A vida humana comporta muitas desilusões e fracassos. As reflexões que fazemos, em tempos de confinamento, por causa da pandemia, confirmam estes sentimentos. E o livro de Job, no texto que hoje lemos na primeira leitura, fala-nos da condição humana que é caracterizada pela fadiga, a nostalgia, a dor, as incertezas e a finitude. No Evangelho, vemos Jesus a ocupar-se de todos os que sofrem, curando, rezando, vencendo todos os males e anunciando a Boa Nova. Este anúncio da Boa Nova é, para o apóstolo Paulo, uma obrigação, uma função que lhe foi confiada, que ele exerce com liberdade e desprendimento, fazendo-se tudo para todos para os trazer a Cristo (2ª leitura).
- Falta de tempo
– Em tempos de dificuldade, como estes que estamos a atravessar, há pessoas que se disponibilizam para prestar os mais variados serviços de ajuda às vítimas e aos cuidadores, sobretudo nos hospitais. Esta mobilização conforta-nos a todos e, naturalmente, temos motivos para elogiar os que saem do seu conforto para ajudar nesta luta… Ainda há gente que, generosamente, colabora ajudando os necessitados…
– Mas, por outro lado, também há muita gente que nunca tem tempo para fazer algo diferente… Quando se aborda alguém para pedir colaboração nalguns serviços, ouve-se frequentemente a resposta: “não tenho tempo… Há mais quem possa fazer…” Por isso, há até quem diga que, quando se pretende convencer alguém para realizar determinadas tarefas, se deve pedir aos que já fazem muitas coisas porque são os que ainda vão respondendo…
– Ora, o Evangelho de hoje apresenta-nos um dia de actividade de Jesus à volta do sábado (qualquer coisa como o nosso fim-de-semana)… E parece que tem tempo e disponibilidade para tudo: vai à sinagoga, encontra-se em casa com os amigos, atende as pessoas, reza num descampado e vai ainda para outros lugares… A actividade que Jesus desenvolve é um modelo para todos e, principalmente, para a nossa acção pastoral…
- Jesus cura
– Depois de ter participado numa cerimónia pública, na sinagoga, Jesus recolhe-se ao âmbito familiar e partilha o quotidiano com os seus amigos, em casa de Pedro, e ali alarga, de uma forma simples e directa, o grupo dos seguidores: logo que foi curada, a sogra de Simão “começou a servi-los”…
– Jesus está com as pessoas e presta atenção às suas necessidades… Ele não espera que passe o sábado para ajudar quem precisa mas, actua logo que se apercebeu que a sogra de Simão estava doente…
– Passado o sábado, são muitos os que vêm ter com ele para serem curados dos seus males… Jesus atende-os porque a dor, seja de quem for, não Lhe é indiferente…
- Jesus reza
– A intensa actividade de Jesus na relação com todos não impede que Ele reserve algum tempo para si na oração… Ninguém o interpelou sobre isso mas, Ele próprio, sozinho, retirou-se para um sítio isolado…
– Certamente que Jesus participava na oração oficial como todos os outros judeus… Mas o que se refere no Evangelho é a atitude de Jesus face à popularidade que já se manifestava: “todos o procuravam”… No entanto, Ele recolheu-se…
– Jesus afasta-se para dialogar com o Pai e para avaliar aquele momento: parecia de sucesso mas era preciso ponderar a partir do projecto de Deus… E a resposta vem: “vamos para outro lado”, há mais gente a precisar de ajuda noutros lugares…
– Jesus reza à noite para carregar baterias; logo de manhã continua com a sua actividade de se aproximar dos necessitados e de os curar… É em todas estas acções que se descobre a coerência do Evangelho… Como Jesus, também a comunidade cristã tem que ser aberta, disponível e ágil… Não pode ficar só no seu reduto…
- Anúncio da Boa Nova
– Jesus manda calar os demónios porque não quer uma popularidade fácil nem triunfos imediatos, sem uma fé consistente… Os entusiasmos são, normalmente, passageiros e muito limitados…
– Depois, decide ir para outros lugares para pregar porque, confessa, foi para isso que foi enviado… Em Marcos encontramos algumas vezes Jesus a “ir para o outro lado” porque entende que a sua missão é universal e consiste em anunciar e realizar obras de libertação para que a Boa Notícia chegue a todos…
Jesus está sempre em movimento e tem tempo para tudo (mesmo para se recolher e fazer a avaliação!)… E decide ir para fora, para as periferias, onde a dor das pessoas é ainda maior e o anúncio do Reino de Deus é mais urgente…