Todos temos a experiência de, em algum momento da nossa vida, termos rompido com as seguranças habituais porque os desafios que se colocaram a isso obrigavam ou, simplesmente porque a situação se alterou de tal maneira, por força das circunstâncias, e tudo o que era suporte da vida desabou. É nesses momentos que mais se sente a necessidade de tomar a iniciativa, recriar, procurar apoios. Estamos a viver estes desafios e temos confiança que Jesus não nos abandona: o Seu Espírito sustenta a nossa liberdade para decidir em favor da vida como bem supremo, superior a tudo o resto.  
Ele não deixou um código legislativo aos seus discípulos para eles se organizarem após a sua partida física deste mundo e terem as soluções para todos os problemas. A grande questão colocada à comunidade dos seguidores de Jesus era: como fazer para que o Seu projecto continue sem Ele estar fisicamente presente? Não se dispersarão as ovelhas depois do pastor ter sido ferido? Havia alguns apoios: a consciência de que o estilo de vida que implantou se mede pelo amor. Este é o ADN impresso por Deus no coração humano desde o momento da criação; é através dele que os discípulos e toda a humanidade hão-de crescer: a única lei é o amor.

1.    O amor, dom de Deus

– Não se pode legislar sobre o amor… Esta tendência para a elaboração e a interpretação das leis é uma necessidade das chamadas “sociedades de direito”… Mas, sobre o amor, nem se pode legislar…
– O amor é fruto do Espírito: é um dom, um impulso que nos faz assumir o compromisso pela causa do Reino, um fogo que arde no coração e na alma e que renova constantemente o entusiasmo por tornar presente a Boa Nova do Evangelho; a forma de vida que é consequência do Espírito derramado nos nossos corações… É este Espírito de amor que não nos deixa órfãos…


2.    Há forças contrárias ao amor

– Há outras forças no mundo que se opõem ao Espírito do Amor. O diácono Filipe (1ª leit), quando anunciou o Evangelho na Samaria, teve de lutar contra elas…
– Esses “espíritos impuros” de que fala o texto são a discórdia e as forças que quebram a unidade, a luta “dos meus interesses contra os teus interesses”…
– Reconhecer o Paráclito, o Espírito da verdade, é fazer a experiência de que Deus nos ama, que Jesus está connosco e que o seu amor é fiel e dura para sempre…
– Quem reconhece que Deus o ama anuncia a Boa Nova… Aqueles diáconos da comunidade cristã primitiva pareciam ter sido escolhidos para resolver problemas administrativos… Mas o que eles fazem é evangelizar (Estêvão, Filipe,…)

3.    Quem é amado comunica o amor

– Depois da morte de Estêvão, a comunidade cristã de Jerusalém dispersou-se por causa da perseguição e muitos saíram da cidade para outros lugares… Esta circunstância foi aproveitada, não para se esconderem, mas para anunciar a Boa Nova de Jesus noutros lugares: Samaria, outras cidades da Judeia…
– Os resultados foram de tal ordem que os próprios apóstolos, que tinham permanecido na cidade, foram depois visitar essas cidades para ratificarem a acção do Espírito Santo naqueles que tinham aderido às palavras de Filipe…
– Quem é amado não pode deixar de comunicar o amor… Evangelizar é dar a razão da nossa esperança (2ª leit), é deixar que o Espírito fale por meio de cada um de nós e juntar outros ao povo da Aliança e do Amor…