A pergunta sobre Jesus tem acompanhado todas as gerações ao longo dos tempos. As respostas que são dadas também se enquadram no contexto histórico e nasinquietações e aspirações que as pessoas revelem. Para uma criança, a imagem de Jesus pode ser a do Menino nascido no presépio; para os jovens, Jesus é o representante de um determinado estilo de vida; para as pessoas mais velhas, pode ser a garantia da ressurreição e da vida eterna; para quem sofre de alguma doença, Jesus é aquele que pode curar; para aquele que está envolvido em causas revolucionárias, Jesus é um agitador social; para os presos, é aquele que pode dar a liberdade; para o pobre, representa a abundância de bens e a esperança de uma vida melhor… As respostas são sempre variadas e dependem da situação das pessoas e das circunstâncias históricas.

​Quando Jesus faz a pergunta aos seus discípulos não é para avaliar a sua popularidade ou a opinião das pessoas. Jesus dirige a pergunta directamente aos seus discípulos para perceber o grau de fé que eles já são capazes de manifestar, depois de já terem acompanhado Jesus e de terem visto algumas das suas obras.

1. A pergunta no Evangelho de Marcos

– O episódio narrado no Evangelho de Marcos situa-se no centro do Evangelho e representa um ponto de viragem na compreensão da pessoa de Jesus… Até àquele momento Jesus tinha mantido, e até obrigado a um certo silêncio quando os demónios diziam que Ele era o Filho de Deus…

– O Evangelho refere que os homens se interrogavam mas, ainda não se tinha ouvido uma resposta explícita sobre a identidade de Jesus…

– A questão da identidade de Jesus era um assunto importante para os seus primeiros seguidores: Jesus seria mais um profeta na tradição histórica desde Elias até João Baptista, ou seria alguém diferente? Seria o Messias esperado? E como é que isso é compatível com os acontecimentos da sua morte e ressurreição?

– As primeiras comunidades cristãs encontraram elementos de resposta em textos como o de Isaías que aparece hoje na 1ª leitura: neles fala-se de um servo sofredor que veio trazer a paz, a justiça e a bênção… E este servo era o ungido de Deus, o Messias…

– A questão era difícil porque os judeus tinham rejeitado Jesus e tinham-no crucificado… E a cruz era um escândalo para os judeus e loucura para os gregos… 

2. As respostas e as opiniões

– Claramente, quando Jesus faz a pergunta aos seus discípulos, não é a identidade humana e psicológica que está em causa, mas “a identidade teológica”: qual a imagem de Deus que se descobre em Jesus Cristo? Ou, de outra maneira: através do que Jesus diz e faz somos capazes de dizer que Ele é o Messias, o Filho de Deus? A pergunta tem mais sentido ainda quando sabemos que, no Evangelho, Jesus não se põe a dizer: “eu sou isto ou aquilo, faço desta ou daquela maneira…” Jesus deixa sempre o espaço às pessoas para que sejam elas a decidir…

– As respostas que os discípulos dão demonstram que Jesus tem uma boa imagem: referem personagens importantes do passado que abonam em seu favor…

– Mas não se trata de opiniões… Trata-se é de conversão… Porque o próprio título dado por Pedro a Jesus, que é adequado, precisava de ser purificado…

– Não basta falar de Jesus como “um reformador”, “um revolucionário religioso ou sócio-politico” (este título já não terá o impacto que tinha há cinquenta ou sessenta anos, mas ainda pode dar jeito para algumas situações do momento!) “um moralista”, “um místico”…

– A questão nem sequer está tanto em nomes ou títulos… Certamente que hoje sabemos mais de Jesus e por isso nem sequer convém reduzi-lo a um nome bonito…

– A questão principal é que a identidade de Jesus nunca se pode expressar correctamente se não estivermos dispostos a um encontro pessoal com Ele procurando adoptar o seu estilo de vida… 

– O diálogo que se segue à confissão de Pedro é uma exigência de vida e não tanto uma questão de palavras… Tem que haver entrega e cruz, morte e ressurreição… Só seguindo Jesus por este caminho é que se pode entender a sua pessoa e o que significa o Reino de Deus e a sua justiça…

3. Actualidade da pergunta sobre Jesus

– Esta questão não afectou só as primeiras comunidades: afecta-nos a nós, hoje, porque a pergunta é feita para nós: “e vós, quem dizeis que eu sou?” A resposta é fácil de dar numa sociedade dita cristã, onde todos professam o credo: “Jesus Cristo, filho unigénito de Deus, Deus verdadeiro que desceu dos céus, encarnou, foi crucificado e morreu, mas ressuscitou e está sentado à direita do Pai; há-de vir de novo a julgar os vivos e os mortos…” Mas a sociedade em que vivemos já não é cristã… é secularizada e plural, e as palavras já não têm a força nem suscitam a adesão de outros tempos…

– A pergunta sobre a identidade de Jesus continua e pode ser aperfeiçoada: já não é sóresponder com palavras bonitas à pergunta “quem é Jesus para mim? Ou para ti?” É, sobretudo, interrogar-se sobre “que Jesus é que eu anuncio às pessoas que estão à minha volta?” Cada um comunica a fé que tem mas, ao mesmo tempo, também é verdade que tem a fé que é capaz de comunicar… Então: que Jesus é que eu dou a conhecer pelas minhas palavras e pelas minhas obras?