Perante o atrevimento do inimigo a resposta é a paciência

Da terra surge a pergunta: Queres que arranquemos o joio?
Do céu vem a resposta: Não!
O mundo treme diante da pequena semente do Reino. A força escondida vai transformando a escuridão da terra e a indiferença da massa. Tudo se transforma e cresce.
O inimigo parece vencer e tem adeptos. A vitória virá no final quando chegarem os anjos de Deus
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LEITURA I Sb 12, 13.16-19

Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. O vosso poder é o princípio da justiça, e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omnipotência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano, e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento.

O Senhor, nosso Deus, tem poder para destruir tudo o que as suas mãos criaram, mas não o faz. A sua atitude é de paciência e misericórdia e o seu poder não se manifesta na força, no castigo ou destruição. O seu poder manifesta-se na bondade e a sua justiça na misericórdia, mesmo quando os homens, sedentos de vingança, não entendem esta forma de agir.

Salmo responsorial Salmo 85 (86), 5-6.9-10.15-16a
No meio das suas angústias, dificuldades e sofrimentos, todo o homem, como o salmista, pode esperar no Senhor pois ele é bondoso e compassivo, paciente e cheio de misericórdia.

LEITURA II Rm 8, 26-27

Irmãos: O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, pois é em conformidade com Deus que o Espírito intercede pelos cristãos.

No meio das dores deste mundo, o cristão, mantém a esperança, certo de que o Espírito Santo que foi derramado no seu coração, vem em auxílio da sua fraqueza.

EVANGELHO Forma longa Mt 13, 24-43

Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’». Jesus disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo». Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo». Jesus respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem, e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno, e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo, e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça».

Jesus conta três parábolas para explicar o Reino de Deus. Sendo de Deus, o Reino realiza-se já neste mundo onde há sinais de justiça e de iniquidade. Os filhos do Reino têm de conviver com os filhos do Maligno, porque Deus assim o permite, mas no final haverá um julgamento onde serão separados e terão destinos diferentes, os justos e os que praticaram a iniquidade. Entretanto o Reino, como grão de mostarda lançado à terra e fermente lançado na massa, vai continuando a transformar o mundo com o seu poder, no silêncio de cada um.

Reflexão da Palavra

O livro da Sabedoria, que se acreditava ter sido escrito por Salomão, foi escrito em Grego, já no início do século I a.C., muito tempo depois do seu reinado. É o último livro do Antigo Testamento a ser escrito.

O autor tem como preocupação manter viva a fé dos judeus que vivem em terra estrangeira, influenciados por outras religiões, filosofias e respostas às inquietações da vida, como são a morte e a retribuição pelo bem ou mal realizados.

No capítulo 12, Deus aparece como um Deus misericordioso que procura a correção do homem e não a sua destruição “pouco a pouco corriges os que caem, os admoestas e lhes recordas os seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti” (12, 2). De facto, Deus podia “destruí-los de uma só vez” (12, 9), mas não o faz para lhes “dar tempo para se arrependerem” (12,10).

O poder de Deus revela-se na misericórdia e não na capacidade para destruir, revelam os versículos que compõem esta primeira leitura do XVI Domingo. Não havendo ninguém que se compare ao Senhor, nem Deus nem rei, ele não tem necessidade de justificar as suas decisões. Se não castiga os pecadores não é por medo que o censurem ou se revoltem, mas por misericórdia. Na sua misericórdia Deus é Justo e a justiça é o seu modo de exercer o poder, a bondade é a forma de dominar e a indulgência não é fragilidade, mas a certeza da sua força que pode exercer quando quiser. Assim nos ensina a ser indulgentes e a esperar misericórdia.

O salmo 86, dá continuidade à ideia de um Deus misericordioso apresentada na primeira leitura. O autor do salmo apresenta uma súplica muito pessoal, com contornos muito genéricos, de modo que qualquer pessoa em situação de aflição pode servir-se destas palavras para a sua oração. A situação é de tribulação, por causa dos inimigos que não são especificados, e de grande confiança no Senhor, na sua indulgência e misericórdia. Aparece também, como acontece em outros salmos do género, a promessa da ação de graças por ter sido escutado na sua petição.

Em relação ao texto da carta aos romanos, devemos recordar o que dissemos no domingo passado. Paulo fala a partir da vida nova que brota do batismo que, não isenta dos sofrimentos do tempo presente, infinitamente incomparáveis à glória em que havemos de participar. Aí está depositada a nossa esperança que supera todo o sofrimento. Dizíamos que a esperança em Paulo assenta em quatro razões: a criação que suporta a mesma situação que nós e “geme e sofre as dores de parto” vive na esperança da libertação; nós mesmos que, apesar do sofrimento, resistimos e não nos resignamos à aniquilação (elementos que foram apresentados no texto do último domingo). O terceiro pilar da esperança é o Espírito que “vem em nosso auxílio” e “intercede por nós”. Suportados por tão grande intercessor, os cristãos vivem “a esperança que não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). No próximo domingo veremos o último pilar da esperança, Deus que concorre em tudo para o bem dos que o amam.

O texto do evangelho que é oferecido por Mateus configura-se em três parábolas sobre o Reino, a citação do salmo 78,2 e a explicação da parábola do trigo e do joio.

A parábola do Trigo e do joio oferece uma reflexão profunda sobre Deus. Ele é o dono do campo, é o dono da boa semente e é ele quem semeia. É ele também quem permite ao inimigo que entre no seu campo e semeie o joio. Ele é paciente e aguarda cheio de misericórdia o desfecho final. É verdade que esta paciência de Deus dá ao inimigo a liberdade para atuar em sentido contrário e pensar que pode conquistar para si o campo todo. No entanto, a paciência de Deus não é passividade, é ação misericordiosa que pode converter o joio em trigo e ajudar a distinguir de forma clara o trigo do joio, sem qualquer confusão, dada a semelhança entre eles. Diríamos que a parábola se concentra no “não” da resposta do semeador aos seus servos. “Queres que vamos arrancá-lo?”, “Não!”. Esta tarefa não compete aos servos, apenas aos anjos e só se realiza no final, na altura da ceifa, quando for claro que o trigo é trigo e o joio é joio.

A parábola do grão de mostarda revela o poder de Deus que não atua como os homens. O poder de Deus é essa ação paciente da parábola anterior. Não é força como o poder dos homens, é eficácia. Como o grão de mostarda o Reino é pequeno, mas tem em si um poder de eficácia que se revela com o tempo, à medida que cresce. Só no final se pode perceber a sua capacidade para abrigar as aves do céu. Onde os olhos dos homens veem fragilidade Deus manifesta o seu poder.

Do mesmo modo a parábola do fermento. A desproporção entre o fermento e a massa não fala do potencial de cada um destes elementos. À partida, tudo fazia crer que a massa absorvia o fermente sem qualquer possibilidade de este a alterar. No entanto, a realidade mostra o contrário. O fermento tem em si mais força que a massa e consegue modifica-la por dentro. O Reino dos céus atua por dentro, no interior, no escondido e modifica o mundo, mesmo quando, durante algum tempo, parece não ter sucesso.
É a paciência de Deus que dá o tempo necessário para que o grão de mostarda e o fermento manifestem o seu poder.

A explicação da parábola, que é feita apenas para os discípulos, dá a conhecer os personagens que se escondem na parábola. Jesus revela que os filhos do Reino não são joio, o trigo não pode converter-se em joio, que é necessário dar o fruto correspondente, que há muitas doutrinas que, aparecem atraentes e até semelhantes ao evangelho, mas não são a verdade do Reino e podem contaminar o trigo exercendo sobre ele a sua influência maléfica.

É necessário ter “ouvidos para ouvir”, pois caso contrário põe-se em causa a entrada no Reino e arrisca-se, no juízo final, a ir parar à fornalha ardente.

Meditação da Palavra

Já no tempo de Jesus era frequente o aparecimento de pessoas, movidas por boa intenção ou com interesses obscuros, que usavam de palavreado enganador. Com astúcia, habilidade e discursos bem pensados, convenciam muitos a segui-los julgando enveredar pelo caminho da verdade, da justiça e do bem. Nas atitudes exteriores e nas palavras confundiam-se com os sábios, os bons, os santos e os profetas. Nos seus discursos podiam confundir-se até com o evangelho de Jesus e nas suas propostas equiparavam-se aos construtores do Reino de Deus.

Perante os hábeis intérpretes da lei e dos profetas, os discursos de Jesus apareciam muitas vezes como blasfémia. As autoridades, sob as quais o povo vivia dominado, desacreditavam Jesus fazendo crer que ele pertencia ao demónio e Deus não estava com ele.
Desta forma a mentira parecia verdade e o evangelho da verdade era interpretado como mentira. Jesus viu-se embrulhado nesta confusão, tal como aconteceu com muitos homens de Deus ao longo da história e acontece hoje ainda. Hoje é vulgar o discurso da compaixão sem paixão e sem implicação. Defende-se o mal, a destruição da vida, a degradação da pessoa, a perda de dignidade à custa de bonitas palavras que têm por detrás agendas maléficas, sabiamente escondidas.

Jesus conta a parábola do trigo e do joio para desmascarar esta realidade. Há um senhor que semeia boa semente e um inimigo que semeia joio com a intenção de que tudo se transforme em Joio, em trigo contaminado. Aparentemente são iguais, mas o joio nunca pode acabar como boa farinha capaz de chegar a ser pão. O trigo não pode transformar-se em joio porque não é essa a sua natureza. Os filhos do Reino devem saber discernir diante do que veem e do que ouvem, para distinguir o trigo do joio.

Entretanto, enquanto não saem dos limites deste mundo, devem aprender com Deus a paciência, como arte do discernimento, para não perder o trigo com a pressa de afastar o mal na luta contra a contaminação. Deus é paciente, sabe esperar o tempo certo para que o trigo se mostre com todo o seu esplendor, como o justo no reino do Pai e o joio se possa purificar e tornar-se trigo para que nada se perca na fornalha ardente.

No juízo final, os anjos e não os homens, saberão distinguir o trigo do joio. Até lá os Filhos do Reino contam com o auxílio do Espírito Santo que lhes foi dado quando foi derramado em seus corações no batismo.

Rezar a Palavra

Semente boa lançada à terra pelas tuas santas mãos, corro todos os dias o risco de me tornar joio, erva contaminada que perde a imagem clara da tua misericórdia e o esplendor da glória que me deste ao tornar-me filho, nas águas do batismo. Envia, Senhor, o teu Espírito para que venha em meu auxílio, fortaleça a minha vontade e determine as minhas ações para que os anjos me encontrem trigo limpo para o teu celeiro.

Compromisso semanal

Procuro os sinais do Reino que irrompe no meio do mundo, para não me deixar seduzir por doutrinas enganadoras.