O mês de Novembro é, por tradição um mês mais voltado para a meditação sobre a vida e a morte porque o começamos sempre a celebrar a solenidade de Todos os Santos e depois a comemoração dos Fiéis Defuntos. Os sinais nos cemitérios e a afluência das pessoas a estes lugares e às diferentes celebrações não deixam ninguém indiferente. Somos todos confrontados com o fim da nossa existência terrena, que é consequência da nossa fragilidade e finitude. Dêem-se as voltas que se derem, a ciência não explica o sentido da vida nem o pós-morte.
Para as pessoas de fé, entretanto, estes momentos levam-nos a recordar que o Deus de Jesus Cristo é o Deus da vida, tanto da temporal, enquanto vivemos neste mundo, como da eterna. Quando Deus dá a vida é para sempre; não acaba com a morte; a vida terrena é apenas a antecâmara da eterna ou a primeira fase da mesma vida, porque a vida de Deus é um dom para a eternidade. A vida que Deus nos dá não é como uma pedra de açúcar que se desfaz no momento da morte; a vida é um dom tão extraordinário, que é eterna, ultrapassa o tempo e o espaço.

  1. Os sábios mal informados

– Depois da grande caminhada desde a Galileia, Jesus já se encontra em Jerusalém. E ali é onde o confronto com o nacionalismo e um certo fundamentalismo religiosos é mais inflamado… Desta vez são os sacerdotes, o grupo dos saduceus, famílias aristocráticas e politicas, abastadas e ricas, os senhores do Templo, que o interpelam sobre a interpretação de uma lei (ver Dt 25,5-10), a lei do levirato que estabelecia o casamento com a viúva do irmão para lhe dar descendência. Os saduceus seguiam esta lei à letra…
– O objectivo não era tanto procurar saber o sentido da lei mas, a partir dela, mostrar a sua falta de fé na ressurreição dos mortos…
– Certamente que eles já tinham ouvido falar de Jesus e da sua doutrina sobre a ressurreição, contrária às suas posições, e por isso lhe colocam uma questão aparentemente com base legal mas, ao mesmo tempo, absurda. O objectivo é, simplesmente, desacreditar Jesus…
– Na resposta, Jesus recorda-lhes a mesma Escritura e declara que eles não estão muito informados, não estão sintonizados com a vida porque se Deus é “o Deus de Abraão, de Isaac e Jacob” é um Deus de vivos porque para Ele todos estão vivos…

  1. “Não é um Deus de mortos, mas de vivos”

– Esta última frase do Evangelho diz tudo: Deus não é só amigo da vida, na generalidade, mas é amigo das pessoas vivas; dos patriarcas e de cada um de nós, na nossa vida concreta, com as nossas capacidades e limitações…
– As leituras de hoje, particularmente a do livro dos Macabeus, situam-nos num mundo com os seus limites e conflitos. Na época dos Macabeus havia conflitos políticos, guerras culturais e ideológicas, confrontos de poder que levaram a detenções, torturas, traições e assassinatos… (a guerra tem tudo isto em qualquer época da história…)
– Muitas vezes, é nestes contextos de perseguição e de luta que se descobre o grande amor de Deus, como nos recorda também a 2ª leitura; o “Deus dos vivos” é fiel e inspira confiança… “É Ele que nos ressuscitará” (1ª leitura). Se permanecermos fiéis a Deus, Ele não nos abandonará…

  1. Ressurreição e vida

– Jesus esclarece que a ressurreição não consiste num simples voltar à vida, num reviver, dar a oportunidade para viver mais uns anos e depois voltar a morrer… Era esta a base da questão dos saduceus…
– Jesus não fala de um “reviver” mas de um dom de Deus, infinitamente superior ao dom da vida na terra, de algo inimaginável mas real… Jesus fala do renascer de Deus e em Deus, de uma vida em plenitude que tem os seus começos aqui na terra…
– Toda a vida vem de Deus e subsiste no seu amor… Nós não morremos quando o coração pára; morremos quando deixarmos de amar… E como o amor de Deus é eterno, quem descobre o sentido da vida nesse amor também o conserva quando morre…
– O Deus da vida é o Deus do amor: ama-nos tanto que nos oferece a ressurreição… Para quem ama nunca se morre…
– Mas esta fé na ressurreição, em vez de nos separar deste mundo, deve levar-nos a um compromisso cada vez mais atento para viver com intensidade cada momento desta peregrinação, na fidelidade ao amor que nos é oferecido… Assim se demonstra que a fé na ressurreição não é uma ideologia, mas uma orientação de vida que brota do amor de Deus, da sua fidelidade: Ele é um Deus de vivos…