Mistagogia da Palavra

Temos que amar os nossos irmãos, sempre e na medida em que Cristo nos amou. Amá-los, apesar dos ódios e injustiças de que possamos ser vítimas. Amar os mesmos inimigos, não por passividade, mas pelo dinamismo do Amor.
Na 1ª leitura, do Primeiro Livro de Samuel, vemos que David, não aproveitando a oportunidade de vingança, mostrando-se superior ao ressentimento, de insinuações, incitamentos e pressões dos companheiros, ensina-nos que a vida de todo o homem é sagrada, pertence só a Deus, que o criou e o destinou à participação da mesma sua mesma vida.
Na 2ª leitura, S. Paulo, na Primeira Epístola aos Coríntios, diz-nos que Cristo, cabeça da nova humanidade, não só tem em si a plenitude da vida, como também a infunde, directamente, nos membros do Corpo Místico. Incorporados no Baptismo no novo Adão, ressuscitado e convertido em celestial e imortal, com Ele seremos nós também homens celestiais, ressuscitados para sempre.
No Evangelho, de S. Lucas, Jesus diz-nos que a participação na misericórdia do Pai é uma exigência essencial e deve concretizar-se no terreno prático da vida comunitária e eclesial. Amor incondicional ao próprio inimigo. E amor por exigência da mesma misericórdia participada e não por outro motivo.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra
Vem Espírito Santo e abre os meus sentidos para escutar a linguagem do Amor que se chama Misericórdia !


Evangelho    Lc 6, 27-38
Naquele tempo, Jesus falou aos seus discípulos, dizendo: «Digo-vos a vós que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir, e ao que levar o que é teu, não o reclames. Como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também. Se amais aqueles que vos amam, que agradecimento mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom até para os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco».

Caros amigos e amigas, Jesus propõe-nos ter um coração semelhante ao coração do Pai, um coração misericordioso!


Interpelações da Palavra

Abençoai os que vos amaldiçoam…
O Senhor conhece-nos muito bem! Conhece o convívio interior de luzes e trevas que nos habita e de modo a não ficarmos reféns de nós próprios convida voltarmo-nos para fora de uma forma muito criativa que é responder ao mal com o bem, qualquer que seja o rosto que o mal tenha! É muito mais ruidoso responder ao mal com a agressividade, mas é sem dúvida muito mais poderoso responder com o bem! Quase sempre se espera que recorramos à lógica do “olho por olho, dente por dente”. Quando a lógica do amor, do bem, da bondade respondem ao ódio, à maledicência, à injúria quem ofende perde força! É impossível não ficar desconcertado quando um sorriso, um gesto de paz é resposta à amargura e ao azedume provocatórios! Abençoar, dizer bem dos que dizem mal trava a espiral de violência e manifesta a natureza de Filhos de Deus!

Sem nada esperar em troca…
O nosso coração está sempre à espera! Fazer o bem desinteressadamente parece ser uma quimera! Está de tal modo enraizado em nós a retribuição que a gratuidade parece ter desaparecido da nossa matriz! Jesus convida-nos a refrescar a memória que por sermos Filhos, temos em nós centelha divina e o nosso sobrenome é gratuidade! Fazer o bem é uma opção e não uma imposição! Fazer o bem não porque se merece, mas porque se precisa! E porque o Senhor sabe dessa necessidade, ama-nos porque deseja amar-nos e porque ao amar-nos gratuitamente capacita-nos a fazer o mesmo aos nossos irmãos. Amar gratuitamente é uma necessidade e faz-nos respirar liberdade!

Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso…
Com facilidade fazemos juízos e condenamos os que nos rodeiam! Não raras vezes assumimos o papel de juízes e esquecemos a nossa frágil e semelhante condição! Jesus ajuda-nos a fazer memória do quanto estamos capacitados para perdoar porque fomos os primeiros a ser perdoados! Desinstala saber-nos capacitados para ser misericordiosos como o Pai! É um ideal muito elevado, mas o Senhor não proporia um desafio se nos considerasse incapazes de tal! Em cada um de nós, o Espírito Santo vai forjando Jesus. Este doce hóspede da alma é quem vai discretamente trabalhando a misericórdia, é quem vai substituindo os corações de pedra por corações de carne. Ao invés de pensarmos que não é possível, não coloquemos obstáculos e impedimentos ao trabalho do Espírito. Deus é fiel e se nos faz semelhante proposta é porque em nós derramou enorme esperança!

Rezar a Palavra

Senhor, faz-me misericordioso como Tu!
Que eu ame, abençoe e reze pelos que me ofendem e te ofendem a Ti,
Que eu nada espere a não ser de Ti,
Que eu não condene!
Que eu tudo perdoe, tudo desculpe!
Senhor, que o meu coração viva transbordante da Tua misericórdia!
  
Viver a Palavra
Durante esta semana vou perdoar uma situação que tenho por resolver.