Jesus continua a falar do Reino dos Céus através de parábolas, dirigindo-se tanto às autoridades de Jerusalém como aos seus discípulos. A conhecida parábola dos talentos desperta-nos para a necessidade de ser proactivos e deve levar-nos a pensar sobre o que é que fizemos com os dons que recebemos: com as capacidades, as qualidades, a família, os amigos, os vizinhos, a paróquia, a comunidade, a Igreja, o Evangelho, toda a criação… O que é que fazemos de tudo isto que Deus nos dá?!…
Os talentos são dons, capacidades que Deus nos atribui para fazer crescer e imprimir dinamismo à vida. A fé eleva estas capacidades porque faz tomar consciência que elas se inscrevem num projecto que Deus quer levar por diante connosco e com a nossa acção. Aquele homem que vai partir de viagem deposita uma confiança total nos seus servos porque lhe entrega os seus bens. É assim que Deus procede connosco: confia-nos coisas para nós gerirmos com responsabilidade. Neste Dia Mundial dos Pobres somos interpelados sobre o que andamos a fazer de tantos bens que Deus confiou à humanidade…
- Talentos e esforço pessoal
– O homem que vai de viagem e toma a decisão de entregar os bens aos servos é alguém que acredita nas pessoas, que as promove chamando-as à participação…
– Quem recebe os talentos assume uma responsabilidade que só tem uma alternativa: ou guarda, simplesmente, deixando tudo igual; ou colabora aproveitando a oportunidade que lhe é oferecida…
– Não são os talentos, as coisas, os bens, a inteligência que dão mérito às pessoas… As capacidades vêm de Deus e o que é exigido é o esforço pessoal. A parábola valoriza o esforço que cada um faz, o modo como usa aquilo que recebeu (neste ponto, ninguém tem vantagens à partida porque todos recebem alguma coisa) e o objectivo que se pretende alcançar com o trabalho (sim, porque fazer render os talentos dá trabalho!)…
– Havendo pessoas que se comprometem em fazer render os seus talentos ultrapassam-se as invejas, deixa-se de olhar só para o lado, para procurar seguir sempre mais em frente…
– Mas quem, em vez de rentabilizar o que recebeu, fica a lamentar-se porque recebeu pouco, acaba por paralisar e autodestruir-se… O que o Senhor quer é que o pouco ou muito que se tem, seja colocado ao serviço de Deus e dos outros…
- É preciso arriscar sempre
– A parábola faz realçar a atitude negativa do que recebeu apenas um talento… Ficamos chocados ao ouvir que o que recebeu menos foi o que escondeu para deixar tudo igual e não alterar a sua situação para melhor… Ora, não se pode ficar de braços cruzados à espera que “a Providência de Deus” intervenha para solucionar os nossos problemas… Esta foi a atitude do terceiro servo…Isto traz-nos à memória experiências que vamos tendo da vida e que são as que marcam mais profundamente: com pouco pode-se fazer muita coisa; de uma coisa pequena pode surgir um grande empreendimento… Parece que os grandes empreendedores começaram todos “por baixo”… E, tantas vezes, os que herdaram grandes fortunas, desbarataram-nas em pouco tempo…
– Não é questão de ter recebido muito ou pouco… A principal questão é o medo de arriscar, e o medo nunca foi bom conselheiro… Ficar sem fazer nada gera angústia e paralisa… Até se poderá dizer, de acordo com a parábola, que era melhor ter arriscado, mesmo que viesse a perder… Ao menos, tinha tentado… Agora, ficar sem fazer nada é que não dá…
– Há pessoas que nunca arriscam porque entendem que só devem avançar quando estiver tudo montado garantindo o sucesso… Este calculismo provoca medo, desconfiança e frustrações… E adia a vida…
– O que não arrisca, aquele que se limita a conservar o que recebeu, corre o perigo até de perder o que lhe foi entregue… Não há meio-termo: ou arriscar e crescer, ou morrer…
– Mas, atenção: a parábola dos talentos não é contada para patrocinar o individualismo, onde cada um olha só “para a sua quinta”… Tem que se prestar contas… No Reino de Deus somos todos solidariamente responsáveis… O risco que se corre e os ganhos que houver, são para ser partilhados por todos…
– Olhando para a 1ª leitura vemos como é elogiada a mulher trabalhadora, honrada, que é fiel, que se compromete com os pobres… E não se trata só da mulher, mas de todos, embora se sublinhem estas qualidades na mulher porque, por vezes, a atracção pela formosura (ou por outros aspectos!) pode ser enganadora…
– O trabalho, a generosidade, a preocupação pela justiça, são as qualidades mais importantes para o autor do livro dos Provérbios e são as que são exigidas a quem quer multiplicar os seus talentos…