Os que não se cansam de procurar
Os loucos já chegaram ao fim do caminho. Já conhecem, já sabem, já viram, já fazem, já creem, já encontraram.
Os prudentes procuram, sempre, com todo o coração. Vivem em busca da fonte como quem tem sede, procuram de noite como quem tem pressa, levantam-se antes da aurora como quem arde em desejo. Levantam os olhos e as mãos, suspiram e mexem os lábios como crianças porque sabem que “a vossa graça vale mais do que a vida”.
LEITURA I Sb 6, 12-16
A Sabedoria é luminosa e o seu brilho é inalterável; deixa-se ver facilmente àqueles que a amam e faz-se encontrar aos que a procuram. Antecipa-se e dá-se a conhecer aos que a desejam. Quem a busca desde a aurora não se fatigará, porque há de encontrá-la já sentada à sua porta. Meditar sobre ela é prudência consumada, e quem lhe consagra as vigílias depressa ficará sem cuidados. Procura por toda a parte os que são dignos dela: aparece-lhes nos caminhos, cheia de benevolência, e vem ao seu encontro em todos os seus pensamentos.
Ao contrário das teorias filosóficas fabricadas pelos homens, a sabedoria revelada através da lei de Deus, é luminosa. Ela pode ser encontrada pelos homens que, em vez de se encherem das suas verdades, procuram a sabedoria de Deus. Ela deixa-se encontrar por quem a ama, deseja, procura e se entrega a ela com todas as forças.
Salmo responsorial Sl 62 (63), 2.3-4.5-6.7-8 (R. 2b)
O salmista vive uma sede de Deus, que é o desejo do encontro com ele. De tal modo experimenta esta sede que desde a aurora até à noite, isto é, durante toda a sua vida, ele pensa, medita e louva o Senhor, porque descobriu que “a vossa graça vale mais do que a vida”.
LEITURA II Forma longa 1Ts 4, 13-18
Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos defuntos, para não vos contristardes como os outros, que não têm esperança. Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, do mesmo modo, Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido. Eis o que temos para vos dizer, segundo uma palavra do Senhor: Nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor, não precederemos os que tiverem morrido. Ao sinal dado, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta divina, o próprio Senhor descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Em seguida, nós, os vivos, os que tivermos ficado, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos uns aos outros com estas palavras.
Paulo, falando aos cristãos de Tessalónica, recorda a esperança cristã na ressurreição. Insiste para que não se entristeçam como fazem os que não têm esperança e permaneçam atentos para poderem ir ao encontro do Senhor.
EVANGELHO Mt 25, 1-13
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora».
Sentindo a demora na vinda do Senhor, Mateus insiste com os discípulos de Jesus para aproveitarem o tempo de espera, a demora na chegada, preparando-se para o encontro, de modo que o Senhor, que vem como um ladrão em hora e dia que ninguém sabe, não os encontre a dormir.
Reflexão da Palavra
O texto da primeira leitura é tirado da segunda parte do livro da Sabedoria (6,1-9,18), onde o autor, um anónimo da primeira metade do século I a. C., que vive em ambiente cultural da antiga Grécia, provavelmente em Alexandria, escreve para os judeus incentivando-os a permanecerem fiéis ao Deus de seus pais e não caírem na tentação da idolatria. O autor faz, nesta segunda parte, o elogio da Sabedoria e revela como ela se pode adquirir. A Sabedoria, que por vezes se identifica com o próprio Deus e aqui se identifica com uma forma de viver, deve ser procurada pelo homem se quiser ser justo, não a procurar significa escolher ser ímpio. O texto deixa clara a possibilidade de encontrar a Sabedoria porque ela própria se deixa encontrar e sai ao encontro de quem a procura. Para a encontrar é necessário amá-la, procurá-la, desejá-la, buscá-la desde a aurora, não se cansar, meditar sobre ela, consagrar-lhe vigílias.
O salmo 63, uma oração de confiança, mostra-nos como ocupa o seu tempo aquele que procura o Senhor. O seu dia começa muito cedo “desde a aurora vos procuro” e termina tarde, pela noite dentro, “quando no leito vos recordo, passo a noite a pensar em vós”. O dia é passado na contemplação e no louvor que se configuram num banquete de “saborosos manjares” que sacia, em contraste com a sede de Deus que se experimenta desde a aurora. Chegado a experimentar a alegria da intimidade com Deus, o salmista vive a alegria, “levantarei as mãos” e “com vozes de júbilo vos louvarei”.
Tirado da segunda parte da carta de Paulo aos tessalonicenses, o texto da segunda leitura aponta para a realidade presente na perspetiva da vinda futura do Senhor. Paulo pede e exorta, no início do capítulo 4 da carta, para que progridam sempre mais na vontade de “caminhar e agradar a Deus”. Esta resposta há de verificar-se em todos os aspetos da vida cristã: no cumprimento dos preceitos, na santificação, no amor fraterno, viver em paz, no trabalho e no testemunho perante os de fora da comunidade, porque a vinda do Senhor está próxima.
Na comunidade de Tessalónica havia, no entanto, uma questão que precisava ser resolvida e tinha a ver com os mortos. Como é que eles podem aguardar, esperar e ir ao encontro de Cristo quando ele vier? Paulo, procura esclarecer a situação dos defuntos, chamando os crentes a uma atitude de esperança, bem diferente daqueles que se entristecem.
Vivos ou mortos, todos irão ao encontro de Cristo quando soar a trombeta, porque “Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido”. Vivos ou mortos “estaremos sempre com o Senhor”. É esta fé no poder de Deus que faz nascer a esperança no crente e o leva a viver em alegria.
No evangelho, depois das parábolas a convidar à vigilância, porque está eminente a chegada do Reino, Mateus apresenta, no início do capítulo 25, esta parábola sobre o Reino dos Céus. Dá-se uma mudança na perspetiva do evangelista, pois o Reino já não está eminente como em parábolas anteriores. Agora há um tempo de espera, uma demora que torna incerta a hora em que o esposo vai chegar “não sabeis o dia nem a hora”. Perante esta situação, já não é importante o dia e a hora mas a atitude de cada um, prudentes ou insensatos, durante o tempo de espera. Ou seja, Mateus, agora propõe uma espera ativa e disponível para aguardar a chegada do esposo e não uma espera passiva.
A parábola apresenta estas duas atitudes. Cinco virgens são prudentes, quer dizer, preparam-se no tempo de espera, para acompanhar o esposo quando ele chegar e as outras cinco são insensatas, julgam que o esposo não demora e ficam passivas, não se preparam para o acompanhar quando ele chegar e, na hora do encontro não têm azeite.
Esta insensatez traz consigo um atraso fatal que impede entrar no banquete. Encontrando a porta fechada já não adianta suplicar “Senhor, Senhor”, porque nem todo o que diz “Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt, 7,21). Claramente as virgens insensatas não fizeram a vontade de Deus.
Meditação da Palavra
O tema da procura e do encontro, que atravessa toda a liturgia da palavra deste domingo, tem no evangelho um ponto de convergência. O texto, situado na parte final do evangelho, aponta para uma dimensão escatológica, para o dia do encontro com o esposo. Dia e hora que ninguém conhece.
O esposo é Jesus e vem, como a Sabedoria retratada na primeira leitura, ao encontro dos homens. As virgens somos todos nós, prudentes ou insensatos, aguardamos a chegada de Jesus. O azeite simboliza a espera ativa e a falta dele a despreocupação total face ao encontro com o esposo. A noite representa a demora e faz sucumbir ao peso do sono os que esperam.
Esta parábola, contada por Jesus aos seus discípulos, pretende ensiná-los a viver o tempo de espera, sem desânimos nem cansaços e conscientes da demora. Aparentemente todos esperam, todos desejam encontrar-se com o esposo, todos foram com as suas lâmpadas esperar o senhor que vem, todas se deixaram dormir. Mas, na realidade, existe uma grande diferença entre os que esperam. Uns ocupam o tempo de espera preparando-se para acompanhar o esposo até ao banquete enquanto outros vivem um desejo que vai até à possibilidade de vê-lo, mas não prevê segui-lo mais além.
Na hora que menos esperam, “no meio da noite”, soa a “voz do arcanjo”, a “trombeta divina”, todos despertam, vivos e mortos, e revela-se o que distingue prudentes de insensatos. Percebe-se quem esperou de modo ativo, mantendo-se firme na procura, confirmando o amor e o desejo da sabedoria, mantendo-se em sentido de alerta, na escuta permanente e de pensamento vigilante. Estes são os que se encontram e são encontrados e seguem com o esposo para o banquete. Pelo contrário, aqueles que negligenciaram a sua espera e consideraram desnecessário manter viva a sede de Deus, esses, porque não têm azeite, porque vão à pressa comprá-lo à última hora, porque chegam atrasados, porque a porta fechou não entram e nem sequer são conhecidos. Terminadas as oportunidades de procurar não adianta clamar dizendo “Senhor, Senhor”, porque o importante é fazer “a vontade de meu Pai que está nos céus”.
Mateus alerta, assim, os discípulos de Jesus de todos os tempos, para a necessidade de mudar o comportamento diante da certeza da vinda do Senhor e da incerteza do dia e da hora.
A atitude prudente é a daquele que vive desde a aurora à procura do Senhor, o procura como quem tem sede, vive a espera no amor e no desejo do encontro, não se cansa de esperar, antes passa a noite a pensar naquele que o coração ama.
Que, à hora do “sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina”, seja na aurora do dia ou no meio da noite, sejamos encontrados em atitude de quem espera o Senhor que vem, para “sermos arrebatados”, “para irmos ao encontro do Senhor nos ares” e podermos estar “sempre com o Senhor”.
Rezar a Palavra
Senhor, ensina-me a amar a sabedoria, para gastar todas as forças da minha alma a desejá-la e a procurá-la, pelos caminhos da vida. Que o cansaço não me atraiçoe, nem a demora me faça desistir. Seja dia ou seja noite que o meu coração se mantenha firme no desejo de vos encontrar e que a sabedoria seja a luz que me ilumina. Tornai, Senhor, mais curto o caminho da busca e mais próximo o momento do encontro para não me deixar dormir no sono da insensatez.
Compromisso semanal
Desde a aurora até à noite procuro o Senhor, porque ele se deixa encontrar.