Mistagogia da Palavra

Já dizia o salmo 23: “Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo inteiro e quantos nele habitam”(Sl 23,1). O homem é um peregrino, vive como estrangeiro num mundo que não é o seu. As pessoas não são donas, mas administradoras dos bens de Deus. Nas mãos de cada pessoa o Senhor coloca um tesouro. Que fazer para o administrar bem? A palavra de Deus neste domingo dá-nos a resposta.
Na 1ª leitura o profeta Amós censura, escandalizado, a avidez e as fraudes dos ricos do seu tempo. Por dois motivos o profeta se insurge contra este vergonhoso procedimento. Primeiro porque lhe não é estranha a condição humilhante dos pobres e trabalhadores, depois porque, sendo o povo judeu o eleito de Deus, é para o mundo pagão um contra-testemunho. Diante da exploração do pobre, o Senhor indigna-Se e pronuncia um juramento de arrepiar: “Nunca esquecerei nenhuma das suas obras”.
A 2ª leitura é da Primeira Carta de S. Paulo a Timóteo. O Apóstolo dá disposições relativas à oração nas comunidades cristãs. Esta oração é universal: é dirigida a Deus pelos bons e pelos maus, pelos amigos e pelos inimigos, pelos governantes e pelos governados. É o que fazemos na Oração Universal da Missa. Neste seu comportamento reflectem-se os comportamentos do Pai que está nos Céus, que “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”. O cristão não pode rezar com as mãos impuras, isto é, com as mãos que fazem mal aos irmãos.
No Evangelho, que é segundo S. Lucas, temos uma parábola sobre o uso dos bens deste mundo. O senhor incita-nos a apostar tudo nos amigos. O que Jesus quer dar a entender é que a única maneira esperta de utilizar os bens deste mundo é servir-se deles para ajudar os outros, para fazer com que se tornem nossos amigos. Serão depois eles a colherem-nos na vida. Jesus conclui o seu ensinamento afirmando que nenhum servo pode servir a dois senhores… a Deus e ao dinheiro. Um senhor (deus) dirá: “ Partilha os teus bens, ajuda os irmãos, perdoa a dívida ao pobre…” O outro (o dinheiro) dirá: “Pensa nos teus interesses, estuda a maneira de ganhar, de acumular dinheiro, guarda tudo para ti…” É impossível contentar os dois: ou se confia num ou se acredita cegamente no outro.

A Palavra do Evangelho


Diante da Palavra
Vinde Espírito Santo de Deus, dai-nos a sabedoria para sabermos administrar os bens que possuímos!

Evangelho segundo S. Lucas 16,1-13
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei-de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei-de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’.
O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’. Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro,
para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

Caros amigos e amigas, o Evangelho deste domingo convida-nos a repensar o modo como administramos os bens que Deus colocou à nossa disposição.

Interpelações da Palavra

“Um homem rico tinha um feitor…”

Ao criar o homem, Deus deu-lhe um conjunto de bens para ele usar. Nesta parábola, Jesus convida-nos a considerar a nossa relação com os bens que temos à nossa disposição. Na verdade, tudo o que possuímos foi-nos dado. Por isso, somos apenas administradores destes bens e não os seus donos. O primeiro bem é a própria vida, mas também as capacidades que nos caracterizam enquanto seres humanos: a inteligência, a vontade e a memória. Por outro lado, também os bens exteriores a nós, como por exemplo, a natureza e a cultura.  Como temos lidado com os bens que nos foram dados? Temos sido bons administradores? Ou agimos  como se fossemos os donos das coisas,  esquecendo que elas apenas nos foram emprestadas?


“Os filhos deste mundo são mais hábeis…” 

Embora Deus tenha criado o homem e lhe tenha dado um conjunto de bens para que ele pudesse viver, Deus deu-lhe também a liberdade para decidir como administrar estes bens.  Assim, os filhos deste mundo parecem ser mais hábeis do que os filhos da luz, no trato com as coisas e sobretudo com as pessoas, porque, tal como o esperto administrador compreendeu, é necessário saber quais as nossas verdadeiras prioridades. Neste caso, ele foi capaz de sacrificar o lucro que poderia obter, ao diminuir a dívida dos que deviam ao seu senhor, esperando que os que foram beneficiados, o pudessem ajudar quando ele precisasse. É verdade que este administrador foi interesseiro, mas ainda assim, ele deu prioridade ao valor da amizade em detrimento do dinheiro.  Por isso, poderemos perguntar: Quais são as prioridades da minha vida? 


 “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro…” 

De que modo deveremos então administrar os bens que Deus nos deu? Qual o critério que deve presidir às nossas decisões? Jesus diz-nos que o critério é a fidelidade a Deus, o que também depende da fidelidade nas pequenas coisas do dia a dia. Na verdade, por vezes, podemos ser tentados pela mania da grandeza, quando na realidade, não se trata de fazer grandes feitos, mas tudo o que fizermos deve ser bem feito.  Isto significa que as nossas decisões nascem das prioridades certas. Portanto, devemos usar os bens na exata medida em que eles nos ajudam a ser fiéis a Deus.

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, ajuda-nos a reconhecermos que tudo o que temos 
foi-nos dado e ensina-nos a sermos bons administradores 
das riquezas que nos deste. 
Dá-nos o dom da fidelidade nas pequenas coisas, como nas grandes, 
para sermos merecedores da Tua confiança!

Viver a Palavra
Nesta semana, repenso a minha fidelidade a Deus e de que modo tenho utilizado os bens que Deus me deu para a minha santificação.