Mistagogia da Palavra
Numa sociedade, em que, tão prodigiosamente, aumentam os recursos materiais, sem que deixe de subsistir a mais escandalosa miséria, o cristão pratica a justiça social, põe em prática a comunicação de bens e promove o progresso social na ordem económica, para que todos os homens possam viver uma vida digna de filhos de Deus.
A 1ª leitura, de Ben-Sirá, diz-nos que a nossa palavra, se é reflexo de vida cristã autêntica, é anúncio da Boa Notícia da Salvação. Por ela Cristo prolonga a sua missão profética.
A 2ª leitura, da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, ensina-nos que Cristo venceu com a sua Ressurreição o último inimigo, que é a morte. Graças a este triunfo, nós, que pelo Baptismo fomos libertados da morte moral, o pecado, ficámos com o caminho aberto para a vitória total, para a vida de glória, da qual participará também o nosso corpo mortal e corruptível, transformado em imortal e incorruptível, à semelhança do Corpo de Cristo, quando ressuscitou do sepulcro.
A 3ª leitura, de S. Lucas, diz-nos que quem quiser anunciar aos homens a Boa Notícia da Salvação tem de primeiro conhecê-la. Quem quiser corrigir os outros deve, antes de tudo, aplicar a si a doutrina comunicada. Só assim será árvore rica em frutos.
A Palavra do Evangelho
Diante da Palavra
Vinde Espírito Santo e iluminai a minha cegueira!!!
Evangelho Lc 6, 39-45
Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola: «Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre. Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão. Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração».
Caros amigos e amigas em Cristo, o Evangelho de hoje convida-nos a fazer uma leitura analítica da nossa vida, quer a nível pessoal, quer no que se refere à nossa relação com os outros. Jesus fala-nos numa linguagem mais simbólica, que faz referência aos nossos comportamentos em relação a Deus e ao próximo.
Interpelações da Palavra
«Não pode um cego conduzir outro cego»
A cegueira sublinhada aqui é a cegueira da fé que brota de uma vida desvinculada da Verdadeira Luz, que é o próprio Jesus. Neste versículo Jesus leva-nos a mergulhar na realidade hodierna. O mundo cheio das trevas que enganam o homem. É no meio desta escuridão que caminhamos. Às vezes as leis que hoje criamos, em vez de darem ao homem a sua dignidade, criam um mundo de injustiça e formam o mercado e uma política perversa que assola a vida humana. Com tudo isto, o homem de hoje fica perdido e precisa um guia. Este guia é Jesus que nos ilumina e nos mostra o caminho justo para nos realizarmos plenamente. É através da sua luz, luz que recebemos nos sacramentos, na sua Palavra… que Ele nos guia. Portanto, não podemos encontrar o caminho justo nem o verdadeiro sentido da nossa vida sem Deus. A alegria humana fica plena, e não enganosa, somente com e em Jesus.
“O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como seu mestre”
Jesus sublinha a virtude da humildade em detrimento da superioridade. A humildade deve caracterizar os seus seguidores. De facto, o discípulo de Cristo procura na sua vida a configuração constante com o Mestre. Portanto, se Ele próprio não condenava, mas compadecia-Se e levantava os caídos, quem somos nós para julgar os outros?!
«Tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão»
Jesus mostra como funciona a misericórdia e a justiça de Deus. O esquema da justiça de Deus supera aquela humana. Os olhos que Deus usa para nos olhar não são os mesmos que usam os homens. Deus não nos trata como pecadores mas como filhos amados. O homem julga e condena. Deus não julga nem condena, mas usa sempre de misericórdia para connosco. Jesus quer lembrar-nos que todos pecamos e, por isso, ninguém entre nós deve tratar o outro como se fosse o maior pecador. É um convite para primeiro analisar a minha própria vida antes de apontar o dedo aos outros.
«Cada árvore conhece-se pelo seu fruto…».
O coração é o órgão mais importante do nosso corpo e, se falhar no seu funcionamento normal, corre-se perigo de vida. Assim também acontece com a vida espiritual. No nosso coração, isto é, no nosso íntimo existem tanto as boas como as más intenções, as quais depois se manifestam na vida real e isso depende de nós próprios. Se nós alimentarmos o bem, a nossa vida estará no rumo certo. Se alimentarmos o mal, este se espelhará no nosso caminhar. Qual deles quero alimentar a partir de hoje?
Rezar a Palavra
Senhor, humildemente Te peço, ensina-me o teu jeito de humildade,
purifica os meus pensamentos, para que não viva focada nos defeitos dos outros,
mas saiba acolher a cada um na sua diferença como Tu fazias.
Tu um dia disseste “a medida com que medirmos os outros a nós será medido”,
Senhor dá-me a graça de perdoar em vez de julgar, de acolher em vez de afastar,
de levantar os outros em vez de tornar o seu fardo ainda mais pesado com as minhas críticas e atitudes.
Ilumina o meu coração para que, a exemplo de Tua Mãe, saiba guardar
e ponderar somente as coisas que edificam a mim e aos outros.
Viver a Palavra
Durante esta semana vou procurar ser instrumento da Misericórdia de Deus em vez de ser “juiz” dos outros.