Felizes os que entram na alegria do seu Senhor pela porta da missão cumprida

A felicidade dos que esperam ansiosamente pelo fim de semana para vestirem o pijama e esticarem o corpo no sofá, é inutilidade consciente. A segunda-feira é, para estes, o drama do recomeço de uma penosa, vida arrastada na expetativa de regressar ao sofá da inutilidade.
A proposta do Senhor, neste domingo, é oposta a esta felicidade. A felicidade está em servir o Senhor, pondo a render todos os talentos, reconhecendo os talentos como um tesouro, uma bênção, que enriquece o próprio e pode enriquecer a todos.

LEITURA I Pr 31, 10-13.19-20.30-31

Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa? O seu valor é maior que o das pérolas. Nela confia o coração do marido, e jamais lhe falta coisa alguma. Ela dá-lhe bem-estar e não desventura, em todos dias da sua vida. Procura obter lã e linho e põe mãos ao trabalho alegremente. Toma a roca em suas mãos, seus dedos manejam o fuso. Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente. A graça é enganadora e vã a beleza; a mulher que teme o Senhor é que será louvada. Dai-lhe o fruto das suas mãos, e suas obras a louvem às portas da cidade.

No final do livro dos provérbios encontra-se o elogio da mulher virtuosa. Aqui se diz que o valor da mulher não está na sua beleza, mas no temor de Deus e na dedicação, servindo com todos os seus dons a família e os mais pobres. Isto mesmo se pode dizer do homem e de todas as pessoas.

Salmo responsorial Sl 128, 1-2.3.4-5
O homem que teme o Senhor e lhe obedece, de acordo com o salmo 128, é um homem abençoado. Tudo na sua vida será abençoado e adquire um valor inestimável. A mulher é fecunda, os filhos em grande número são felizes sentados à sua mesa, o seu trabalho sustenta a sua família e viverá longos anos.

LEITURA II 1Ts 5, 1-6

Irmãos: Sobre o tempo e a ocasião, não precisais que vos escreva, pois vós próprios sabeis perfeitamente que o dia do Senhor vem como um ladrão noturno. E quando disserem: «Paz e segurança», é então que subitamente cairá sobre eles a ruína, como as dores da mulher que está para ser mãe, e não poderão escapar. Mas vós, irmãos, não andais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão, porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia: nós não somos da noite nem das trevas. Por isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.

Paulo convida os tessalonicenses a viver atentos, acordados, vigilantes, porque não sabem o dia em que o Senhor vem. Esta espera atenta, deve ser ativa e não passiva como a dos que dormem ou se embriagam com as coisas deste mundo e esquecem o valor das coisas eternas.

EVANGELHO Forma longa Mt 25, 14-30

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro, e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».

A vida é um dom de Deus que havemos de agradecer constantemente. A forma de agradecer é usando os talentos que Deus nos concedeu, com esforço, trabalho e dedicação, arriscando tudo para produzir os frutos esperados. Desta forma estaremos vigiando para que a vida não se esgote inutilmente.

Reflexão da Palavra

O livro dos Provérbios é o mais antigo do conjunto dos livros sapienciais. Trata-se de um livro que reúne uma série de instruções, fruto da sabedoria de um povo, que foram recolhidas a partir da experiência transmitida de geração em geração, que representam um património de sabedoria, muito útil para instruir as pessoas numa conduta de vida piedosa diante de Deus.

Dividido em sete coleções, o livro dos Provérbios, oferece na última parte os versículos da primeira leitura dedicados à mulher ideal. A pergunta inicial não pretende transmitir a ideia de que é difícil encontrar uma mulher virtuosa, mas pelo contrário, afirmar que é uma bênção de Deus toda a mulher que tem esta conduta. Depois descreve os atributos desta mulher: levanta-se cedo, alimenta a família, distribui os trabalhos da casa, trabalha alegremente, obtém a lã e o linho, maneja a roca e o fuso, fabrica roupa para a família e para vender, é generosa com os pobres e teme o Senhor. Com isso, dá ao marido bem-estar e ele concede-lhe a sua confiança. Esta mulher vale mais que as pérolas.

No salmo fala-se do homem que teme o Senhor. Este é feliz, bem-aventurado, porque obedece em tudo ao Senhor e anda nos seus caminhos. Um homem que vive assim diante de Deus é abençoado e são abençoados todos os seus projetos. A sua família, o seu trabalho e a sua vida são sinal desta bênção. A esposa é fecunda, os filhos são felizes, o trabalho dá fruto e tem vida longa.
Paulo compara o momento da vinda do Senhor com a hora do parto da mulher que vai dar à luz e com a chegada do ladrão. Ninguém pode descansar porque na hora em que menos espera vem o Senhor. Paulo entende que a vinda do Senhor está para breve, mas é preciso vigiar, estar atento, para não ser apanhado de surpresa. Paulo faz contrastar a atitude do cristão e a dos “outros”. O cristão anda na luz, é filho da luz e do dia, não se deixa dormir, nem se embriaga. Os outros, andam de noite, pertencem à noite e às trevas, vivem a dormir e embriagados.

O Senhor que os tessalonicenses esperam sem saberem quando vem, vai chegar e vai pedir contas sobre o que cada um fez com os talentos recebidos. Mateus, depois de ter apresentado a parábola das dez virgens que esperavam o Senhor, relata esta parábola dos talentos, para recordar que a vinda do Senhor, do esposo, pode demorar, mas vai mesmo acontecer.
A parábola revela, na relação entre o Senhor e os servos, uma proximidade que vai para além da mera relação de dependência e de autoridade, trata-se de uma relação afetiva. O Senhor confia-lhes todos os seus bens. O que se espera é que eles mereçam a confiança que a amizade que os une requer. A cada um é entregue o suficiente e necessário para poder cumprir a sua missão, de modo que não reclame pelo peso da responsabilidade nem pela falta de confiança.

De seguida refere-se o contraste na atitude dos servos. Dois deles lançam-se no trabalho e obtêm êxito duplicando o valor recebido. O outro nada faz e nada obtém. Os dois primeiros trabalham intensamente porque não sabem quando o Senhor regressa e querem, em pouco tempo, apresentar contas positivas ao seu Senhor. O outro, acomoda-se na ideia de que o Senhor tarda e julga ter muito tempo, alguma desculpa há de encontrar no final. Este tempo de espera é incerto, mas é longo, segundo a afirmação de Mateus “muito tempo depois”.

Com a chegada do Senhor começa a ação central da parábola, a prestação de contas. Os dois primeiros são rapidamente despachados, enquanto o Senhor se demora na análise àquele que nada fez e nada tem para apresentar. A sua atitude não corresponde ao que é esperado de um servo bom e fiel e, por isso, o castigo é doloroso. Enquanto os outros entram na alegria do seu Senhor, o servo “mau e preguiçoso” é lançado “às trevas exteriores.

Meditação da Palavra

Na mulher virtuosa podemos ver a Igreja, esposa de Cristo, cujo valor não está beleza que os olhos humanos podem apreciar, mas nos dons com que foi presenteada por Deus, colocados ao serviço dos seus filhos e dos pobres que batem à porta. É nesta atitude de colocar os dons a render que a Igreja revela o rosto feliz de Deus, por uma tal esposa escolhida para gerir a salvação prometida desde a criação e realizada no mistério da Páscoa de Cristo, o esposo.

No homem abençoado do salmo 128, podemos ver o próprio Cristo que, pelos sofrimentos do seu mistério pascal nos alimenta e nos abençoa. Foi pela sua obediência ao Pai que veio até nós a bênção, a salvação. Nós os filhos da Igreja, recebemos de Cristo toda a espécie de bênçãos espirituais. Nele, a Igreja torna-se fecunda, dando novos filhos ao mundo e a Deus. Sentados à mesa da eucaristia, nós os filhos, somos felizes e tornamo-nos capazes de produzir fruto, como rebentos de oliveira que prometem o azeite para as almotolias (como vimos no domingo passado).

A certeza da salvação alcançada em Cristo, na sua morte e ressurreição, não pode deixar o cristão numa atitude despreocupada face ao presente e ao futuro, porque o Senhor vai chegar para o fazer participar definitivamente nos bens que ofereceu na cruz, dos quais já participa, mas não plenamente. Esta vinda do Senhor, está eminente, mas ninguém sabe quando é, por isso, Paulo pede que estejamos vigilantes para não sermos apanhados de surpresa. Embora confiantes, a viver no tempo presente, estamos abertos ao futuro no qual viveremos com o Senhor. Estar neste mundo não pode significar estar embriagado, anestesiado, com as coisas deste mundo como se fossem definitivas, porque isso é apostar tudo na beleza exterior, em vez de procurar o verdadeiro bem.

Na continuação das palavras de Paulo aos tessalonicenses, surge a parábola dos talentos narrada por Mateus. Na parábola percebe-se facilmente que o Senhor é Cristo enquanto os servos somos nós, os membros da Igreja a quem Jesus entregou todos os seus bens para continuarmos a sua missão no mundo, anunciar o Reino e oferecer a salvação a todos os homens.

Nós, os discípulos de Cristo, vivemos entre dois tempos, aquele em que o Senhor colocou nas nossas mãos os talentos e o tempo final em que o Senhor virá e nos pedirá contas do que fizemos com esses dons.

O discípulo de Jesus, a Igreja, pode perder-se no tempo de espera e acabar vivendo mais de noite que de dia, entregando-se às obras das trevas e não às da luz, deitando-se a dormir em vez de vigiar, pode enterrar os talentos e não os pôr a render cumprindo a missão confiada pelo Senhor.

O discípulo de Cristo, a Igreja, conhece o Senhor, sabe que ele colhe onde não semeou e recolhe onde nada lançou, mas não pode ter medo, não pode deitar-se a dormir sobre o tesouro recebido das mãos de Deus, não pode escondê-lo e viver como se não o tivesse recebido. Há de fazer como a mulher virtuosa da primeira leitura que cuida da sua família e dos pobres pondo a render os dons recebidos. Ou como o homem do salmo que faz participantes da sua bênção todos os que estão à sua volta. Podendo ser fiel no pouco ou esbanjar gastando de modo insensato os dons recebidos, transformando a vida numa inutilidade, o discípulo de Cristo, sabe escolher a atitude que o conduz à alegria do seu Senhor. Jesus alerta para essa possibilidade de ficarmos satisfeitos com a inutilidade.

A relação estreita, próxima e afetiva, entre Cristo e o seu discípulo, a Igreja, não permite o desleixo quanto à missão que ele lhe confiou. A resposta não pode ser menos do que entregar-se imediatamente ao trabalho, espalhar a semente do evangelho e fazer tudo o que é humanamente possível para que ela germine e cresça, mesmo no contexto difícil do tempo presente, mesmo quando a espera se torna longa e pesada, mesmo quando tudo faz crer que o Senhor não vem. O discípulo, a Igreja, sabe, pelo coração, que o Senhor vem e quer entrar na alegria do seu Senhor com as mãos cheias de uma missão cumprida com entusiasmo.

Rezar a Palavra

Feliz o homem que sabe ver a sua vida, a sua família, o seu trabalho, como uma bênção de Deus para si mesmo e para os outros. Feliz daquele que em cada dia percebe, e vive já, a alegria que lhe é oferecido pelo Senhor ao final. Feliz aquele para quem o trabalho de cada dia não é um peso nem uma maldição, mas uma resposta à confiança depositada nele pelo Senhor que lhe confiou todos os bens. Eu quero ser assim, Senhor, um homem abençoado pela missão, amado no cumprimento do meu dever, enriquecido pelo dom de cuidar dos outros, feliz pela certeza da alegria que me espera na casa do Senhor.

Compromisso semanal

Quero vencer a preguiça que me faz dizer que não vale a pena o esforço de cada dia, para me tornar um servo fiel que sabe caminhar ao encontro da alegria do seu Senhor.