Face a tantas ofertas que a vida atual proporciona, diante da imensidão de possibilidades que são colocadas diante de nós, que respostas é que nós damos? O mercado atira-nos sempre com coisas novas, os produtos são sempre mais aliciantes, as oportunidades para desfrutar das coisas e dos momentos são cada vez mais diversificadas e atrativas… Que fazer? Como escolher? E será que pensamos nas opções que podemos tomar escolhendo umas coisas e rejeitando outras? Ou deixamo-nos enredar neste emaranhado de coisas e no frenesim de uma vida em que nos é oferecido de tudo e já nem sequer temos tempo ou critérios para discernir? O resultado é uma vida dispersa, descaracterizada e sem rumo, misturada com frustrações e desencantos, falta de motivações, de alegria e de esperança…
Isto precisa de uma volta porque o melhor de cada um está dentro de si mesmo e não no que lhe é imposto de fora. O tesouro que Jesus nos reserva está no mais profundo da pessoa. O que é preciso é desbravar bem dentro do nosso coração para o encontrar.

  1. Alegria de encontrar

– O Evangelho de hoje faz parte das chamadas “parábolas do Reino” que temos vindo a escutar nos últimos domingos. As de hoje acentuam a alegria que o homem sente quando encontra um tesouro ou uma pérola preciosa… Esta comparação procura ilustrar a alegria da pessoa que descobre o Reino de Deus.
– Mais do que anunciador de Boas Notícias, Jesus, é ele próprio a Boa Notícia… Os simples e os pobres, quando se encontravam com Ele, descobriam que era n’Ele que estava a fonte da alegria e da felicidade, e não simplesmente nesta ou naquela ação pontual…
– O homem procura sempre ser feliz… Mas, ao mesmo tempo, pergunta-se em que consiste a felicidade…
– A resposta mais comum é ter riquezas, saúde, bem-estar… No entanto, mesmo tendo estas coisas todas, a vida pode tornar-se aborrecida (já não tem mais nada por que lutar ou procurar!)…
– O homem das parábolas do Ev de hoje não encontrou a felicidade total mas, um tesouro, uma pérola preciosa… E isto fez com que ele se enchesse de alegria e de entusiasmo…
– O Reino de Deus é isto: não é chegar a um ponto de realização e depois ficar parado a gozar dos rendimentos mas, um processo que está sempre em movimento; é dinâmico… O homem vai vender para depois comprar, para lutar pelo que é mais importante…

  1. Coração alegre e espírito aberto

– Infelizmente, deixámos de apreciar as coisas simples do dia-a-dia e enredámo-nos no emaranhado da sociedade que nos sufoca… Falta-nos um espírito aberto como o de Salomão (1ª leit), um coração que escute na turbulência da vida… Salomão não pediu riquezas, nem longa vida, nem a morte dos inimigos, mas inteligência e sabedoria para distinguir o bem do mal. Assim há-de ser todo aquele que procura a felicidade…
– Os homens sempre tiveram a tendência de procurar a felicidade fora de si, nas coisas, no ter… No entanto, o Reino de Deus está dentro de cada um; é aqui que se encontra o tesouro…
– Afirmar a felicidade a partir do coração não significa isolamento e distanciamento dos outros… Quando se abre o coração ultrapassa-se o individualismo e a solidão…
– O individualismo fecha-nos sobre nós próprios, a única referência somos nós… O individualismo é anónimo, vazio, sem história… Dizem-nos que a pandemia nos pode tornar mais solidários mas, se não se fizer o esforço de sair de si próprio para compreender a situação dos outros, a solidariedade não passará de uma simples experiência comum provocada por factores externos…
– O tesouro está dentro de nós e nos outros: é interioridade e abertura, oração e compromisso, mística e politica… É necessário vender tudo o que nos fecha em nós próprios, nos torna insensíveis e indiferentes, para alcançar o que gera comunhão fazendo-nos esquecer de nós próprios, das coisas que apenas servem para entreter… É então que se encontra a alegria de uma escolha acertada e da constante descoberta de coisas novas e velhas…