Há pão e vinho sobre a mesa

A mesa está posta. Foi escolhido um lugar alto, que pode ser avistado ao longe, amplo que pode comportar a todos. A mesa é suficientemente grande para que todos se possam sentar. Há comida em abundância, não vai faltar pão e vinho.

Faltam convidados, mas a sala enche-se.

Há pobres em número suficiente para fazer a festa e a alegria transborda mesmo quando a veste nupcial não parece ser a mais adequada.

LEITURA I  Is 25, 6-10a

Sobre este monte, o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Sobre este monte,  há de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo. Porque o Senhor falou. Dir-se-á naquele dia: «Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação; é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança. Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou. A mão do Senhor pousará sobre este monte».

Vivemos na expetativa de nos sentarmos à mesa de Deus, no Reino dos Céus. Isaías anuncia o dia em que mudará a sorte dos que vivem no luto, na opressão, em lágrimas. Esse dia vai chegar e será celebrado no cimo do monte do Senhor, num banquete de manjares suculentos e vinhos deliciosos, no qual todos poderão ver a Deus.

Salmo responsorial   Sl 22 (23), 1-3a.3b-4.5.6 (R. 6cd)

Jesus é o pastor que nos conduz e o anfitrião que nos acolhe na sua tenda. Ele transforma a nossa sorte com a vitória sobre a morte e revela a nossa grandeza, ungindo-nos com o óleo da alegria.

LEITURA II   Flp 4, 12-14.19-20

Irmãos: Sei viver na pobreza e sei viver na abundância. Em todo o tempo e em todas as circunstâncias, tenho aprendido a ter fartura e a passar fome, a viver desafogadamente e a padecer necessidade. Tudo posso n’Aquele que me conforta. No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição. O meu Deus proverá com abundância  a todas as vossas necessidades, segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus. Glória a Deus, nosso Pai, pelos séculos dos séculos. Amen.

Paulo recebeu dos filipenses apoio para as suas dificuldades, mas revela a sua liberdade face aos bens materiais. Para ele o bem que espera e no qual sente conforto é Cristo, o único de quem espera conforto nas tribulações.

EVANGELHO          Forma longa                     Mt 22, 1-14

Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos,  trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial. e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados,  mas poucos os escolhidos».

Os convidados do rei mostram desinteresse pelo convite que lhes foi feito para as núpcias do filho. O rei abre as portas do banquete para todos os que, convidados à última hora, aceitaram entrar na sala decididos a participar da sua alegria.

Reflexão da Palavra

Tirado da IV parte do primeiro livro de Isaías, conhecido como o Apocalipse de Isaías, o texto do banquete, relata o cumprimento da palavra do Senhor e da salvação dos homens. Destaca-se no texto a afirmação “porque o Senhor falou”, que revela o poder da palavra de Deus que atua como no princípio “Deus disse…” e tudo foi criado. Para depois afirmar “dir-se-á naquele dia” referindo-se aos que foram alvo da salvação de Deus. Todos reconhecerão que o Senhor é quem salva. Aqueles que antes não conseguiam ver, agora já veem. Antes, não viam porque estavam sob o “véu do luto”, debaixo do “pano que cobre as nações” e sob a ameaça da morte. Agora já veem porque o Senhor arrancou “o véu do luto, o pano que encobre as nações”, aniquilou a morte, enxugou as lágrimas e eliminou o opróbrio que pesava sobre o povo.

Salienta-se a universalidade da salvação, porque o Senhor prepara um banquete aberto a “todos os povos”, retira o luto a “todas as nações”, enxuga as lágrimas de “todas as faces”, elimina o opróbrio de “todas as nações”. Por isso o reconhecimento de Deus é também universal, pois o Senhor é “nosso Deus”, o Deus de todos e, por isso, todos são convidados à alegria e à festa.

A salvação de Deus é definitiva, não é passageira, como revela a abundância do banquete aberto a todos. Trata-se de “um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos”, não vai faltar comida, sinal de que a festa não vai acabar.

A ideia do banquete salvífico está presente também no salmo 22. O Deus que salva aparece na figura de um pastor que sabe escolher as melhores pastagens para o seu rebanho e sabe conduzir as suas ovelhas para as águas refrescantes e do anfitrião que prepara a mesa, enche a taça a transbordar e derrama sobre a cabeça, daqueles que ele salva, o óleo da alegria, revelando a vitória sobre o inimigo, a morte, que permanece à espreita.

Paulo, na carta aos filipenses, continuação do texto do domingo passado, agradece a generosidade, atenção e interesse daquela comunidade. Mas aproveita para centrar toda a sua vida e a dos filipenses, em Cristo. O importante não é a abundância de bens materiais, mas a abundância de Cristo “o meu Deus proverá com abundância… em Cristo Jesus”. É, por isso, que a Paulo não importa se vive na pobreza ou na abundância, importa encontrar força naquele que o conforta.

Continuando a dirigir-se aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, mas estando presentes também os discípulos e o povo, Jesus conta mais uma parábola. Desta vez desvia-se do tema da vinha, escolhe como personagem principal um rei que prepara as núpcias do seu filho, prepara um banquete e envia servos para avisar os convidados. A intenção da parábola é apresentar o Reino dos Céus.

A parábola está composta por duas partes. A primeira é preenchida pelo chamamento dos convidados para a festa e a segunda pela situação de um homem que se introduziu na sala do banquete sem a veste própria. Poderíamos ver aqui duas parábolas distintas, mas tal como as apresenta Mateus, numa só, estão no mesmo cenário das núpcias do filho do rei.

Na primeira parte, o rei, que prepara o banquete das núpcias do filho, faz três chamamentos. Os dois primeiros dirigem-se às mesmas pessoas, os previamente convidados que, na primeira vez manifestam não estar interessados em ir ao banquete e na segunda vez se ocupam com outros afazeres e há até quem trate mal e mate os enviados do rei. O terceiro convite é dirigido a outras pessoas, os que nunca seriam convidados, os que não esperam o convite e não estão preparados para a festa, mas, ainda assim, aceitam ir e enchem a sala do banquete. Estes últimos são “bons e maus”.

A segunda parte da parábola conta o diálogo do rei com um intruso que se apresentou sem traje nupcial e sobre quem vai recair uma pesada decisão.

Na parábola podemos identificar o rei como sendo Deus e Jesus o seu filho. Então, estamos a falar das bodas do Cordeiro. Trata-se de um banquete preparado antecipadamente e com os convites feitos e entregues a tempo de os convidados se poderem preparar para a festa.

Em qualquer momento, aquele que receber um convite, pode preparar-se e participar porque não há tempo a perder. O rei não desiste perante as manifestações de recusa, insiste no convite que é para todos não exclui ninguém. Só fica de fora quem se autoexcluir, resposta que será sempre incompreensível, perante a disponibilidade e interesse do rei.

O rei só não admite a agressão aos enviados. Para a recusa ao convite o rei tem misericórdia suficiente para não lhe impor um castigo, mas a morte dos seus servos vai contra o mandamento mais importante “não matarás”, como já tinha acontecido na parábola dos vinhateiros, e vão ser castigados.

Os encontrados nas encruzilhadas e nos caminhos fazem pensar nos amigos de Jesus, aqueles com quem ele come e bebe, os pecadores, publicanos e prostitutas. Já não importa quem vem, mas que a sala fique cheia. E é aqui que começa a segunda parte da parábola que centra a atenção sobre um homem que não tem veste nupcial. Mas, todos foram apanhados de surpresa. São todos pobres, famintos, doentes e pecadores, como podem ter veste nupcial?

Que falta a este homem, a quem o rei chama amigo, para que seja considerado sem traje nupcial? Parece que a única possibilidade é a comunhão com a alegria do rei partilhada por todos os presentes. Este homem entrou, mas não está na festa, vive só para si, vive dentro de si, não partilha das alegrias dos outros, não está em comunhão com o rei nem partilha da sua alegria. O seu único interesse é comer do banquete do rei, mas não fazer festa com ele e com os outros convidados, por isso, não pode permanecer ali, porque está a contaminar o ambiente como seu egoísmo.

Meditação da Palavra

Jesus continua a chamar-nos à conversão do coração. É fácil construir um coração que exclui os outros pelas suas diferenças ou pelas suas fragilidades. É fácil construir um mundo onde não cabem todos e onde atitudes contrárias às que entendemos como certas também não podem ter lugar. É fácil impor comportamentos aos outros mesmo que nós nem sempre nos ajustemos à medida que lhes impomos. Com a exclusão de pessoas, excluímos também a Deus, porque ele acolhe a todos. É tão fácil construir uma vida sem Deus, de tal modo que o seu convite para a festa se torna indiferente.

Jesus conta mais uma parábola às autoridades do seu tempo, príncipes dos sacerdotes, anciãos e fariseus, para os fazer pensar num Deus misericordioso que tem lugar na sua casa para todos e apenas aguarda o tempo propício para lhe dizermos sim, ao convite para o seu amor. De facto, somos muitos os que sentimos que o Senhor nos chama para o banquete, mas teimamos em recusar, encontrando sempre motivos, razões e desculpas para não aceitar. Muitos há que até se tornam agressivos perante a possibilidade do chamamento, insistência do Senhor e a inevitabilidade de aceitar o convite. Há homens e mulheres a quem Deus envia como mensageiros e que sofrem na pele a recusa daqueles a quem Deus convidou para entrar no seu banquete.

Na mesma parábola, Jesus, recorda que a sala do banquete vai encher-se, seja com uns ou com outros, com os convidados de lista ou com os convidados de última hora, os improváveis, mas o banquete do reino dos céus vai realizar-se e vai ser alegria para todos os que nele participarem.

Tal como na profecia de Isaías, o banquete de Jesus é para todos. Todos os povos, todas as nações, todos os que choram, todos os que vivem na tristeza e todos os que se sentem oprimidos. Deus liberta de todos os constrangimentos aqueles que aceitarem entrar na sua festa.

Há uma exigência para todos, a comunhão com o coração misericordioso do Pai. Que ninguém se escandalize porque o Pai perdoa a todos, mesmo aos que entendemos não terem ou não merecerem perdão.

Em todos, é sempre a abundância de Deus que preenche e ninguém encontra conforto em si mesmo. Para todos o conforto está no filho do Rei, Jesus. É nele, como diz Paulo, que tudo podemos.

É importante encontrar espaço para todos e também que ninguém se autoexclua do banquete por ter preenchido a sua vida com outras ocupações que impedem aceitar o convite de Deus. Há sempre um dia em que todos os impedimentos são removidos e nesse dia poderemos entrar na festa.

Na parábola Jesus alerta os que preenchem a suas vidas com preocupações deste mundo, o trabalho exagerado, a ocupação permanente, a inquietação constante, a agressividade e violência, a irritabilidade, que impedem reconhecer e valorizar o coração generoso do Senhor, o rei da parábola e do seu filho, Jesus.

Mas alerta também os que aceitam o convite e entram na sala do banquete, mas só pensam em si próprios. No banquete do rei todos se sentam, todos comem, mas todos são chamados a adquirir os sentimentos que encontram no coração do Senhor. A disponibilidade para servir os outros, a capacidade de partilhar, estar ao serviço de todos, preocupar-se para que não fique ninguém de fora, para que todos tenham acesso à comida, não excluir ninguém, satisfazer-se com o essencial, sentir a alegria de se dar, transformar o coração numa sala como a do rei que tem espaço todos. Numa palavra, construir um coração universal, é adquirir a veste própria, é revestir-se de Cristo e dos sentimentos que nele se podem encontrar.

Hoje somos nós os chamados ao monte do Senhor, para participar no banquete das núpcias do Cordeiro. Temos uma resposta para dar que não é feita de palavras, mas de atitudes que transforme a festa na verdadeira comunhão universal dos homens com Deus.

Rezar a Palavra

Senhor, a tua graça chega primeiro e liberta o meu coração do luto e os meus olhos das lágrimas. Torna leve a minha vida sobrecarregada com as preocupações e o peso das responsabilidades, que me fazem crer não ter tempo para a festa. Insiste comigo para que entenda que o teu convite é dom e não mais uma obrigação. Faz-me compreender que em ti encontro o descanso para a minha alma e o alimento que dá força para a luta. Ensina-me a disponibilidade para servir no banquete do reino que já está a acontecer nos gestos de entrega de tantos homens e mulheres, deste tempo em que sou chamado a viver a alegria da salvação.

Compromisso semanal

Quero participar no convite aos que estão mais longe e no serviço aos que já participam no banquete do reino, sem preconceitos, para que todos vivam a festa da salvação que vem de Jesus.