Na continuação do seu caminho para Jerusalém Jesus volta-se novamente para os discípulos e dá-lhes as instruções sobre os seus comportamentos em diferentes áreas da sua actividade. Uma delas, a que as leituras bíblicas se referem, e não apenas o Evangelho, é a responsabilidade no campo económico e social.
Todos sentimos os efeitos das oscilações da economia no campo social e a influência que o dinheiro exerce na vida das pessoas. O crescimento económico leva a considerar o dinheiro como o deus ao qual o ser humano tem que se submeter e a colocá-lo como um fim em lugar de meio ou instrumento para a realização da pessoa. Depois, quando somos surpreendidos pelas crises e a recessão económica parece que nos falta a capacidade de enfrentar a situação, sobretudo se nos dizem que temos de fazer algumas restrições e mudar de hábitos, precisamente porque colocamos os factores económicos acima de tudo.
- A denúncia das injustiças
– Já o profeta Amós, no séc VIII antes de Cristo, como outros profetas do seu tempo e posteriores, abordaram os problemas sociais e denunciaram, principalmente, o comportamento dos grandes proprietários no que se referia ao negócio dos seus produtos…
– Para o profeta, as acusações dirigidas aos ricos têm a sua razão de ser na ambição desmesurada do lucro que os leva a desrespeitar os dias santificados (sábados e festas), a falsificar as medidas e os pesos, a inflacionar os preços e a desprezar os pobres e os indigentes…
– Se a carta a Timóteo diz que Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, não significa que não estejamos atentos porque o pecado acompanha-nos sempre e é fruto da injustiça de uns contra os outros; e Deus não pode ficar indiferente à desgraça dos seus filhos que é provocada pela falta de solidariedade…
– Deus ama a todos, mas de todos exige a conversão do pecado e cada um tem de se converter daquilo que mais dano causa aos outros: há corrupção, consumo, ostentação de riqueza, violência familiar, fraudes no trabalho…
- O dinheiro é um meio e não um fim
– No Evangelho Jesus conta esta parábola, chamada “do administrador infiel”, que surpreende nalguns aspectos pela forma como aquele administrador se comporta. Mas, para interpretar as parábolas de Jesus não temos que atribuir a mesma importância a todos os pormenores… O sentido da parábola está no significado geral e não nesta ou naquela expressão…
– A parábola enaltece a sagacidade de um gerente que, perante uma situação difícil, soube actuar com perspicácia e sair airosamente da situação… E, segundo as palavras de Jesus, o cristão deve aprender isto…
– Jesus chama a atenção para a inteligência daquele administrador e elogia-o porque pensa no futuro. Apresenta a sua actuação como modelo de alguém que não olha apenas para o presente e para todos os dividendos que pode tirar de uma situação meramente pontual, prevenindo-se assim para enfrentar crises futuras como acontece também com o Reino de Deus. Quase que poderíamos parafrasear deste modo: “não poderíeis vós também ser assim espertos para procurar o Reino de Deus como este administrador para assegurar a sua vida?…”
– “Arranjai amigos com o vil dinheiro!” Causa estranheza ouvir isto de Jesus!… Mas o facto é que Ele também nos disse há dois domingos que, quando oferecêssemos um banquete, convidássemos aqueles que não podem pagar nem retribuir… Portanto, nesta perspectiva, é preferível gastar o dinheiro dando de comer a quem precisa do que amontoar no banco ou usá-lo só em benefício próprio…
– “Não se pode servir a Deus e ao dinheiro” – É outra das expressões chave desta parábola e a sua conclusão. E porquê? Porque o enriquecimento próprio a qualquer preço é contrário à construção de uma comunidade fraterna… E, depois, há tantos gastos que são autênticos insultos aos mais pobres e que manifestam falta de solidariedade para com os necessitados! Isto também é “servir o dinheiro”…
– Os bens materiais são importantes para a vida das pessoas, o dinheiro cruza-se connosco, ninguém o nega… O problema está quando, em vez de meio, de instrumental, ele se converte em fim…
– O seu poder de sedução e de corrupção é enorme e pode absorver o conjunto das nossas preocupações… Pode, pois, acontecer que, em vez de o considerarmos um meio humano para cumprir uma missão, o transformemos em obsessão, de tal modo, que somos levados a concluir que nada se faz sem dinheiro… E não é bem assim…
- O uso dos bens materiais
– O que Jesus nos pede, a partir da parábola, é que usemos os bens deste mundo com sabedoria, não nos deixando escravizar por eles… Temos a tendência de justificar tudo pela necessidade e é por esse lado mesmo que mais facilmente ficamos escravos… Os especuladores, os fraudulentos, os que emprestam dinheiro com juros elevados, o consumo e o luxo,… Até tudo isto pode ser justificado pela “necessidade do momento”…
– É por isso que o discernimento é essencial… E para decidir bem não se podem encobrir os pecados causados pelo dinheiro e pela avidez da riqueza…
– Os seguidores de Jesus devem usar os bens materiais com liberdade, não prejudicando ninguém, não sendo escravo deles, e servir-se deles para bens maiores…