semanal

Vou distribuir-me por todos.