Esta pandemia, que tantas preocupações nos traz, ajuda-nos a compreender hoje, melhor do que nunca, as situações descritas, tanto no livro do Levítico, como no Evangelho, a respeito da doença da lepra. Por causa do COVID-19 impõem-nos o distanciamento social, aconselham a ficar em casa, obrigam-nos a evitar os contactos físicos e a ver em cada um dos que se aproxima de nós um possível contágio. Para respeitar todas estas normas sanitárias abdicamos do relacionamento social, fechamo-nos em casa e perdemos muitas coisas que nos realizavam como pessoas. Até certo ponto, sentimos que nos estamos a desumanizar porque a relação com os outros é diferente e está a ser posta em causa.
1. A doença da lepra
– Com os que contraíam a doença da lepra, nos tempos do A.T. e no tempo de Jesus, aconteciam coisas ainda piores porque a questão não era somente de saúde pública. Ser leproso era alguém considerado impuro, impossibilitado de fazer parte da comunidade cultual e, portanto, excluído da comunidade religiosa.
– A legislação do AT previa medidas muito rigorosas para estar em relação com a santidade de Deus e, aquele que fosse declarado leproso, era excluído da comunidade porque não reunia as condições de pureza ritual: ele era impuro e tinha que ser afastado porque não se podia apresentar diante Deus, o Santo…
– Era também por esta ligação ao sagrado que se relacionava a doença da lepra, e outras doenças, com o pecado: os leprosos deviam ficar fora da comunidade para não contaminar os chamados “puros”… De um modo geral, outras formas de doença também se relacionavam com o pecado e até eram consideradas como “castigo de Deus”…
2. A actuação de Jesus
– O Evangelho apresenta-nos Jesus a proceder de maneira diferente: em vez de excluir, como faziam as leis relativas ao culto no livro do Levítico, cura para integrar na comunidade. Porém, não afronta os costumes e as leis do culto: depois da cura manda ir ter com o sacerdote e oferecer o que estava estabelecido para que a sua integração obedecesse ao que estava estabelecido.
– A novidade de Jesus é esta: compadece-se, estende a mão e toca para curar, enquanto a lei previa o distanciamento e a exclusão. Jesus toca o doente e preocupa-se com a sua saúde: primeiro, a saúde do corpo manietado e prostrado; depois, faz com que a pessoa recupere o ânimo: “Quero: fica limpo”.
3. Como actuar hoje?
– Esta forma de acuar de Jesus levanta algumas questões quando a confrontamos com o que nós hoje estamos a viver: Jesus compadeceu-se, estendeu a mão e tocou o leproso… E nós, como é que fazemos no contexto desta pandemia?!… Não podemos tocar mas, o que fazemos com os que sofrem infectados por este vírus? Onde é que se pode manifestar a nossa compaixão?
– À partida, aceitamos o dever cívico do confinamento e sentimo-nos incapazes e impossibilitados de ajudar porque nos dizem para não nos aproximarmos e que a melhor forma de colaborar é tomar todas as precauções… Entretanto, é bom que reconheçamos e apreciemos os sinais de Deus no trabalho dos médicos, dos enfermeiros, de todo o pessoal ligado ao socorro e à saúde, de voluntários que prestam diversos serviços, de amigos e de vizinhos… Os profissionais, com a sua competência e dedicação, e os voluntários, podem ser comparados à mão de Jesus que se estende para tocar o leproso, o infectado, e curar…
– E porquê? Porque Jesus não quer o mal, luta contra ele como testemunha a cura do leproso; não quer excluídos e, todos os que procuram erradicar este mal da pandemia e se esforçam por recuperar e integrar as pessoas, estão a colaborar com o que Jesus quer…
– Se cada um de nós fizer como Paulo, que “não busca o próprio interesse mas sim o da maioria para que venha a salvar-se”, e procura ser imitador de Cristo (2ª leitura), então já está a contribuir para que o mal desapareça…
– Uma das lições desta pandemia é a de que só sairemos desta crise se formos capazes de nos sentirmos todos membros da mesma comunidade: não basta que alguns se curem mas, que todos sejam curados; ninguém pode ficar isolado para trás porque pode ser sempre um perigo para os outros… Na realidade, percebemos que estamos todos conectados, que a sociedade global deverá funcionar nesta mobilização conjunta, sem discriminar ninguém, seja ele quem for e esteja onde estiver…