Conhecem-se hoje teorias pedagógicas que insistem muito no desenvolvimento da auto-estima das pessoas. Dizem que quando a auto-estima está em baixo é um sinal negativo, que pode trazer consequências comportamentais que conduzem à depressão e a outros sintomas do género.
Certamente que estas análises têm o seu mérito. Mas, por outro lado, a elevação da auto-estima, sendo um valor para as pessoas, não pode transformar-se em egocentrismo ou na busca desenfreada de protagonismo, onde o que conta é o próprio, a sua fotografia para que todos o vejam a ocupar os primeiros lugares. Esta tentativa de mostrar os méritos próprios pode levar ao desprezo dos outros e a querer sempre ocupar os lugares de prestígio e de poder. A auto-estima, sem humildade, leva a comportamentos egoístas e autoritários. A pessoa deve crescer tendo consciência da sua dignidade mas, ao mesmo tempo, tem que reconhecer a dignidade dos outros permitindo assim uma sã convivência. A boa pedagogia deve saber harmonizar a auto-estima com a humildade.
1. Os convidados para o banquete
— O Evangelho de hoje, relatando um acontecimento da vida de Jesus, mostra bem como as duas atitudes, a auto-estima e a humildade, devem andar ligadas: a dignidade das pessoas não se mede pelo lugar que ocupam na hierarquia… Não é conveniente ocupar os primeiros lugares porque, de um momento para o outro, pode-se ser relegado para os últimos…
— Na sequência do domingo passado, em que nos foi apresentada a imagem da porta à qual se chamava e pela qual se podia ou não entrar, hoje, através da imagem do banquete, a liturgia diz-nos que, na comunidade de Jesus, não são as aparências ou as etiquetas sociais que contam.
— O banquete era, na antiguidade, uma forma de exibir o poder e a honra… Ser convidado era poder igualar-se ao seu anfitrião e, por isso, os convidados eram pessoas consideradas honradas, de estatuto social elevado…
— A parábola do Evangelho denuncia este critério porque parece que também era comum, entre os convidados, que sempre se consideravam importantes, ocupar os primeiros lugares: quanto mais próximos do anfitrião os convidados estivessem, maior honra lhes era atribuída…
— Jesus inverte estes critérios… O salmo diz que “Deus é pai dos órfãos e defensor das viúvas”, precisamente daqueles que, seguindo estes critérios, nunca eram convidados… – Para Jesus, os primeiros convidados, devem ser as pessoas mais vulneráveis… Não é que Ele queira impor novos critérios de conduta social, ou justificar fosse o que fosse! Simplesmente quer demonstrar quais devem ser os valores da comunidade cristã: a preocupação pelos mais pobres e desfavorecidos, os doentes e os pecadores… São os grupos dos excluídos que são convidados por Jesus…
2. Outros convidados
— As pessoas que parece que não contam e não têm importância podem enriquecer muito a comunidade cristã … Quando estas pessoas ficam de fora é sempre um motivo de reflexão que nos leva a perguntar sobre as razões que as levam a ficar para trás, a ser excluídas…
— A imagem do banquete mostra, mais uma vez, como a comunidade de Jesus deve ser inclusiva e plural (há alguns domingos que o Evangelho de Lucas nos alerta para isto!) onde os primeiros lugares devem ser os dos mais desfavorecidos… É verdade que uma opção destas expõe a comunidade cristã a reparos e a críticas, muitas vezes levantadas por quem está dentro, demasiado acomodado e reivindicando o seu lugar…
— Já o livro do Eclesiástico traçava um programa de sabedoria e humildade: “quanto maior fores mais deves humilhar-te… a desgraça do soberbo não tem cura… O homem inteligente medita as parábolas no seu coração…”
— A construção de uma nova comunidade exige a adopção de novos critérios… Se os destinatários (os convidados do banquete) forem sempre os mesmos, dificilmente se renova a comunidade…
3. Humildade
— Jesus dá graças ao Pai por revelar as coisas do Reino aos simples e humildes enquanto os ditos inteligentes parecem ficar de fora… São os pequenos, os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos, aqueles que não têm com que retribuir, que são convidados para o banquete do Reino…
— Mas, a humildade querida por Deus não é a atitude de quem anda sempre a dizer que não presta para nada, que não vale nada, e depois até quer ser reconhecido pelos seus discursos piedosos… Não: Deus conhece a nossa dignidade, somos sua imagem e semelhança e seus filhos em Jesus…
— Perante Deus, a humildade manifesta-se agradecendo a nossa dignidade e os nossos talentos, sem reivindicar nada apelando aos títulos, aos méritos ou aos direitos adquiridos…
— A humildade gera confiança, disponibilidade, aceitação dos planos de Deus na nossa vida, serviço aos outros, gratuidade (a segunda parte da parábola do Evangelho fala dos convidados para o banquete que nós oferecemos sem esperar nada em troca)…
— A humildade, portanto, não consiste em renunciar à própria dignidade, em ensaiar assim umas poses de modéstia demasiado teatrais… A humildade passa por reconhecer a própria dignidade com verdade, honestidade e atenção aos outros…
— A humildade é disponibilidade, serviço aos outros sem exigir qualquer recompensa: é nisto que consiste a gratuidade…
— Quando a auto-estima se equilibra com a humildade, a vida é um reconhecimento constante dos dons de Deus e do afecto dos irmãos… É sempre importante ter presente as palavras de Jesus: “O que se eleva será humilhado e o que se humilha será elevado”…