Mistagogia da Palavra

A mensagem bíblico-litúrgica de hoje estimula a comunidade eclesial e os seus membros para o seguimento, anúncio e testemunho alegres de Cristo, para que Jesus não seja o grande desconhecido do tempo actual. A alegria proclamada neste terceiro Domingo do Advento não é a alegria superficial e mundana de um Natal já próximo e comercializado habilmente por uma sociedade consumista, mas o facto de saber que Cristo já está no meio de nós, mesmo que O não conheçamos nem testemunhemos suficientemente. O testemunho da alegria cristã é necessário hoje mais do que nunca na nossa sociedade em crise de valores. A única realidade que pode vencer a insatisfação profunda do homem de hoje é o testemunho pessoal e comunitário da alegria e esperança oxigenantes, fundado na fé em Cristo libertador, vivo e presente entre os homens que sofrem por qualquer motivo.

A 1ª leitura é do Livro do profeta Isaías. É o anúncio de uma mensagem de paz e de libertação para os infelizes e da misericórdia do Senhor. Jesus anunciará solenemente que essa Escritura se realiza n’Ele. O profeta conclui descrevendo a alegria que goza a comunidade que tem a salvação de Deus.

A 2ª leitura é da Primeira Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses. O Apóstolo convida-nos à alegria. Os inquéritos actuais mostram elevadas percentagens de desencanto e desilusão entre jovens e adultos na sociedade em que vivemos. Todo este desencanto cria tristeza, depressão, mal-estar, ansiedade e angústia, isto é, os pólos opostos à alegria de viver. Esta leitura diz-nos onde nasce a verdadeira alegria. Antes de mais nasce da oração; depois nasce da abertura do coração aos impulsos do Espírito Santo e finalmente de uma vida moral irrepreensível.

O Evangelho é de São João. O Precursor dá um testemunho esplêndido a favor de Jesus, o Messias que vem, como resposta à pergunta que lhe foi feita: Tu, quem és? “No meio de vós há Alguém que não conheceis e que é mais do que eu”. Tal como João Baptista expressou entusiasmo pela presença e acção de Cristo, o Messias, também o cristão pode dizer, cheio de alegria e de fé diante dos homens: Estou radiante de alegria porque Cristo está comigo; é necessário que Ele cresça e eu diminua.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra

Vem, Espírito Santo, areja os espaços da minha interioridade e dá-me coragem para oferece-los ao autor da Luz! 

Evangelho    Jo 1, 6-8.19-28
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?». Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?». «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?». Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?». João respondeu-lhes: «Eu baptizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava a baptizar.

Caros amigos e amigas, no terceiro Domingo do Advento, a “testemunha da Luz”, confirma-nos na certeza de que o Senhor vem e de que é necessário preparar o acolhimento à Luz.

Interpelações da Palavra

Testemunho da luz
No desenho da história de Deus com o Homem, João é enviado para uma missão concreta, ser testemunha da luz.
Nas trevas da incerteza e de uma esperança frágil, nasce um raio de luz que testemunha uma Luz maior que está para nascer. Transformado pela Luz que o habita e move, João não consegue calar o brilho do encontro de Deus com a criação. Ser profeta é partilhar a alegria de ser encontrado por Deus e nós, cristãos, precisamos descobrir cada cor no meio da escuridão onde teimamos tropeçar. Ser profeta é falar do abraço da Palavra que nos habita e nós, cristãos, precisamos dar notícias positivas e parar de espalhar boatos e maldizeres. Ser profeta é beber da alegria de cada manhã e nós, cristãos, precisamos colocar pés ao caminho da mudança e da novidade de Deus, sem medos.

Vigiai – preparai – endireitai
No caminho que vamos trilhando em Advento, são já três os imperativos: Vigiai, preparai e endireitai.
Depois do convite a vigiar (I Domingo do Advento), à escuta e à disponibilidade para a visita de Deus em cada momento, fomos convocados a preparar (II Domingo do Advento) a nossa casa, o nosso interior, para acolher quem esperamos, a luz da Luz. Mas pergunto, amigos e amigas, quem esperamos afinal? Ainda esperamos que Jesus (re)nasça? A voz de João continua a gritar no nosso deserto interior onde poucas vezes chove a Palavra. A voz de João continua a clamar no nosso deserto exterior, cheio de projectos e sonhos pessoais e vazio de Deus e de fraternidade. A voz de João, testemunha da Luz, continua escrevendo da história: “Endireitai o caminho do Senhor…”
Esta voz que investe em todos os adventos, questiona as nossas rotinas?
Só aquele que ama, vigia, prepara o encontro com Aquele que primeiro vem ao nosso encontro. Só quem ama, endireita, retira do caminho todos os possíveis obstáculos que dificultem este laço, aplana a estrada da relação.

…Aquele que vem depois de mim
Na dinâmica da conversão, da mudança de vida, deste tríptico do vigiai-preparai-endireitai, João não é o Messias, não ganha para si possíveis seguidores, mas segue a Luz. Na humildade de João, que não se sente digno de desatar as correias das sandálias daquele que virá depois dele, aprendemos a verdade do serviço, da missão e da gratuidade. Na verdade da luz, seremos espelhos da Luz maior que nos guia e dá vida. Amigos e amigas, Jesus é a única Luz verdadeira. Não adianta seguir sombras ou viver na sombra. Só em Deus encontramos a alegria e a paz que nos transforma e nos faz profetas de uma notícia que talvez fira alguns corações, mas semeia Evangelho.

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

O Testemunho é uma gota de alegria na aridez das notícias, é a atitude de quem não pode conter
dentro de si mesmo a experiência do encontro com Deus. Quem descobre Deus, como João Batista,
enche-se de uma alegria irradiante que ilumina como o sol.
Senhor, estás perto e o nosso coração rejubila, porque tens amor ao teu povo e o visitas
com a força sempre nova e constante da tua presença. Não deixes que adormeçamos
numa fidelidade desgastada e numa presunção que não se abra à tua novidade.
Senhor, damos-te graças por fazeres acontecer nas nossas vidas o milagre do teu amor… da Luz!

Viver a Palavra 

Vou, de muitos modos, ser também testemunha da Luz, anunciando a alegria de receber Jesus em mim!