Na sequência dos domingos anteriores, a pergunta que hoje nos é colocada é esta: conservaremos e aumentaremos o dom da fé sem o recurso à oração? A oração é um dos elementos essenciais da vida cristã. Quando se aprende a rezar desde pequeno, em família, e se vão marcando os tempos e os lugares através da nossa relação com Deus, a nossa vida vai adquirindo um ritmo que pode e deve influenciar todas as nossas vivências.
O texto do Evangelho começa por dizer que é necessário rezar sempre, sem desfalecer, e termina com uma pergunta: quando vier o Filho do Homem, encontrará porventura a fé sobre a terra? As mães cristãs aconselham a rezar todos os dias e rezam com os seus filhos. Ainda bem porque Deus escuta sempre, mesmo que as circunstâncias do mundo digam outra coisa.
Com frequência nos assalta a dúvida: será que Deus me escuta? Será que me concede aquilo que eu peço? Neste ponto, a palavra de Deus não pode ser mais taxativa: “pedi e ser-vos-á dado, procurai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á; pois todo o que pede recebe, o que procura encontra, e ao que bate abrir-se-á” (Lc 11,9-10).
- A oração faz parte da nossa identidade
– A oração não é um acto meramente individual. Mesmo que grande parte das nossas orações sejam feitas por cada um, por vezes recolhidos no quarto, a oração tem sempre reflexos comunitários…
– Até certo ponto, é isto que mostra a narração do livro do Êxodo: quando Moisés tem as mãos levantadas para o céu, a coesão do grupo é muito maior e os efeitos fazem-se sentir… Os braços abertos são o sinal da persistência, da constância, da fé e da esperança que animam reciprocamente os membros do grupo…
– A força interior que nos impele a rezar é a do Espírito Santo… Jesus diz que “o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que lho pedem” (Lc 11,13). Todos, como templos do Espírito Santo, somos movidos por essa força que nos faz rezar e não por uma obrigação qualquer exterior… Rezamos porque somos filhos de Deus e falamos com Ele como Pai…
– Quando rezamos recebemos graças e mostramos reconhecimento … Mesmo aqueles dons que recebemos dos outros são motivo de oração a Deus… A fé em Jesus Cristo faz-nos encarar a vida como uma corrente contínua de graças que nos permite caminhar na liberdade, na fidelidade e no amor…
- Resistir com a Palavra de Deus e a oração
– A Liturgia da Palavra deste Domingo leva-nos a admitir que vale a pena manter-se firme, aguentar e resistir… Apesar dos nossos braços se cansarem (veja-se a 1ª leitura), quando acreditamos que a obra é de Deus e não apenas nossa, há sempre um apoio que nos permite continuar…
– Aquele bastão de Moisés não é nenhum objecto mágico… É, tão só, o sinal da presença de Deus na vida dos seus fiéis, que permite acreditar na vitória…
– Às vezes nós pactuamos com outras forças, com outros deuses: baixamos os braços, perdemos as forças, o desânimo apodera-se de nós… É nesses momentos que devemos lembrar sempre as palavras de Paulo a Timóteo: “Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo… As Sagradas Escrituras podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. A Sagrada Escritura é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça”…
– Quem fala assim é porque encontrou sempre muito apoio nesta palavra viva e eficaz…
– Numa cultura da comunicação nós escutamos muitas palavras… Mas, a maior parte delas são vazias e sem sentido, não ensinam, nem corrigem… Só a Palavra de Deus nos pode conduzir a uma vida plena e com sentido para todos…
– O Evangelho convida-nos a uma oração insistente, sem desfalecer, para nos irmos conformando com a vontade de Deus…
– A comparação de Jesus é muito ousada: um juiz iníquo poderá ser imagem do Pai?… Porém, esta mesma imagem serve para reforçar o que Deus faz connosco: se um juiz, que é iníquo é capaz de proceder assim, quanto mais Deus, que não é um juiz injusto, mas um Pai Misericordioso?!…
– O caminho para entrar em contacto com este Pai bondoso é o da leitura e meditação da Palavra de Deus e a atitude é a da oração constante que nos faz descobrir a confiança absoluta no Deus de Jesus, nosso Pai…
- Interioridade, relação e compromisso
– A oração exige silêncio interior e, ao mesmo tempo, manifestação de amor para com os outros… É importante a concentração pessoal e o saber tirar as consequências devidas no contacto com os outros… A oração não é nenhum refúgio de pessoas isoladas e deprimidas. Primeiro que tudo escuta-se e depois é que se pede…
– O caso narrado no Evangelho, daquela viúva que exige ao juiz corrupto, injusto e arbitrário “que faça justiça contra o seu adversário”, que não pede vingança nem violência contra ele, mas apenas que se faça justiça, demonstra que a persistência na oração produz resultados… Como diz Paulo a Timóteo, a proclamação da palavra exige muitas vezes que se faça “a propósito e fora de propósito”, quer dizer, sempre, sem descanso…
– Quando a oração leva ao compromisso com os outros, quando os sentimentos interiores se manifestam para construir a paz, a justiça e o amor, então haverá resultados, as preces são atendidas…