1• A primeira leitura desta Liturgia apresenta-nos o jovem rei Salomão, que, no início do seu reinado, se dirige a Deus numa humilde oração. Ele sabe que governar um povo é uma tarefa de grande responsabilidade; sabe também que, dada a sua juventude, ainda lhe falta a experiência necessária para o desempenho das funções de que foi incumbido por seu pai David. Por isso, dirige-se a Deus e implora o suplemento de sabedoria de que precisa para governar esse povo, com justiça e equidade. Para isso, pede a Deus «um coração inteligente» que o faça saber «distinguir o bem do mal». E o texto acrescentava, como ouvimos, que Deus ouviu a sua humilde prece e lhe deu «um coração sábio e esclarecido». E dizia-nos ainda as razões pelas quais Deus atendeu o pedido de Salomão. É que Ele não pediu «longa vida, nem riqueza, nem vitórias sobre os seus inimigos» Mas pediu, simplesmente, «sabedoria para praticar a justiça», ou seja, para ser perfeito na administração do reino que lhe foi confiado.

2• Salomão sabia rezar; e tinha a noção daquilo que era capaz de fazer e daquilo que somente conseguiria realizar se tivesse a ajuda de Deus. Cumpria-se, nele, a palavra que ouvíamos, há instantes, na carta de São Paulo aos Romanos, na qual o Apóstolo nos garantia que «Deus concorre em tudo para o bem dos que o amam». Salomão amava a Deus e sabia-se amado por Ele. Por isso recorria ao Senhor, com toda a confiança, pedindo-lhe o que era essencial para ser fiel no desempenho da missão que lhe estava confiada; e Deus concorreu em tudo para o seu bem e para o bem da sua governação.

3• O Evangelho deste Domingo continua a ser-nos anunciado em parábolas, à semelhança dos domingos anteriores. Hoje, estas parábolas colocam-nos diante das escolhas possíveis que somos chamados a fazer na nossa vida e no desempenho das missões que nos foram cometidas. Para o conseguirmos, precisamos de saber usar as nossas faculdades e conhecimentos; mas precisamos também de fazer tudo com o acerto que somente Deus nos poderá ajudar a ter. E as parábolas dizem-nos que, diante dum tesouro, valem pouco os campos que possuímos; diante de uma pérola preciosa, valem pouco as preciosidades que julgamos possuir; perante a rede de pesca que arrasta espécies muito variadas de pescado e de lixo, precisamos de saber discernir o que é preciso recolher e o que importa deitar para fora.

Para termos esta sabedoria necessitamos de recorrer a Deus como Salomão, para afinarmos, com os critérios divinos, as «agulhas» do nosso viver e do nosso agir. Somente Deus nos pode conceder o «suplemento» que precisamos para vivermos segundo o seu desígnio de amor.

D. Manuel Madureira Dias, in Homilias de um Bispo, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017

https://livros.liturgia.pt/verbum-caro/293-maravilhas-de-deus-homilias-de-um-bispo.html

LEITURA I 1 Reis 3, 5.7-12

Naqueles dias, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe: «Pede o que quiseres». Salomão respondeu: «Senhor, meu Deus, Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?». Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe: «Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti».

LEITURA II Rm 8, 28-30

Irmãos: Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO – Forma longa Mt 13, 44-52


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto?» Eles responderam-Lhe: «Entendemos». Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».