Muitos consideram o Sermão da Montanha, do Evangelho de S. Mateus, a melhor expressão da mensagem de Jesus apresentando as características mais genuínas do cristianismo. Nas famosas antíteses, Jesus contrapõe a Lei antiga à nova orientação que Ele propõe, apelando para a consciência como lugar da vontade de Deus. Para lá das declarações universais (direitos humanos!), das constituições dos estados ditos democráticos e das leis e das normas que facilitam a convivência entre as pessoas, há valores genuinamente cristãos: o amor, a caridade, a esperança, a fé, o perdão, a compreensão mútua,…

1.    O medo da liberdade

– A sociedade de hoje apresenta-se com tudo já programado, assegurando às pessoas quase todas as coisas, de modo que, muitas vezes, quando estas são interrogadas sobre o seu espaço de decisão, respondem: “faço aquilo que me deixam fazer”, “faço o que posso”…
– A publicidade, as correntes de opinião e os medos sociais são mais fortes e impõem-se de tal maneira que as pessoas não escolhem por si e deixam-se arrastar pelo que lhe é imposto…
– Face a esta situação, é preciso dizer que nós, os cristãos, “possuímos uma liberdade absoluta”… O Senhor não veio “abolir a Lei”, mas veio para a aprofundar e completar, permitindo-nos assim decidir livremente, porque a lei marca o caminho mas, não é o caminho. Além disso, a referência, para os cristãos, não é a lei mas a pessoa de Jesus…
– Já o livro de Ben Sirá nos dizia que “podemos escolher entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas”… E acrescentando com a 2ª leitura: “saboreando o mundo em sintonia com a misteriosa sabedoria de Deus”… É este o nosso espaço… Aqui se jogam as nossas decisões…

2.    Optar pela vida

– A experiência de liberdade que este mundo nos propõe parece estar sempre condicionada e não se relaciona muito bem com a liberdade humana verdadeira…
– Hoje é preciso ter coragem para escolher diferente do que a sociedade impõe e a questão da vida e da morte está mais presente do que nunca (vários textos do Magistério da Igreja vão alertando para a cultura da morte que caracteriza os nossos tempos!…). E agora temos, outra vez, a questão da descriminação da eutanásia… 
– Podemos optar pela indiferença ou pela indignação, pelo compromisso ou pela irresponsabilidade, testemunhar os valores do Reino de Deus ou metê-los no bolso…
– Não somos dos que só vêem males e obstáculos em tudo o que é orientação do mundo actual… Vemos também oportunidades: a sabedoria de Deus pode e deve habitar no coração deste mundo; é preciso denunciar os caminhos da morte e semear esperança… “Saborear este mundo sintonizando-o com a sabedoria de Deus”…
– Muitos cristãos sentem-se confortados cumprindo simplesmente o que está estabelecido, as leis… Na lei sentimo-nos cómodos e pouco interpelados… Se desobedecemos, o importante é que não se saiba…
– O que Jesus nos exige, com estas antíteses do Sermão da Montanha, é que não nos conformemos com a Lei mas a aprofundemos,… Não basta pagar os impostos: é preciso defender e viver de acordo com o princípio do destino universal dos bens… Mais ainda: podemos ser dissidentes face a leis que atentam contra os valores do Reino: “se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus”… Em primeiro lugar está a vida…