Todos têm o direito à sua subsistência, ao necessário para comer; mas, quando a satisfação desta necessidade se converte no único objectivo da vida, sem ter em conta toda a extensão dos direitos humanos no que se refere à liberdade, à relação com os outros e toda a criação, à justiça, à cultura, ao destino universal dos bens, então o homem fica escravo dos seus próprios desejos e apetites.
O único fundamento do protesto do povo de Israel, no deserto, contra Moisés e Aarão, é a comida (1ª leitura). Esta obsessão faz com que os membros do povo se esqueçam dos passos dados em ordem à sua liberdade e à capacidade de conduzir, por si mesmos e com Deus, a sua vida sem serem escravos do Egipto. Segundo Jesus, a multidão que O procura, não é porque tenha visto e acreditado nos sinais mas, “porque comeu dos pães e ficou saciada”. Quando a vida é determinada só pela necessidade de comer, parece que se esquece tudo e ofuscam-se todas as outras perspectivas.

  1. À procura de Jesus

– Aquela gente que tinha assistido à multiplicação dos pães vai à procura de Jesus quando percebe que nem Ele nem os seus discípulos se encontram no mesmo lugar… Reconhecem que Jesus é um profeta e não se querem separar d’Ele até porque foram alimentados com o pão que Ele lhes deu…
– Jesus pode ser procurado por muitos motivos e, sempre que alguém procura Jesus, encontra-O… Aliás, Jesus vai à frente, não para se esconder mas para que as pessoas possam mostrar as razões da procura… Ele está sempre pronto para acolher quem o procura com sinceridade….
– O que é preciso é procurar e não ficar só à espera de “encher o estômago”. E, nesta sociedade em que vivemos, imersos em tantas ocupações, falta tempo e disposição para procurar… Queremos sempre é que alguém resolva o nosso problema… Dá a impressão que temos tudo e nada ao mesmo tempo…

  1. O que Jesus oferece

– Jesus dá um pão diferente, não só do que Moisés deu no deserto, mas também do que Ele distribuiu pela multidão que O seguia… Não é como o dos antepassados, o de antigamente (que até era bom?!). É o pão das alternativas, das oportunidades, da diversidade, das descobertas…
– Não é um pão que dá as seguranças para tudo a ponto de não ser preciso procurar mais… Às vezes, parece que é este pão que as pessoas querem e o Evangelho dá a entender que as pessoas que foram ao encontro de Jesus também era isso que pretendiam, a ponto de se poderem explicar as palavras de Jesus com esta pergunta: “é a mim que procurais ou a vós próprios? A vossa segurança?”
– O pão que Jesus oferece é um pão novo: de cultura, de liberdade, de novos conhecimentos, de algumas frustrações também, de riscos que nos ajudam a compreender os nossos limites como pessoas… É diferente todos os dias porque não nos contentamos com o que os nossos pais nos contaram, embora respeitemos a sua memória…
– É o pão da renovação no mais íntimo do nosso espírito, do homem novo criado à imagem de Deus na justiça e na santidade verdadeiras (2ª leitura)…
– É o pão que desce do Céu para dar a vida ao mundo: é o próprio Cristo que se oferece a quem acredita n´Ele: quem se aproxima d´Ele nunca mais terá fome nem sede… Este pão é o da Eucaristia, dado por Deus, e que não é fruto de qualquer generosidade humana mas da entrega de Deus…

  1. Para viver para os outros

– A multidão perguntou a Jesus: “Que devemos fazer?… Que milagres fazes para que acreditemos em Ti?” E aquela gente recorda os milagres do deserto como garantia da fé… De facto, muita gente pensa que, para acreditar, precisa de provas, de “milagres”!…
– Com Jesus não é assim: o que é preciso é começar a pensar mais nos outros do que em si mesmo e na satisfação das necessidades pessoais,… Este é que é o caminho de quem quer seguir Jesus… (Há tempos, numa reportagem televisiva sobre o Oriente, aparecia uma portuguesa que se tinha enamorado por um monge budista e ali se tinha radicado… O repórter perguntou-lhe sobre as principais mudanças na sua vida, ao que ela respondeu: “deixei de pensar nos outros e comecei a pensar mais em mim” – parece tudo o contrário da fé em Jesus, que nos leva a pensar nos outros; mais em dar do que em receber…)
– O verdadeiro pão é o que é partilhado por quem necessita… E isso é o que Jesus faz, dando-se Ele próprio, fazendo-nos pensar mais nos outros do que em nós mesmos…