Todos os dias nos sentimos confrontados com a presença de cidadãos de outras regiões geográficas, de outras línguas e culturas. A abertura de fronteiras, a globalização em todos os sentidos, a procura de trabalho e melhores condições económicas noutros lugares (os portugueses continuam a sair do País e não são só os outros que vêm ter connosco), o turismo, que tanto apreciamos e que agora diminui trazendo graves consequências económicas, tudo isto nos leva a contactar com gente diferente e com outras realidades culturais.
Neste contacto tão alargado, perguntamos o que é que a nossa fé tem a ver com este fenómeno. E tem muito. A fé liberta, educa, tolera, faz-nos crescer tornando-nos mais pessoas. As circunstâncias actuais obrigam-nos a corrigir alguns modelos do passado, tal como aconteceu com o povo de Israel (1ª leit) e com Jesus (Ev).
- Israel e os estrangeiros
– A tradição de Israel ensinava que, em primeiro lugar, “era necessário reunir as ovelhas dispersas de Israel”… Em muitos lugares do AT a salvação é prometida aos filhos de Israel, aos membros do povo escolhido, deixando de fora outros povos… Aliás, a afirmação de Israel como povo passava por “estar separado dos outros”…
– Mas, já o profeta Isaías (1ª leit) fala do acolhimento dos estrangeiros e da sua integração no povo de Israel: se guardarem o sábado e cumprirem os preceitos da Lei até podem frequentar o Templo em Jerusalém…
– Jesus, no Ev que ouvimos, responde àquela mulher pagã que lhe suplica a cura da filha, de um modo muito estranho, considerando-a indigna de alcançar o que pede porque era estrangeira…
– Ora, Jesus também “crescia em idade, sabedoria e graça” como nos diz o Evangelista Lucas, e também foi compreendendo que o desígnio de salvação do Pai era para todos os povos, independentemente do seu passado e da sua cultura…
– Quem melhor compreendeu esta salvação universal foi S. Paulo, que chega a dizer que os pagãos tinham sido desobedientes mas alcançaram misericórdia em Jesus Cristo; por sua vez, a desobediência dos judeus em relação a Jesus fez com que os pagãos aderissem à fé, e que, através da fé e da misericórdia alcançada pelos pagãos também os judeus poderiam beneficiar da mesma misericórdia… (2ª leit)
– Há crescimento na compreensão do desígnio salvador de Deus e, todos devemos estar atentos aos novos desafios que sempre nos são colocados…
- Interpretação dos acontecimentos
– Na realidade, um acontecimento nunca está terminado sem que a interpretação tenha chegado a um fim… Tantas vezes se diz que o veredicto do tribunal ou o resultado de uma comissão de inquérito, ou a investigação de um determinado assunto, se deu por concluída… Com efeito, raramente assim é; e, nas coisas da fé, muito menos…
– A fé cresce e a compreensão das coisas de Deus é dinâmica… As mesmas respostas não dão para todos os tempos e lugares… Se assim fosse, não precisávamos de quaisquer intervenções, de notas e documentos pastorais, de dinamização pastoral, de actualização ou de qualquer formação…
– O exemplo do Evangelho e o progresso na intervenção de Jesus demonstram isto mesmo… Jesus termina a dizer que a fé daquela mulher pagã é muito grande e que também ela é beneficiária dos dons de Deus sem qualquer tipo de excepção…