Dizemos muitas vezes que os tempos que vivemos são difíceis, que o futuro pertence a Deus e que este mundo é passageiro; que a nossa existência no tempo e neste espaço tem um termo. Mas, quando se fala do fim, reagimos sempre com algum temor pela dificuldade de interpretar os sinais e a incerteza dos acontecimentos.
O profeta Daniel diz que são tempos de angústia e de salvação, que incluem um juízo de Deus; há um mundo que passa e outro, de luz, que se inicia. Como diz o Evangelho de Marcos, o sol e a lua perdem a sua claridade para que se veja o Filho do Homem vir com grande poder e glória. A linguagem destes textos é apocalíptica, carregada de metáforas, e usa imagens cósmicas para salientar o grande poder de Deus e a sua superioridade sobre a história.

  1. Deus é o Senhor da História

– A primeira grande afirmação que o texto do Evangelho pretende deixar clara é que Deus é o Senhor da História e não o homem… As suas palavras não passarão…
– O desígnio de Deus, que é de bondade, manifesta-se de muitas maneiras… Por vezes, também na turbulência dos acontecimentos, até nalgumas contrariedades da vida…
– A pessoa que tem fé reconhece que Deus conduz os acontecimentos mesmo que, às vezes, pareça estar ausente… Isto não quer dizer que tudo o que acontece tenha que ter uma resposta imediata a partir da fé… Deus confiou este mundo ao homem para o guardar e, tantas vezes, o homem quer ocupar o lugar de Deus e cria os desequilíbrios…
– No entanto, depois da convulsão, o crente sabe que Deus se manifestará com o seu poder e a sua benevolência porque assim foi sempre ao longo da história…

  1. Aprender com a figueira

– A figueira é uma árvore de folha caduca; quando brotam as folhas anuncia-se a Primavera; não se vêem as flores como noutras árvores mas, quem a conhece sabe quando chegam os seus frutos saborosos… A linguagem do Evangelho aponta, portanto, para os sinais de uma nova Primavera, “ramos verdes” a anunciar o Reino de Deus…
– A pessoa crente deve saber olhar para este mundo e descobrir nele, como com a figueira, os sinais dos frutos que se aproximam. É por isso que a sua vida é caracterizada pela esperança…
– Jesus está presente quando o homem sofre e quando há forças que retêm o homem e o pretendem destruir… Mas não são esses poderes do mundo que determinam o futuro… O futuro está nas mãos de Deus; a palavra de Jesus não passa; logo, é preciso ter confiança…
– Cada vez que tomamos consciência dos acontecimentos dolorosos que temos estado a viver nos últimos tempos, situações de angústia que nos colocam perante o sentido da vida, devemos assumi-los e, desta forma, descobrir neles os sinais de Deus, que são sinais de esperança… Ao mesmo tempo, é necessário estar atento, vigilante: “aprender com a figueira”, diz Jesus…

  1. “Vós sois o meu refúgio”

– Olhando para os textos da liturgia de hoje (antífona de entrada, colecta e salmo) verifica-se que são textos de súplica confiante, que nos aproximam de Deus, que nos fazem senti-Lo connosco… São textos adequados ao apelo à vigilância e à fidelidade em situações adversas…
– Deus não quer a desgraça nem a aflição mas é o autor da paz… A dor faz parte da condição humana; Deus quer a união e a reunião dos que andam dispersos, não a discórdia (antífona de entrada); a nossa herança, o nosso destino, é estar junto do Senhor (Salmo); há alegrias que são verdadeiras e outras que o não são – a nossa alegria está em conhecer e amar o Senhor e em comprometer-nos com a sua causa (oração colecta)….
– Viemos de Deus e para Deus caminhamos… A salvação vem de Deus e chega a todos ao ritmo do próprio Deus e não das conjecturas e presságios humanos…