Ter medo é humano. Quando alguém se aproxima do outro e diz: “ânimo, não tenhas medo” é porque se admite que haja razões para ter medo. Há circunstâncias externas e internas que nos inspiram temor. Fazemos esta experiência neste contexto da pandemia: reconhecemos todos que o perigo é real, que podemos ser infectados e contagiar os outros. Esta situação, aliada ao desemprego e à incerteza do futuro, à possibilidade de surgirem sempre novas doenças, à instabilidade, às dificuldades de recuperação económica, ao fracasso e à proximidade da morte, gera em nós um sentimento de insegurança e medo. E quando ele se apodera de nós parece que nos arrasta ainda mais para o fundo e, como a Pedro, nem nos permite caminhar sobre as águas. É então que surge o grito pedindo a salvação dirigido a Deus, no meio da tormenta, mesmo que que haja dúvidas sobre se é Ele que ali está.

1. A fé supera o medo

– O cenário do Evangelho de hoje é um bom exemplo desta dialéctica sobre a ausência-presença de Deus no meio das dificuldades: primeiro, os discípulos encontram-se sós no meio do mar enfrentando o vento contrário e as ondas…
– Jesus apresenta-se mas, não é reconhecido… O medo já lhes tinha turbado a própria visão impedindo-os de O reconhecer…
– A intervenção de Jesus é semelhante a outras que encontramos no Evangelho: “Não temais”; “Sou eu, não tenhais medo”… A presença de Jesus é a melhor terapia para o medo mas, é preciso ter fé: acreditar que nas situações mais embaraçosas Deus está presente…
– Se os discípulos dizem que vêem um fantasma, que é a percepção dos que pensam que vão sozinhos e Deus não está com eles; ou se Pedro duvida que seja o Senhor quando já tinha arriscado caminhar sobre as águas, é porque as dificuldades são sempre um momento critico para a fé…
– Não surpreende, por isso, que Jesus se dirija a Pedro quando o segurou pela mão, e lhe diga: “Homem de pouca fé, porque duvidaste?”

2.Fé e confiança

– A fé está ligada à confiança e à estabilidade: acreditar em Deus significa confiar n’Ele sabendo que é Ele que sustenta a nossa vida… Foi também essa a experiência do profeta Elias: perseguido na sua terra por Acab, rei de Israel, e pela sua mulher Jezabel, fugiu para o sul chegando ao monte de Deus, o Horeb…
– No momento em que se sente perseguido e só, o profeta faz uma nova experiência da presença de Deus: não está no vento tempestuoso nem no barulho das montanhas; nem no tremor de terra nem no fogo… Deus manifesta-se numa brisa suave e ligeira significando a serenidade e a paz contraposta aos tormentos e dificuldades…
– A experiência de Elias é semelhante à dos discípulos de Jesus que, depois de o vento ter amainado, professaram a sua fé: “realmente és Filho de Deus”…
– Jesus não nos abandona nem abandona a Sua Igreja: navega connosco mesmo quando a humanidade é atingida por diversos males e o medo parece tomar conta de nós… É esse medo que cria fantasmas… Mas, no meio da turbulência continua a ouvir-se a voz: “Não temais, sou eu”, estou aqui para não serdes destruídos…
– Em que clima queremos viver? No medo ou na confiança? Qual o grau da nossa fé? Por que duvidamos?…