Jesus continua o seu caminho para Jerusalém e há uma grande multidão que o segue. Ele vai dando instruções aos que vão com Ele e aos que encontra pelo caminho e o interrogam dizendo que a porta é estreita, que não se devem procurar os primeiros lugares nem ambicionar protagonismos, que se devem convidar para o banquete aqueles que não têm com que pagar nem retribuem (dois Domingos anteriores).
Nesta sequência, o Evangelho de hoje diz-nos que é preciso fazer opções. Não se pode andar com Jesus sem tomar uma decisão. Mais ainda: seguir Jesus exige cortar com a vida anterior, com a família e com o que se fazia antes em benefício próprio, carregar a cruz, renunciar aos próprios interesses e fixar-se na escolha que se faz. Hoje, as pessoas mostram alguma dificuldade em tomar decisões: por um lado, são muito calculistas; por outro, deixam-se arrastar facilmente por propostas que parecem aliciantes, consomem o que lhes é oferecido, por vezes sem terem necessidade de o procurar, e tardam em marcar a sua posição (se é que alguma vez assumem a sua responsabilidade!). O resultado é uma sociedade que vai a reboque dos que têm capacidade de influenciar, dos que se movimentem nos meandros do poder e detêm os meios que esta mesma sociedade lhe permite usar para alcançar os seus fins.
1. É necessário fazer opções
– A vida, seja em que fase for, comporta sempre fazer escolhas… Um grande motivo de realização da pessoa é fazer as escolhas acertadas no momento adequado. Vivemos no meio de muitas encruzilhadas, os tempos que vivemos apresentam-nos muitos desafios e, se não somos críticos, se não formos capazes de pensar e discernir, somos levados automaticamente para onde não queremos e nunca sabemos onde vamos parar…
– A tendência mais generalizada é fazer o que os outros fazem, aquilo que está na moda, seguir o que é politicamente correto, conformar-se com a oferta mais barata e mais cómoda, ir atrás do último produto publicitado… Quem assim procede pode comparar-se aos medíocres, àqueles que têm “pensamentos inseguros e conceitos frágeis”, como diz o livro da Sabedoria (primeira leitura).
– É preciso optar e, qualquer opção implica rupturas e novas exigências… Jesus até fala do “tomar a cruz para O seguir”… Mas, esta cruz de que Jesus fala é, precisamente, uma opção que, apesar do paradoxo, até liberta quem a queira pôr aos ombros…
2. Seguir Jesus
– Ser cristão é fazer o caminho com Jesus. O Evangelho diz que, no caminho para Jerusalém os discípulos o acompanham. Contudo, será que eles estão conscientes do que significa “caminhar com Jesus”?
– Jesus apresenta uns critérios para o seu seguimento: renunciar aos vínculos afectivos com a família, aos próprios interesses e aos bens materiais… Com radicalidade, Jesus fala em renunciar e até em “odiar”… Que quer dizer com isto?
– Do que se trata, sem dúvida, é de estabelecer prioridades… Quando se confrontam a família, a vida e a riqueza, que são realidades positivas, com Jesus, qual é que se escolhe? Jesus diz que Ele deve estar em primeiro lugar, deve preferir-se… E este é um exercício que deve ser feito com muita ponderação, sem se precipitar e sem criar conflitos…
– Se Jesus fala em termos de “ódio” (porque a mentalidade semítica se exprime por oposições) é para sublinhar que todas as energias devem estar voltadas para Ele e para o Seu Reino: quando isto se faz, a família, os bens e o amor-próprio, encontrarão o seu lugar adequado…
– Seguir Jesus implica abandonar a afeição exagerada à família, aos bens materiais e ao próprio interesse, com fidelidade e confiança…
– Exteriormente até pode parecer que as coisas não mudam assim imediatamente com tal radicalidade. Paulo, na carta a Filémon (segunda leitura) solicita a compreensão da nova realidade ao seu destinatário a quem Onésimo servia como escravo: do ponto de vista social, Filémon e Onésimo, continuarão a ser o senhor e o escravo; mas, a sua relação muda totalmente a partir do momento em que assumem a fraternidade em Jesus Cristo e deixam de viver para satisfazer os seus próprios interesses ou para a acumulação de bens…
3. Parar e pensar
– Depois, Jesus apela à prudência e à sensatez: ser cristão é algo muito sério e é preciso, por isso, avaliar bem as possibilidades de prosseguir o caminho… A comparação com o homem que decide construir uma torre e com o rei que parte para a guerra, evidencia a necessidade de ser ponderado e sensato… Seguir Jesus pelo caminho da radicalidade não significa aventureirismos ou exibicionismos…
– Assumir os critérios de Jesus é tudo o contrário de uma via intermédia que, com frequência, nós estabelecemos: aquela que justifica a mediocridade e que coloca o nosso estilo acima de tudo e de todos… Por este caminho não vamos com Jesus…
– Em cada momento é preciso sentar-se e pensar… Se andamos constantemente stressados e acelerados, se não criamos espaços para pensar, continuaremos a viver como os outros vivem, crentes e não crentes, sem nunca tomar uma decisão pessoal… O mais urgente passa por ser capaz de “se sentar e pensar” para saber como é que cada um está a seguir Jesus…