A segurança de uma pertença

A quem pertenço? Por quem caminho? A quem sirvo? A quem me entrego? A quem confio o meu coração?
Pago um preço alto, demasiado elevado, para pertencer, para ser de alguém, para me reconhecerem. A Deus não se paga, não é com dinheiro que compro a pertença. Só o amor revela a imagem, a força, o poder e a segurança de uma pertença.
Quem não pertence a ninguém vive sem história, sem relação, vazio e sem futuro.

LEITURA I Is 45, 1.4-6

Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».

Ciro, rei da Pérsia, apesar de não conhecer o Senhor, é escolhido para realizar a libertação de Israel e promover a reconstrução da cidade santa de Jerusalém e o templo do Senhor. Deus pode agir através de um pagão. De nós Deus quer mais, quer que sejamos instrumentos do seu amor, conscientes de que não há outro Deus além do Senhor.

Salmo responsorial Sl 95 (96), l.3.4-5.7-8.9-10a.c (R. 7b)
O Senhor salva o seu povo, ele “é grande e digno de louvor”, não se compara com os deuses dos pagãos porque eles “não valem nada”. Foi o Senhor “quem fez os céus” e é ele quem “governa os povos com equidade”. É ele o verdadeiro rei a quem se submetem todos os reis da terra.

LEITURA II 1Ts 1, 1-5b

Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a atividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a ação do Espírito Santo.

Os tessalonicenses surpreenderam Paulo ao receber o evangelho com adesão total da fé, da caridade e da esperança. Paulo não esperava que em tão pouco tempo, quatro meses apenas, eles conseguissem entender o mistério de Jesus ao ponto de aderirem a ele com todas as suas forças. Por isso o apóstolo dá graças a Deus.

EVANGELHO Mt 22, 15-21

Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem Te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes aceção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-Me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário, e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Irritados com Jesus, as autoridades do templo procuram um motivo para o descredibilizar diante do povo e diante dos romanos. A questão dos impostos que se pagam a César é o tema escolhido para o apanharem em falso. Jesus, porém, reforça a ideia de independência entre o imposto pago a César e a pertença a Deus de todo o coração. Pagar o imposto não impede de amar e servir a Deus com toda a vida.

Reflexão da Palavra

Como pano de fundo da primeira leitura está a restauração de Israel, povo do Senhor, e a reconstrução da cidade de Jerusalém e do seu templo.

Ciro, rei da Pérsia, é escolhido pelo Senhor e investido de um poder que só era dado aos reis de Israel. Ele é chamado como os demais reis de Israel, o “ungido”, que significa “Messias”, “Cristo”, título dado especialmente a David e que pertence definitivamente a Jesus.

Escolhido para ser o libertador do povo e promover a reconstrução do templo e da cidade de Jerusalém, Ciro é investido, por uma escolha pessoal de Deus. O Senhor chama-o pelo nome, dá-lhe um título glorioso e concede-lhe a insígnia do poder. Tudo lhe é concedido apesar de ele não conhecer o Senhor “quando ainda não Me conhecias”, realidade que lhe é recordada por duas vezes.
Este benefício não é concedido a Ciro para proveito próprio, mas em favor do povo do Senhor “por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito” e para que o seu nome seja conhecido em toda a terra “para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém”.

Apesar de não conhecer o Senhor e de nunca assumir o Deus de Israel como o seu Deus, Ciro reconhece que só o Deus de Israel é Deus e dá-o a conhecer em toda a terra.

O salmo 96 surge como resposta à primeira leitura. A vitória do rei Ciro, favorecido para libertar Israel, é cantada como uma vitória do Senhor. É ao Senhor que se deve cantar e louvar, porque ele salvou, alcançou vitória sobre todos os reis e sobre todos os deuses da terra, que “não valem nada”, diz o salmo.

Neste louvor devem entrar todos, “toda a terra”, “todos os povos”, tudo o que existe no mar”, “todos os frutos”, “todas as árvores”, porque o Senhor se aproxima, porque “vem governar a terra” com justiça. Só os deuses dos pagãos é que não entram neste louvor, porque são ídolos e não Deus, “não valem nada”.

Paulo escreve esta carta aos Tessalonicenses, depois de ter recebido através de Timóteo notícias da vida cristã desta comunidade. Paulo estava preocupado porque tinha anunciado ali o evangelho apenas durante cerca de quatro meses. Temia que não tivessem perseverado no seu ensino. Porém, Timóteo traz boas notícias como se percebe nas primeiras linhas desta carta que fazem a segunda leitura.

De facto, Paulo elogia “a atividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo” e adianta que o evangelho não lhes foi anunciado apenas “com palavras, mas com obras poderosas, com a ação do Espírito Santo” e, foi pela ação divina que frutificou gerando uma comunidade de crentes conscientes de terem sido escolhidos.

Esta consciência está bem patente na afirmação de Paulo sobre a fé, a caridade e a esperança dos tessalonicenses. Trata-se de uma fé ativa – sem desânimo; uma caridade com esforço – sem cansaço; uma esperança firme – sem desalento.

Jesus confrontou as autoridades do templo com três parábolas sobre o Reino do Céu. A parábola dos dois filhos convidados a trabalhar na vinha, a dos vinhateiros homicidas e a do banquete nupcial. O conteúdo das parábolas e as conclusões de Jesus feriram o orgulho dos príncipes dos sacerdotes, anciãos e fariseus. Melindrados passam ao ataque “reuniram-se para deliberar”. Depois passam ao ataque, não diretamente, mas através dos seus discípulos “enviaram-lhe alguns dos seus discípulos”.

Esta informação serve a Mateus de passagem para a cena seguinte. A cena começa com a intervenção dos discípulos dos fariseus e os herodianos. Eles questionam Jesus sobre a licitude de pagar o imposto a César, mas não sem primeiro tecer um elogio sobre a sua coerência diante da verdade. De seguida, Jesus desmascara a hipocrisia dos enviados e só depois responde à pergunta fazendo com eles uma demonstração prática que termina com uma pergunta aos que o questionaram. Finalmente a conclusão.

Está em jogo o pagamento dos impostos a Roma, conseguir apanhar Jesus numa armadilha e livrar-se da sua influência junto do povo. A questão dos impostos era motivo de conversa entre os judeus porque não estavam contentes com a situação. Como povo de Deus é a ele que devem pagar impostos e não podem submeter-se a outro poder que não seja o divino. No entanto, permanecia a obrigação política de o fazer.

De que lado está Jesus? Do lado dos que apenas se submetem a Deus ou do lado dos que se tornaram súbditos do imperador?
Jesus desmascara a hipocrisia dos enviados, pois, o interesse deles não era saber se deviam ou não pagar o imposto a César, mas armar-lhe uma cilada.

A resposta de Jesus parte da verificação da moeda na qual está impressa a esfinge do imperador. Perante a moeda a conclusão é mais fácil, pois pertence a César e não a Deus. Mas se existe a imposição de pagar imposto a César também existe a obrigação de dar a Deus o que pertence a Deus e não é uma moeda.

Meditação da Palavra

Indispostos com Jesus, porque os acusou de serem filhos de Deus sem palavra porque dizem “sim” a mas não cumprem como era de esperar, porque os acusou de quererem apoderar-se do Reino do Céu e porque não se alegraram com o Senhor participando nas núpcias do seu filho, as autoridades do templo querem condenar Jesus apanhando-o em falso com alguma palavra.

Servem-se de um tema política de contornos religiosos para questionar Jesus: “é lícito ou não pagar tributo a César?”. Entendendo-se como súbditos de Deus, porque são o seu povo, e não de César, os israelitas não querem pagar impostos a Roma, mas sim fazer a vontade de Deus que está acima de César. Negar-se a pagar impostos é estar contra César, afirmar o pagamento de impostos a Roma é não estar do lado do povo. Jesus fica numa situação complicada.

A primeira atitude de Jesus é desmascarar os adversários. Eles não estão preocupados nem em fazer a vontade de Deus nem com o povo que paga impostos. Eles querem apanhar Jesus numa armadilha que o deixe ficar mal, para o poderem acusar e retirar-lhe o crédito que tem pela coerência da sua vida. De facto, Jesus, é “sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes aceção de pessoas”.

A resposta de Jesus não é à pergunta, mas à atitude interior de quem pergunta “porque me tentais, hipócritas?”. Só depois, começa a encenar uma resposta que terão que ser eles a indiciar através de um exercício prático, “mostrai-me a moeda do tributo”. A moeda tem cunhada a imagem do imperador Tibério e Jesus questiona-os: “De quem é esta imagem e esta inscrição?”, para concluir o inevitável: “dai a César o que é de César” que é sempre o mais fácil. Pagar imposto a César não implica dar-lhe a vida, corresponder afetivamente a uma amizade, vassalagem ou compromisso de vida e de fé com o imperador. No pagamento dos impostos o coração fica de fora, não entra no imposto.

Por isso Jesus acrescenta, “e [dai] a Deus o que é de Deus”. Fazer a vontade de Deus não é alternativa a pagar imposto, como se quem está com César não pudesse estar com Deus. Pode ser-se súbdito de César e pagar-lhe impostos e servir com toda a vida, todo o coração, com todas as forças, com toda a inteligência, com toda a alma a Deus, único Senhor.

Ao serviço de Deus estão todos os homens, também o imperador. Prova disso é Ciro, que sendo pagão, foi escolhido por Deus para instrumento de libertação do seu povo e para reconstruir a cidade santa e o seu templo, lugar onde Deus habita no meio do seu povo.

Na relação com Deus, o que conta em primeiro lugar não é o exterior, mas o interior. O amor a Deus não está assente numa troca de bens materiais, mas no bem supremo de uma relação filial, à imagem da relação de Cristo, o filho, com o Pai. A entrega mútua do Pai e de cada um de nós, numa correspondência total que implica a vida toda e toda a vida.

A César entregamos uma moeda, um denário, onde está impressa a sua imagem. A Deus não se compra, a Deus pertence-se com o coração porque nele está impressa a sua imagem. Deus quer o que é seu, quer-me a mim, por isso, não posso pertencer a outro senão a ele.

Foi esta a atitude dos cristãos de Tessalónica. Apesar de terem sido evangelizados, por Paulo, durante apenas escassos quatro meses, eles entenderam que a proposta do evangelho era dar tudo, uma fé ativa, uma caridade dedicada e uma esperança firme. Se é verdade que, no anúncio do evangelho, está presente a palavra e a ação do apóstolo, também é verdade que a adesão não foi uma questão exterior, de parecer bem, mas interior que implicou, de forma eficaz, a entrega de toda a vida. Por isso, o apóstolo dá graças a Deus por eles e reconhece que são a Igreja “que está em Deus e no Senhor Jesus Cristo”.

É verdade que Deus pode despertar num pagão a capacidade de fazer o bem, mas também é verdade que de nós Deus espera mais, espera o bem animado pela fé, pela caridade e pela esperança.

Rezar a Palavra

Marcado no mais íntimo de mim mesmo com a tua imagem, Senhor, eu pertenço-te. No evangelho recebido tornei-me filho. Na fé, na esperança e na caridade sou discípulo, escolhido, ungido, para levar a salvação ao teu povo, para libertar os oprimidos da opressão dos poderosos. Faz de mim um instrumento do teu amor para que o teu nome seja conhecido em todas as nações.

Compromisso semanal

Quero reconhecer que Deus está presente em todos os homens, mesmo naqueles que não o conhecem e não creem nele, para com eles fazer chegar a salvação a todas as nações.