De vez em quando, são divulgadas estatísticas a mostrar quais as palavras mais usadas na troca de mensagens e, entre elas, sobressaem as palavras de agradecimento e as relacionadas com o campo semântico do “amor”. Não deixa de não ser interessante… Só que o amor é, normalmente, concebido à maneira dos produtos publicitários que, tantas vezes, nos desviam da verdadeira essência do amor…
Não é a estatística ou os dados de um determinado momento e num contexto demarcado que indicam a qualidade de vida do mundo em que vivemos… Há realidades que nunca podem ser contabilizadas e preenchem um campo muito distinto do dos números…

1.    A exigência do amor

– Diante da leitura do Evangelho deste domingo que diz “não resistais ao malvado. Se alguém te bater na face direita, apresenta-lhe também a outra… Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem… sede perfeitos como o vosso pai celeste é perfeito”, podemos ficar desapontados porque as metas são demasiado elevadas…
– É certo que Jesus procura ultrapassar o legalismo dos escribas mas, este não é o único critério para interpretar as palavras de Jesus. Ele vai mais além porque quer que os seus discípulos procurem fazer como Ele diz na relação com o próximo. 
– Com frequência se ouve dizer: “perdoo mas, não esqueço… Pois, Jesus acrescenta “perdoar até setenta vezes sete”; “aquele que mas faz paga-as”… E Jesus contrapõe: “perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”; “procuro ser bom mas, não sou parvo”… Jesus propõe que “se apresente a outra face”… 
– Na realidade, as palavras de Jesus orientam-nos neste sentido: a nossa atitude com o próximo não pode ser de vingança nem de rancor, de exigir que a nossa ajuda seja compensada, mas deve ser de uma generosidade e entrega sem reservas…

2.    A coerência (santidade)

– O livro do Levítico (1ª leit) exorta todo o povo a que seja santo (“Sede santos…”) – A proposta de santidade pode gerar reacções muito variadas, algumas até ‘de medo de ser santo’!… Outras podem orientar-se no sentido de afirmar uma certa superioridade… 
– A santidade é, antes de mais, a adopção de um estilo de vida que nos aproxima de Deus e nós, os cristãos, temos um modelo deste estilo de vida em Jesus Cristo… Não é um chamamento ético ou estético: é um caminho espiritual; a resposta do amor humano à grandeza do amor de Deus, a nossa correspondência ao amor que vem de Deus…

3.    Amor incondicional e gratuito

– As palavras deste domingo circulam há muitos séculos na boca de pregadores, intelectuais e académicos, cristãos de variadas tendências… Antes de tudo, o amor e o perdão…
– Isto é claramente contracorrente e parece antinatural… O instinto de sobrevivência leva-nos sempre a defender-nos a nós e aos nossos diante dos perigos causados pelos outros!…
– Isto é próprio de Jesus: a orientação até pode nem ser muito racional, mas vem do coração que reconhece que “o amor pode tudo”… Um grande filósofo como Paul Ricoeur disse que “o amor aos inimigos supõe a maior ruptura que existe na história da ética e a entrada em cena de um imperativo poético e não de um imperativo da razão”…
– Só a partir do amor de Deus manifestado em Cristo é que se podem compreender as palavras de Jesus: não foi só o que Ele disse – foi o que Ele fez… Talvez por isso Nietzche tenha dito que, na história, “só houve um cristão e, esse, morreu na cruz”…
– Podemos não ser capazes de fazer exactamente como Jesus… Se calhar, Ele foi mesmo o único cristão verdadeiro! Mas, precisamente por isso, é que estamos aqui, a celebrar a Eucaristia, para nos lembrarmos do que havemos de fazer…