Os três Evangelhos sinópticos relatam a pergunta dirigida por Jesus aos discípulos sobre a sua identidade. Nos três relatos aparece a resposta de Pedro, diferente da opinião comum da multidão: “tu és o Messias, o Filho de Deus vivo!”. Segue-se sempre o anúncio da paixão, morte e ressurreição e um ensinamento particular aos discípulos sobre o modo de seguir Jesus, o crucificado. Todo este enquadramento termina com o relato da transfiguração de Jesus, onde se faz novamente referência à morte e ressurreição e ao pedido de não divulgar a experiência que alguns discípulos fazem acerca do conhecimento de Jesus.
O que o Evangelho de Mateus tem de particular é a concessão das chaves do reino, o poder de atar e de desatar, juntamente com a promessa de Jesus de que edificará sobre ele, Pedro, a Igreja como sobre uma rocha.
1. A pergunta sobre Jesus
– Jesus e os seus discípulos vão a caminho de Cesareia de Filipe (a cidade evoca o poder temporal: o nome de César e do governante Filipe, um dos filhos de Herodes). No caminho, faz-lhe a pergunta sobre a sua identidade, não por interesse pessoal, mas para formar os discípulos…
– Não é questão de estudar a pessoa de Jesus… Ao longo dos séculos, têm sido muitas as obras publicadas sobre Jesus de Nazaré de carácter histórico e biográfico… Mas a pergunta de Jesus não tem a ver com as suas origens, nem com o seu currículo pessoal… Tem a ver com o grau de adesão que as pessoas manifestam… Nas respostas, que O identificam com João Baptista, Elias, Jeremias ou um dos profetas, verifica-se que Jesus é colocado na linha profética e não na farisaica que acentuava os aspectos legais, e isto já é significativo…
– Mas, quando Jesus pergunta directamente aos discípulos, é Pedro que dá a resposta: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Esta é a resposta da fé que nenhum estudo biográfico, por mais completo que seja, pode dar… É cada um que tem de a dar por si numa relação pessoal estabelecida com Cristo…
– Toda a gente, em qualquer momento da sua vida, faz a pergunta sobre quem é Jesus (a não ser que nunca tenha ouvido falar dele…)
– Ora, no Evangelho, esta pergunta surge imediatamente antes de iniciar a viagem para Jerusalém, o lugar da paixão, crucifixão, morte e ressurreição. A pergunta de Jesus tem uma relação directa com esta subida, pois, logo a seguir, são feitos os anúncios (três vezes) da paixão, morte e ressurreição, ao longo do caminho…
– A resposta à pergunta tem que ser pessoal e não se pode limitar a umas opiniões, por mais bem fundamentadas e elaboradas que sejam…
– É caso para perguntar e reflectir: que dizem as nossas vidas de cristãos sobre Jesus? Alguma vez fomos interpelados pela nossa forma de estar na vida? Isso dirá alguma coisa aos outros?… E as nossas comunidades? Que imagem transmitem de Jesus? Que testemunhos de vida é que são dados?…
2. As chaves de Pedro
– As imagens de S. Pedro são, tantas vezes, reconhecidas pelas chaves… Mas, que chaves são estas? Não são tanto o símbolo do poder…
– São, em primeiro lugar, as chaves do coração, um coração aberto aos outros…
– As chaves que Jesus lhe entregou poderiam ser as que abrem a sua cabeça dura, pouco dada a compreender a extensão dos horizontes do seu Mestre. O seu coração era sensível, dado a impulsos apaixonados, umas vezes para confessar, outras para negar Aquele a quem seguia… As chaves de Pedro sugerem isto: são para abrir o coração, com sinceridade, a todos… As chaves significam este conhecimento recíproco e esta intimidade com Jesus que depois se manifesta na relação com os outros…
– São, então, o símbolo da amizade e da confiança, da relação profunda que se estabelece com Cristo quando se reconhece n´Ele o Filho de Deus…