Ao longo da história da salvação, Deus foi mandando guias e pastores ao seu povo para que o organizassem e lhe dessem a segurança necessária frente às incursões de outros povos e ao oportunismo de falsos líderes. Por vezes, estes guias e condutores do povo eram chefes carismáticos que Deus suscitava em momentos de aflição para libertar o povo do saque dos inimigos. Noutras ocasiões, foram os reis que, na esteira de David, o pastor que Deus tinha tirado da guarda dos rebanhos para o colocar à frente do seu povo, governaram conduzindo o povo pelos caminhos do Senhor.
Mas, a história do povo de Deus regista também muitos momentos tristes em que os reis procuraram mais os interesses próprios e dos seus colaboradores do que o bem do povo. Nestas circunstâncias, intervinham os profetas, enviados por Deus, para despertar o povo do adormecimento e condenar a actuação destes soberanos que não cuidavam das ovelhas, antes as dispersavam porque não se ocupavam delas nem tinham os devidos cuidados com as mais necessitadas.
- Há maus pastores mas, Deus cuida das ovelhas
– Hoje, apesar de tantas possibilidades de segurança e de cultura, também sentimos a falta de autênticos pastores e debatemo-nos com os mesmos problemas do povo de Israel: há pastores que dispersam as ovelhas, que criam a confusão dizendo mentiras, fomentam as incertezas e o medo do futuro para eles se imporem com o seu poder…
– Em nome de uma certa cultura, põem-se de parte as nossas raízes cristãs, a nossa literatura, os nossos hábitos, para dispersar em vez de congregar…
– A democracia e a liberdade em que todos queremos viver não pode ser o pretexto para pôr em causa a nossa convivência e os valores permanentes que fazem parte da nossa história…
– Estes modelos novos que nos querem impor, sem regras nem responsáveis, abrangem as diferentes áreas da nossa vida: a política, a economia, a cultura, o social, e também eclesial…
– Apesar de tudo, Deus não deixa de suscitar, na Igreja, em todos os tempos e também nos nossos, homens e mulheres que despertam para realidades novas e congregam os fiéis à volta de causas antigas e novas… E ainda que algumas vezes escasseiem as referências humanas, Deus nunca abandona o seu povo porque é Ele próprio que reúne e toma conta das suas ovelhas, como diz o profeta Jeremias (1ª leitura) e o Salmo: é Ele o pastor que conduz e nada nos falta…
- Jesus é o nosso bom pastor
– Depois dos discípulos terem feito a experiência do anúncio do Reino e de realizar as obras que Jesus lhe mandou, é o mesmo Jesus que os convida a retirar-se para um sítio isolado porque mereciam um descanso…
– De facto, tanto Jesus como os enviados, dão-se conta que eram muitos os que os acompanhavam porque precisavam de alguém que lhe prestasse atenção e desse resposta aos seus problemas… A tal ponto, diz o Evangelho, que eles nem tinham tempo de comer…
– E a multidão não lhe permite repousar… Jesus tem que se ocupar dela porque eram como ovelhas sem pastor… Para os congregar, Jesus dá-lhes formação: “começou a instruí-los demoradamente…”
– Jesus é o bom pastor que ama as suas ovelhas e dá a vida por elas… É verdade que temos a impressão de sermos como ovelhas sem pastor porque nos prendemos a outras coisas que nos atraíram mais e o resultado é maiores desigualdades, mais incertezas, menos fé no futuro… Precisamos de voltar à fé em Jesus para ultrapassar este tempo confuso e desorientado…
– Como no tempo de Jesus, também hoje há muitas pessoas abatidas… A pobreza tem manifestações e nomes diferentes (desemprego, impossibilidade de acesso a bens e serviços, as migrações forçadas, novas formas de escravatura…)
– Ser cristão é sempre procurar viver como Jesus… Mesmo quando se pensa que já se realizou um bom número de coisas, que uma determinada actividade chegou ao fim, que já houve envolvimento num conjunto de iniciativas missionárias, o trabalho de acompanhamento e a compaixão pelos que precisam nunca está acabado… E pode acontecer que, quando se julga que os objectivos foram alcançados, que aquilo que estava planificado foi executado, continua a haver gente que acorre e continua como ovelhas sem pastor… E é que há sempre gente à nossa espera! O trabalho da missão nunca está terminado…