Emaús é o lugar de encontro da humanidade consigo própria: mais do que num passado bem recente, fazemos a experiência das nossas limitações, das nossas fragilidades, da dor, do sofrimento, do fracasso e da morte… As perguntas sobre o sentido da vida, que andávamos a adiar, são colocadas agora com toda a transparência. E queremos que o Mestre fique connosco, que não nos abandone, precisamente porque a sua palavra é hoje mais importante que nunca para nos fazer compreender esta história. Estamos a ficar cansados de caminhar sozinhos, de permanecer isolados porque, apesar de reconhecermos a importância de nos fecharmos no nosso espaço, afecta-nos, como aos discípulos de Emaús, o desespero, a descrença e a ignorância. A força das circunstâncias leva-nos a fazer muitas perguntas e a tomar consciência de que sabemos bem pouco…

1.    Do desencanto à compreensão 

– Os discípulos de Emaús estão decepcionados: tinham contactado com Jesus, tinham ouvido as suas palavras e visto as suas obras maravilhosas; acreditaram que deveria haver resultados visíveis, que mobilizassem as pessoas e mudassem o rumo da história…
– Partilhamos também este sentimento quando olhamos para a situação que vivemos, para o mundo à nossa volta, e verificamos que as coisas haviam de caminhar mais depressa para dar resposta aos problemas… Na realidade, parece que tardam em mudar, apesar de todos os esforços… E o desencanto apodera-se de nós face a tantas promessas e cenários idealizados…
– Uma experiência destas leva a desconfiar de qualquer boa notícia que seja proclamada. Não, não pode ser: as mulheres dizem que está vivo, o sepulcro foi encontrado vazio, mas ninguém O viu; portanto, não é verdade…
– Para aqueles discípulos, como para nós, há ainda um caminho a percorrer. E o ponto de apoio, a base da compreensão, são as Sagradas Escrituras… É esta explicação que Jesus dá quando se põe a caminhar com eles; e o mesmo faz Pedro naquele discurso do dia de Pentecostes… Para os primeiros cristãos, a morte de Jesus tinha sido um golpe terrível… Onde encontrar o sentido de tudo isto? Na Palavra de Deus: “Não me abandonareis na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso servo sofrer a corrupção” (Sl)…
– A leitura e a meditação da Palavra levam a compreender que a morte e a ressurreição de Cristo já estavam previstas no plano de Deus… O poder do mal, do sofrimento, da mentira, da injustiça e da inveja, não têm a última palavra. Esta pertence a Deus… E a Páscoa projecta a luz e dá sentido àquilo que nos parece obscuro…

2.    A fracção do pão como momento revelador

– Há um centro de vida para onde a narração projecta estes discípulos e nos lança a todos nós: a fracção do pão… Foi nesse momento que se lhe abriram os olhos…
– A fracção do pão resume toda a vida de Jesus: corpo entregue, sangue derramado por nós para a nossa salvação; Jesus conhece-se no gesto de dar, de repartir, e é também ali que está a chave da compreensão das Escrituras… Foi com aquele gesto que “se lhe abriram os olhos” para compreender o livro da vida…
– O ressuscitado encontra-se connosco na Escritura e na Fracção do Pão… É difícil admitir um caminho diferente deste por mais diversificados que sejam os caminhos de encontro com Deus!… Se não for por aqui, pode haver encontro com Deus, mas pode não ser cristão…
– Só por esta via somos integrados na comunidade: os discípulos foram dizer aos outros, aos apóstolos que estavam em Jerusalém… Também foi a fracção do pão que os levou aos apóstolos e depois os fez voltar para as suas vidas com outra atitude: ultrapassaram a decepção e começam a encarar a vida como ressuscitados…