A imagem da vinha continua a ser apresentada como nos domingos anteriores mas, hoje, o registo é diferente. As três leituras (Is, Sl e Ev) servem-se desta imagem para falar das relações de Deus com o seu povo. Há pontos de contacto e também diferenças no modo como o tema da vinha é desenvolvido.

  1. Pontos de contacto e diferenças

– O Senhor (Deus) é o proprietário da vinha e esta vinha é, em primeiro lugar, o povo de Israel: “a vinha do Senhor é a casa de Israel” (Sl).
– É o Senhor que cuida da vinha: limpa, lavra, planta, constrói uma torre e um lagar, cerca-a com uma sebe… Cria todas as condições para que viesse a produzir boas uvas e dela tirasse resultados…
– Há produção… Mas, em Is, é má: só produziu agraços… No Ev. os vinhateiros a quem foi arrendada a vinha não se queixam da produção; parece até que deve ter sido boa porque querem apropriar-se da vinha e não pagar as percentagens do arrendamento… Por isso, eliminam todos os representantes do proprietário chegando até ao próprio filho…
– O resultado: Em Is, porque a vinha não produziu o que devia, é arrancada a vedação e transformada num terreno de passagem, num deserto onde só crescem silvas e espinheiros… No Ev, o proprietário decide punir os vinhateiros e arrendar a vinha a outros que lhe entreguem os frutos no devido tempo…
– O denominador comum é a questão dos frutos: não produzir, ou produzir mas não entregar os resultados…

  1. Consequências

– Jesus dirige-se aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, quer dizer, às autoridades religiosas do tempo…
– Historicamente, a parábola do Ev refere-se ao povo judeu, aos dons que recebeu de Deus e à falta de colaboração das autoridades religiosas, que acabam por rejeitar, no fim, o Filho de Deus… Mas o problema não se esgota no povo de Israel: estende-se para a Igreja, o novo povo de Deus…
– E, então, a questão continua: que frutos, esta vinha do Senhor produz? E dos que produz, que contas presta? Não haverá alguns sinais de emancipação e de isolamento que levam ao egoísmo e à apropriação indevida do que é obra de Deus? Com alguma provocação, até se pode perguntar: “se a Igreja é simplesmente arrendatária, que contas está a dar da sua exploração ao proprietário da vinha?… Não poderia também ser entregue a outros que entreguem os frutos no devido tempo?”…

  1. Colaborar em vez de hostilizar

– A fecundidade nasce sempre do que Deus faz connosco e não é obra exclusiva de ninguém… Deus entrega a vinha para que o homem colabore com a Sua obra e não para se apropriar dos bens de todos em benefício próprio…
– Quando alguém se considera dono e proprietário exclui os outros e procura eliminá-los porque podem constituir-se em obstáculo para as suas intenções de domínio…
– A situação de pandemia que continuamos a viver tem-nos despertado para esta realidade que também está presente na parábola do Evangelho: ninguém é dono de nada, ninguém está seguro, todos dependemos uns dos outros e temos de prestar contas… Quando se pensava que os outros podiam ser postos fora, estamos a ver que somos todos vulneráveis e frágeis, e que, apropriar-se dos frutos e da vinha, sem aceitar e promover a colaboração, só cria conflitos, inseguranças e incertezas maiores…