É comum dizer-se que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Mas, é sempre preciso procurar a imagem adequada para transmitir a mensagem. Jesus fez isso nos seus discursos e nas suas parábolas. Só que, algumas das comparações de Jesus podem ter perdido a força pelo facto de a cultura urbana já as ter perdido. Parece que já não há pastores nem ovelhas!… É por isso que não sei se ainda valerá a pena continuar a usar estas imagens como Jesus fez, no seu tempo, naquela Palestina, onde o pastoreio era uma das actividades mais frequentes… Mas, continua a fazer sentido falar de líderes e de liderança (esta linguagem passou a ser mais familiar!) muito embora esta função também esteja revestida de certas ambiguidades… Mais apropriada pode ser a linguagem do testemunho, de homens e mulheres que são exemplos de vida, que seguem Jesus e abraçam o seu projecto vencendo as dificuldades porque Lhe entregam a vida. Numa comunidade de ressuscitados, como deve ser a nossa, o líder é um só: Jesus Cristo, a porta e o pastor, o que caminha à frente, o que dá vida em abundância…

1.    Líderes e Líder

– As comunidades humanas sempre precisam de alguém que as conduza… O problema coloca-se quando os supostos líderes são mais “ladrões, salteadores, estranhos…” Quando isto acontece, as comunidades não ouvem a sua voz, deixam-nos isolados e procuram afastá-los…
– Para os cristãos, Cristo ressuscitado é sempre o centro da história humana e cósmica, Aquele que congrega o nosso destino individual e colectivo, de modo que as representações humanas de liderança nunca poderão ofuscar Aquele que é o nosso único bom pastor; e, se olharmos assim para Ele, sempre estaremos a salvo das debilidades sentidas por alguns dos seus representantes na terra…
– Num momento em que se fala tanto da crise de liderança e da ausência de “verdadeiros líderes” a nível mundial, das nações e dos grupos, olhemos mais para Aquele que é a porta por onde se entra e sai, O que dá o alimento e a vida em abundância… É Ele o guia seguro, o que vai adiante abrindo o caminho aos que O seguem; Aquele que estabelece uma relação próxima e única com cada pessoa…
– Como diz a 1Pd (2ª leit), Cristo foi um Líder não violento, apesar de sofrer na sua própria carne a violência; não cometeu pecado, não respondeu com insultos, apesar de sofrer na sua própria carne toda a espécie de violências…

2.    Legitimidade do Líder

– Os líderes legítimos, nas comunidades humanas, são os que se comportam à maneira de Jesus…
– Não basta a legitimidade legal ou ritual… É necessária a legitimidade existencial, de identificação com Jesus e o seu estilo, o testemunho de vida… É necessário passar pela porta das ovelhas (“sentir o seu cheiro” como diz o Papa Francisco) … 
– A porta não são as normas ou as leis, nem as verdades que devem ser professadas… A porta é Jesus, o Filho de Deus, o Pão descido do Céu, o Filho do Homem, o Bom Pastor que dá a vida pelos seus e que atende cada um nas suas necessidades… Ele conhece as ovelhas e chama-as pelo seu nome. Vai ao encontro delas e não está à espera que elas venham ter com Ele…
– A porta é a do amor desinteressado, do serviço capaz de lavar os pés aos outros, da humildade e da renúncia à própria glorificação… Só o Espírito Santo é que suscita e acompanha na Igreja e no mundo esta liderança à maneira de Jesus…