O Evangelho deste Domingo faz parte do ‘discurso eclesial’ do Evangelho de S. Mateus. O texto está dirigido aos membros de uma comunidade onde parece haver problemas (e onde é que os não há?): divisões entre grupos, problemas de convivência… O início do capítulo 18 exorta a prestar especial atenção aos mais pequenos e a ter um coração sempre disposto a perdoar. As palavras de Jesus são a resposta à pergunta dos discípulos sobre quem seria o maior?! É aí que Jesus os convida ”a tornar-se pequeno como as crianças” e a respeitar os outros evitando os escândalos.
O problema era, de facto, a convivência e o perdão na comunidade. Depois de recordar a parábola da ovelha perdida, o evangelista apresenta casos práticos de reconciliação na comunidade.

  1. Frente ao individualismo, a responsabilidade comum

– A forma como o texto de hoje termina dá-nos a chave de interpretação de todo o conjunto: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. E faz-se referência explícita à oração em comum que o Pai escuta… Não são orações individuais, mas orações que brotam da fraternidade…
– Isto significa que todo e qualquer processo de perdão tem que ter em conta a pertença à comunidade e é na comunidade que a reconciliação acontece… As três fases apontadas pelo evangelista desembocam na comunidade: se houve ofensa, primeiro vai ter com o teu irmão; se não te der ouvidos, chama duas ou três testemunhas; se, mesmo assim, o caso não ficar resolvido, comunica-o à Igreja, quer dizer, à comunidade… Todos estes passos confluem na responsabilidade comum: à proposta do amor e da convivência pacífica, logo no princípio, o homem quis afirmar a sua independência: “porventura sou eu o guarda do meu irmão?” Pois bem: a prática da Igreja, seguindo os ensinamentos bíblicos (veja-se a primeira leitura de Ezequiel) e de Jesus, vem dizer o contrário: todos somos responsáveis…
– Face ao individualismo reinante na nossa sociedade que gera o egoísmo e o desinteresse pelos demais, Jesus propõe que sejamos co-responsáveis e que assumamos os erros para serem perdoados e para que a reconciliação seja possível…
– O perdão só acontece num contexto de amor e fraternidade… Apesar das dificuldades em perdoar é preciso reconhecer que todos precisamos do perdão dos outros… Perdoar é um acto de caridade e, ser perdoado, é um acto de humildade… Esta convergência dá-se em comunidade.

  1. Construir pontes: dialogar, escutar…

– Não podemos ser ingénuos: na comunidade deve reinar a paz, a concórdia, o respeito mútuo, a compreensão,… Mas nós somos instrumentos débeis que, com alguma facilidade, quebramos a comunhão… O vício do individualismo perdura…
– É por isso que a comunidade, mais do que nunca, é chamada a exercer o seu papel: a procura contínua da reconciliação… Este processo não pode ser automático: exige um compromisso constante de conhecimento mútuo e de respeito pelo outro, de diálogo, de escuta, de abertura à diversidade… E que cada um busque, acima de tudo, a paz e a harmonia…
– Isto não é só para a comunidade paroquial: é para a família, para o grupo de trabalho, para os encontros sociais (que tantas vezes acontecem só para dizer mal dos outros!…)
– Será ocasião para perguntar como é que andam as nossas relações e como exercemos a nossa responsabilidade quanto ao caminho que os outros trilham… Quer queiramos quer não, se queremos construir pontes e comunidades onde reine a paz, temos que assumir que “somos guardas do nosso irmão” (não no sentido de o controlar, mas na co-responsabilidade)…