A chamada “sociedade de consumo”, que é a nossa, é uma sociedade que vive bem. Há muitas críticas que lhe são feitas, de vez em quando sofre uns pequenos abalos mas, ninguém se dispõe, facilmente, a mudar o estilo de vida. Vivemos tão ocupados connosco próprios que nem nos apercebemos das situações mais difíceis em que vivem muitos dos nossos contemporâneos e, quando reclamamos mudanças é só para aumentar o nosso bem-estar sem pensar nas alterações que são exigidas aos nossos comportamentos para melhorar as condições de vida dos mais frágeis.
As leituras bíblicas falam-nos de um dinamismo que contrasta com esta apatia em que estamos imersos e lembram-nos que um pequeno ramo que o Senhor planta supera todas as árvores que o orgulho humano julga ter semeado (1ª leitura). Na linha do que diz o profeta Ezequiel Jesus compara o Reino a uma semente que cresce sem o semeador saber como, ou ao grão de mostarda que, sendo pequeno, se transforma na maior das plantas do jardim (Evangelho). A nossa vocação e missão são de uma tal grandeza que ultrapassam os horizontes da vida presente (2ª leitura).
Esquecemos, com facilidade, que a nossa vida é mais semear do que colher; que não podemos estar a viver fazendo as contas apenas aos melhores resultados em benefício próprio. A eficácia e o êxito imediato não podem ser os critérios da nossa missão como cristãos porque há sempre surpresas que Deus nos reserva no nosso caminho.
- Semear e saber esperar
– As leituras que foram proclamadas usam uma linguagem a que chamamos parábola, cuja finalidade é levar-nos a pensar no que as imagens querem dizer. Para muitos, o que conta é apenas o que se vê, o que se pesa e se mede mas, as parábolas obrigam-nos a reflectir sobre ouros sentidos da vida…
– Até no trabalho pastoral, da evangelização e da catequese, somos tentados a olhar para os números quando, afinal, o importante é reconhecer que Deus actua, que Ele exerce a sua acção, muitas vezes sem nós nos darmos conta (Evangelho: a semente germina sem se saber como…)
– É importante projectar, fazer planos, estabelecer objectivos e recorrer aos meios que se afiguram mais eficazes para que a Boa Nova de Jesus chegue a todos e o Reino de Deus se desenvolva… Mas, quantas iniciativas bem elaboradas, quantas energias gastas sem que os resultados apareçam logo?!
– É preciso saber esperar porque, às vezes, sem se saber como, qual semente lançada à terra que germina e cresce, depois, dá fruto no tempo que nós não controlamos…
- Do pequeno surge o grande
– A nossa tarefa é lançar a semente, com humildade e com verdade, reconhecendo que há muitas coisas que precisam de mudar e não podemos ficar parados: sem se semear não se colhe… Mas, os resultados são obra de Deus…
– Todos somos pequenos… E é também nas pequenas acções que Deus se manifesta, fazendo crescer, tirando de um lado e plantando no outro (1ª leitura), cortando do grande para plantar noutro lugar para aí também nascerem árvores frondosas…
– Fazendo nós a nossa parte com simplicidade, também aceitaremos que Deus continue a fazer a Sua…
– Na tarefa da Evangelização, os começos são sempre muitos simples e humildes… No anúncio do Evangelho e no estabelecimento do Reino não se entra de rajada… “Nada impomos, mas sempre propomos” (Bento XVI)…
– A parábola da semente exprime isto: lança-se a semente, naturalmente, e ela cresce; no princípio não há grandes transformações, mas depois cresce e produz frutos… Não sabemos quantos porque Jesus não contabiliza os resultados, mas aparecem, mesmo que a gente também não note muito…
- O papel do evangelizador
– Quem proclama a mensagem do Reino de Deus tem que procurar e preparar a terra e, sobretudo, semear, porque “quem não semeia não colhe”… Na parábola há um contraste entre a espera paciente do semeador e o desenvolvimento irresistível e silencioso da semente…
– Nós vivemos num mundo onde o que conta é a eficácia rápida, o forçar a semente o mais depressa possível para que se vejam logo os resultados… Tudo o contrário do que sugere a parábola porque, precisamente, falta a fé no crescimento da palavra…
– Jesus não nos propõe coisas muito grandes, metas impossíveis de alcançar… O Reino de Deus é algo muito modesto nas suas origens…
– A tarefa da evangelização não se resolve só com mais meios e melhores técnicas, com mais ou menos estudos psicossociológicos, mais ou menos sondagens lidas desta ou daquela maneira… O que é exigido é acreditar na força do Evangelho, no testemunho da fé em Deus de maneira alegre e confiante… “A fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria” (BENTO XVI. Porta da Fé, nº7)