Nos últimos domingos as leituras bíblicas têm-nos apontado para as condições do seguimento de Jesus e para as circunstâncias do desenvolvimento da missão. Nalgumas ocasiões os enviados de Jesus são acolhidos, noutras, têm que se prevenir para a necessidade de se dirigir a outros lugares a anunciar que o Reino de Deus está próximo, independentemente da atitude dos destinatários.
Depois de escutar as leituras de hoje, a primeira pergunta que se coloca é a de procurar saber se o estilo de vida que nós levamos hoje favorece o acolhimento e a hospitalidade ou não. E também podemos perguntar se este mundo aprecia mais o acolhimento ao estilo de Abraão e de Maria ou a hospitalidade e os bons serviços de Sara e de Marta que trabalham por trás para que nada falte aos visitantes.
A nossa experiência cristã inclui as representações de Maria e de Marta: escutamos, acolhemos Jesus no coração, fazemos silêncio, descansamos e sonhamos como Maria; ao mesmo tempo, como Marta, somos activos, trabalhamos, temos pressa, traçamos objectivos, fazemos as contas e cuidamos para que nada falte. As palavras de Jesus não são discriminatórias: simplesmente valorizam a atitude contemplativa de Maria e corrigem a atitude stressante de Marta.

  1. O necessário: escutar o Senhor

– Quem dera que, como Abraão, Marta e Maria, estivéssemos, também nós, à espera do Senhor, abrindo o coração e recebendo-o na nossa tenda, em nossa casa, na nossa vida…
– Como gostaríamos de repousar, também nós, na sua casa (Salmo), um lugar onde houvesse sombra, água e paz com todos, que suavizasse os dias da caminhada e as perturbações da vida, os medos e as interrogações!…
– Quem dera que nos pudéssemos sentar, acolhê-Lo na paz e escutar atentamente as suas palavras…
– Como Maria, gostaríamos de desfrutar da Palavra e escutá-la no silêncio, quereríamos ter Jesus junto de nós, estar a sós com Ele, dar-Lhe o tempo que podia ser dedicado a outras coisas e optar por tirar partido do encontro…
– Todos precisamos muito de oração, de silêncio e de contemplação…

  1. Mas também é importante um bom serviço de mesa

– Mas, ao mesmo tempo, esta experiência de escuta e de encontro deve ser acompanhada com o que sugerem as figuras de Marta e de Sara: é importante parar para descansar, ouvir e conversar mas, não menos importante é uma mesa preparada e bem servida…O acolhimento e um bom serviço de mesa são a marca da hospitalidade…
– O livro do Génesis sublinha a generosidade de Abraão, que pede a colaboração a Sara e ao seu servo, realça a sua insistência para que aqueles personagens desconhecidos não passem sem que se possam refrescar e alimentar para continuar a sua caminhada. Ao mesmo tempo, aqueles três personagens retribuem deixando a promessa de voltar e de mudança da situação porque Sara, finalmente, irá ter um filho…
– Na casa de Marta e de Maria, e na de tantos outros referidos no Evangelho, Jesus partilha a mesa que outros prepararam, aprecia o acolhimento e o serviço que lhe é prestado e cuja responsabilidade, no texto do Evangelho de hoje, é de Marta, provavelmente a irmã mais velha, sobre quem recaiam estas competências….
– Em todos estes personagens, que preenchem a liturgia da palavra deste domingo, e se completam uns aos outros, vemos que a escuta e a oração não impedem um bom serviço, nem este serviço pode ser impedimento para o diálogo…
– Isto significa que os trabalhos e as ocupações diárias não podem abafar de tal modo a nossa vida que já não nos deixem qualquer tempo para a oração e para a escuta da palavra; e também que a escuta da palavra de Deus não pode impedir-nos de escutar as inquietações e as aspirações dos homens, de estar com eles e partilhar as coisas boas da vida; que estar com o Senhor é um bem precioso que deve sempre ser esperado e aproveitado e que não admite escusas de qualquer espécie…

  1. Aproveitar este tempo

– O caminho do cristão faz-se com todos estes personagens: com Abraão, com Sara, com Maria e com Marta…
– Porém, o que hoje é mais realçado é o acolhimento interior de Maria, a sua conversação com o Senhor, o sentar-se aos seus pés para falar com Ele e saber o que Ele tem a dizer…
– Toda a gente, neste período do ano, anda às voltas com as férias… Felizes os que podem dispor de dias de descanso depois de um ano absorvidos por tantas actividades e dúvidas… Os que podem fruir desses dias dêem graças a Deus e aproveitem para fazer coisas diferentes ao mesmo tempo que repousam…
– E porque não considerar que uma dessas coisas diferentes, e que faz bem ao nosso corpo e ao nosso espírito, é este recolhimento aos pés do Senhor para escutar o que tem para nos dizer…
– Em muitas comunidades, infelizmente, e porque também cessa o ritmo da catequese, muitos fazem férias da sua prática dominical… É triste… Deveria ser o contrário: há mais tempo para tantas coisas, até para não saber como se deve ocupar o tempo, e não se dá um passo para dedicar mais algum tempo ao recolhimento e à escuta da palavra de Deus em casa, na família, num lugar de silêncio e repouso… Se não nos dispomos a “sentar-nos aos pés do Senhor” corremos o risco de nunca ouvir a Sua palavra…