Mistagogia da Palavra
A Liturgia deste domingo fala-nos de hospitalidade. Também para os cristãos a hospitalidade é chamada de atenção à sua condição de peregrinos neste mundo. Mas lembra-lhes sobretudo que Cristo veio ao mundo como forasteiro. Hoje Ele continua a pedir hospitalidade: “Olha que Eu estou à porta e bato”. Uma das características da nossa civilização urbana é o anonimato. Moramos no mesmo edifício e não nos conhecemos. Os cristãos devem intervir para fazer da família uma comunidade aberta ao diálogo com o mundo, promovendo uma autêntica educação social e favorecendo os movimentos de abertura aos outros, a começar pelos mais necessitados.
A 1ª leitura é do Livro do Génesis. A hospitalidade e a generosidade de Abraão vão ser-nos apresentadas como modelo. Abraão sabe que é ao Senhor que damos o acolhimento que dispensamos aos outros. Jesus mais tarde dirá: “O que fizerdes aos mais pequenos dos meus irmãos é a mim que o fazeis”. Reconhecemos a voz de Deus nas nossas conversas do dia-a-dia? Abrimos o nosso coração ao pecador, ao pobre e ao oprimido?
A 2ª leitura é de S. Paulo aos Colossenses. O Apóstolo, embora retido na prisão e sujeito a maus tratos, rejubila perante a eficácia da sua pregação. Cristo é já conhecido no mundo pagão, e isso alegra-o no meio do sofrimento.
O Evangelho é de S. Lucas. É o conhecido episódio de Marta e de Maria. Marta não é censurada porque trabalha, mas porque se agita, está ansiosa, está preocupada, está atarefada com muitas coisas e, sobretudo, sem ter antes escutado a Palavra. Também hoje há muita gente de boa vontade que se dedica ao serviço de Cristo e dos irmãos, mas que pode correr um perigo: que muito trabalho febril seja separado da escuta da Palavra, que se torne agitação, confusão, nervosismo, precisamente como o de Marta. Até mesmo o empenho apostólico, os projectos pastorais, se não forem guiados pela Palavra, metida na oração, reduzem-se a rumores vãos, a um agitar desordenado de tachos e panelas. Maria, pelo contrário, escolheu a parte boa, porque ouviu a Palavra.
A Palavra do Evangelho
Diante da Palavra
Espírito Santo de Deus, faz do nosso coração uma cela acolhedora!
Evangelho Lc 10, 38-42
Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».
Caros amigos e amigas, no Evangelho de hoje, o Senhor ensina-nos a escolher a melhor parte, em cada dia e momento da nossa vida, a fim de nos focarmos no essencial! Daqui brota também o critério de Jesus sobre o acolhimento.
Interpelações da Palavra
“Diz-lhe que venha ajudar-me!”
É humano e legítimo precisar e pedir ajuda. Não é nada difícil concluirmos, como Marta, de que os outros estão a “perder tempo”. E na realidade, por vezes, são estes momentos os mais preciosos e decisivos na nossa vida! É caso para dizer: há que aprender a saber “perder tempo”. Quem sabe, serão estes momentos, vividos numa atitude de entrega e abandono, que nos ajudarão a pautar e orientar a nossa vida? Os nossos objectivos serão alcançados, muitas vezes à custa da coragem de parar, afrouxar o nosso ritmo de vida e “perder tempo” no essencial.
Precisamos descobrir o valor das pequenas coisas, dos gestos que à partida, parecem insignificantes e sem garantia de grandes lucros.
“… andas inquieta e preocupada…”
neste mundo de correria, é tão fácil atingir este patamar de inquietude e preocupação. E nem é preciso muito, nem as razões mais justificadas, para nos retirar a paz interior e a serenidade de que tanto precisamos.
Daqui podemos concluir a importância de aumentar o nosso défice de confiança e abandono em Deus. Pois, só Ele sabe e consegue perscrutar o que mais falta nos faz e o que melhor contribui para a nossa felicidade e realização pessoal.
“Maria escolheu a melhor parte…”
Parece mentira! Afinal, para Deus não conta apenas o número dos nossos afazeres, mas, o amor que dedicamos àquilo que nos propomos fazer.
Daqui poderá partir a nossa dificuldade em avaliar a importância ou utilidade, perante Deus, daquilo que faço, bem como os afazeres de outrem. Por exemplo: a oração é ou não perca de tempo? Não é melhor usar esse tempo em prol dos que sofrem qualquer espécie de lacuna? Dá muito que pensar e reflectir para nos aproximarmos dos critérios de avaliação de Deus. Porque nem sempre o que se afigura como bom e importante para nós, tem o mesmo peso e valor aos olhos de Deus, como vimos neste Evangelho.
Rezar a Palavra
Senhor,
ajuda-nos a descobrir e discernir o essencial do acessório.
Dá-nos, Senhor, a graça de saber parar
para reforçar a nossa intimidade conTigo!
Concede-nos um coração grande, aberto e acolhedor!
Que Te acolhamos nos irmãos que colocas na nossa vida.
Que a hospitalidade de Abraão,
de Maria e de Marta toque o nosso coração
e nos faça atentos e sensíveis
a quem mais precisa da nossa atenção e ajuda.
Viver a Palavra
Ao longo desta semana, quero parar junto de Ti, Senhor, a fim de melhor amar, acolher e servir os irmãos!