Com o aproximar do final do Ano Litúrgico, a Palavra de Deus situa-nos também no momento final. Jesus falou muitas vezes do final dos tempos, também com a imagem do banquete das núpcias, convidando a manter “as lâmpadas da fé acesas”, e com “os rins cingidos”, a vigiar “porque não sabemos o dia em que virá o Senhor” a estar preparados “porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensamos”…
A melhor forma de estar preparado é reconhecer que o amanhã será outro dia mas, igualmente, que todo o amanhã começa hoje. As lâmpadas, mesmo que sejam pequenas, sustentam e dão alento na vida, são sinal de esperança neste espaço de liberdade que o Deus que Jesus nos revela sempre nos deixa para podermos actuar com responsabilidade. E, neste ponto, cada um tem de responder por si, afirmando a sua autonomia, a sua liberdade e a sua responsabilidade.
- O banquete das bodas
– A parábola das dez virgens é própria de Mateus (não tem paralelo nos outros evangelhos)… Jesus usa a imagem de um casamento para mostrar a importância de estar preparado e vigilante…
– O casamento era uma cerimónia marcante na vida das pessoas daquele tempo. Os noivos viviam a semana das núpcias como se fossem “uns príncipes”. Era a semana mais importante da sua vida. Não saíam em lua-de-mel. Durante vários dias celebravam com os amigos mais próximos. Era por isso que o cortejo nupcial tinha de ser preparado para receber o noivo, que depois, ia ao encontro da noiva, em cortejo de festa… Ele, de facto, podia chegar a qualquer hora e era necessário estar preparado para o acompanhar…
– É este acontecimento que serve a Jesus para falar no encontro final com Ele: espera-nos uma grande festa mas, é preciso prepará-la…
– A parábola fala de dez virgens que se dispõem a ir ao encontro do esposo. Elas e o esposo são os protagonistas. Depois, aparece a diferenciação no grupo das virgens: cinco são prudentes porque se preveniram levando azeite; as outras cinco são insensatas porque não se acautelaram… O noivo, de facto, podia chegar a qualquer momento e havia que tomar as devidas precauções…
- Evitar ser surpreendido
– A situação descrita na parábola mexe connosco: quantas vezes ouvimos estas palavras duras, que calam no fundo de cada um: “lamento, já é demasiado tarde”. Que frustração e angústia produz este momento, sobretudo quando se trata da visita a um familiar ou amigo, que esperávamos encontrar num determinado lugar, com saúde e vivo, e já não está lá, encontra-se doente ou até morto!… E os remorsos que depois nos assaltam?!…
– Há certas coisas na vida que não podem esperar pelo último minuto… Com facilidade, às vezes, deixamos as coisas para mais tarde e, no final, já não há tempo, fomos ultrapassados…
– Esperar por acender a lâmpada só quando chega o esposo, contando que alguém nos empreste o azeite se ele vier a faltar, é comprometer toda a vida… A vida cristã não é para ser vivida apenas em determinadas ocasiões ou a esperar que “se tenha uma boa morte”…
– Nunca se está suficientemente preparado para o encontro definitivo com Cristo… E ninguém pode percorrer o caminho que é nosso… Neste itinerário, não servem as escusas; cada um tem de responder por si… Durante a noite não há ninguém a vender azeite… Pode acontecer que falhemos as oportunidades…
– Por isso, a pergunta é inevitável: quanto azeite é que temos de reserva?
- Procurar sempre Deus
– Tanto o Salmo como o livro da Sabedoria (1ª leitura) sublinham que se a nossa aspiração fundamental for a de estar sempre com Deus, não seremos surpreendidos com a sua vinda…
– Como a sabedoria, a graça de Deus antecipa-se à nossa procura, “está sentada à nossa porta”, vem ao nosso encontro ainda antes de nós irmos em busca dela…
– Sendo assim, a falta de azeite de que precisamos para manter a lâmpada da vida acesa, não será tanto uma condenação, mas é sobretudo a decepção de quem não soube acolher o amor por andar distraído, por responder com escusas sem importância, e não se ter preparado para o encontro com quem, seguramente, virá…