No Domingo passado foi-nos dito, através das leituras escutadas, que a missão profética encontra muitos obstáculos e oposições. Mas aqueles a quem essa missão for confiada, deverão entregar-se ao seu ministério, mesmo com o risco da própria vida. Hoje, a Liturgia chama-nos a atenção para a responsabilidade de quem se acobarda e deixa de cumprir os seus deveres.
1• O texto de Ezequiel aponta claramente para as obrigações daqueles que têm por missão denunciar o mal e não o fazem, seja por medo, cobardia ou qualquer outra razão. E diz claramente ao Profeta: «Quando ouvires uma palavra da minha boca, hás-de avisá-los». Se não os avisares, pedir-te-ei contas; se os avisares, terás a tua vida salva. Nota-se, nestas palavras, que a denúncia dos erros e do pecado faz parte da profecia que, sendo essencialmente anúncio, é também denúncia do que se opõe à mensagem de Deus.
Vale a pena, a esta luz, interiorizar o que nos diz o texto do Evangelho deste dia.
2• De facto, o texto de São Mateus, agora proclamado, trata não tanto da missão profética dos encarregados das comunidades, mas da obrigação que todos temos, como membros da Igreja e irmãos uns dos outros, de ajudar os nossos irmãos a viver cada vez mais segundo os desígnios de Deus, e isso pode ter de passar, em certas circunstâncias, por aquilo que poderíamos classificar de correcção fraterna ou promoção fraterna, como preferirmos.
Neste texto, Jesus estabelece uma regra e uma ordem nas nossas intervenções de ajuda fraterna. Começa por nos dizer qual é o primeiro passo a dar: chamar a atenção do irmão frente a frente, com caridade. Se este simples passo de verdade, amizade e sinceridade resultar, está ganho um irmão. Caso isso não aconteça, deve dar-se um segundo passo: pedir ajuda a outros que possam ter maior jeito e aceitação junto do interlocutor para lhe chamar a atenção; se ainda assim não der resultado, peça-se a ajuda da comunidade. No caso de ele não ouvir a comunidade, seja tido como um pagão, não no sentido de o abandonar ou desistir, mas no sentido de intensificar ainda mais o esforço do anúncio, da estima e da oração, para que esse irmão possa corrigir-se e ser totalmente integrado na comunidade cristã. O texto termina muito bem lembrando-nos a força da oração e da ação de Cristo: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles».
3• A carta de São Paulo aos Romanos fornece-nos a verdadeira chave de leitura de tudo isto, quando diz: «Não tenhais qualquer dívida a ninguém, a não ser a de amar-vos uns aos outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a Lei». A promoção ou correção fraterna só é válida e frutuosa se for motivada por uma autêntica caridade fraterna.
LEITURA I Ez 33, 7-9
Leitura da Profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor:
«Filho do homem,
coloquei-te como sentinela na casa de Israel.
Quando ouvires a palavra da minha boca,
deves avisá-los da minha parte.
Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás de morrer’,
e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho,
o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade,
mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte.
Se tu, porém, avisares o ímpio,
para que se converta do seu caminho,
e ele não se converter,
morrerá nos seus pecados,
mas tu salvarás a tua vida».
Palavra do Senhor.
LEITURA II Rm 13, 8-10
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Não devais a ninguém coisa alguma,
a não ser o amor de uns para com os outros,
pois, quem ama o próximo, cumpre a lei.
De facto, os mandamentos que dizem:
«Não cometerás adultério, não matarás,
não furtarás, não cobiçarás»,
e todos os outros mandamentos,
resumem-se nestas palavras:
«Amarás ao próximo como a ti mesmo».
A caridade não faz mal ao próximo.
A caridade é o pleno cumprimento da lei.
Palavra do Senhor.
EVANGELHO Mt 18, 15-20
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Se o teu irmão te ofender,
vai ter com ele e repreende-o a sós.
Se te escutar, terás ganhado o teu irmão.
Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas,
para que toda a questão fique resolvida
pela palavra de duas ou três testemunhas.
Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja;
e se também não der ouvidos à Igreja,
considera-o como um pagão ou um publicano.
Em verdade vos digo:
Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu;
e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu.
Digo-vos ainda:
Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa,
ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus.
Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome,
Eu estou no meio deles».
Palavra da salvação.