Mistagogia da Palavra

Ao recebermos o Baptismo, aderimos plenamente a Cristo; incorporámo-nos n’Ele, integrámo-nos no Povo de Deus. Mantendo a nossa condição humana, passámos a viver uma vida nova. Ficámos a fazer parte do seu Corpo. Daí a necessidade de vivermos a unidade: Não nos separando d’Ele, vivendo como Ele viveu e valorizando os carismas que nos deu em favor dos outros membros do mesmo Corpo.
A 1ª leitura, do Livro de Neemias, narra-nos a grande assembleia realizada em Jerusalém, após o regresso do cativeiro da Babilónia, para ouvir a palavra de Deus. A leitura do Livro da Lei, feita distintamente, é explicada no seu sentido e acompanhada da oração com o povo prostrado em terra. Termina na alegria e na partilha com os que não têm. 
Na 2ª leitura, da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, S. Paulo, partindo da imagem do corpo humano, dotado de diversidade de membros, cada um com a sua função própria, mas não desunidos nem autónomos, mostra como na Igreja, com a diversidade de dons e ministérios, deve brilhar a sua unidade substancial. E é o Espírito Santo que faz esta unidade e dá a cada um a sua missão específica na mesma Igreja.
A 3ª leitura, de S. Lucas, compõe-se de duas partes: a primeira é o Prólogo do seu Evangelho, em que o autor declara a sua intenção, e a segunda é a apresentação de Cristo na Sinagoga de Nazaré como enviado, esperado e anunciado, como Aquele que, sob a inspiração do Espírito Santo, liberta os pobres e todos os oprimidos. É a exposição da sua missão de Salvador.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra

Vem Espírito, fica sobre nós! Unge-nos de novo e faz da nossa vida uma missão! 

Evangelho    Lc 1, 1-4; 4, 14-21
Já que muitos empreenderam narrar os factos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram os que, desde o início, foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também eu resolvi, depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens, escrevê-las para ti, ilustre Teófilo, para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado. Naquele tempo, Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito, e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos. Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor». Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».


Caro Caros amigos e amigas, hoje e sempre, o Senhor faz repousar o Seu Espírito sobre nós, fala-nos como a amigos e convida-nos a fazer da nossa vida uma missão. 

Interpelações da Palavra

“ilustre Teófilo”
O destinatário do Evangelho de Lucas, o Teófilo, que significa “amigo de Deus”, também somos cada um de nós hoje. Somos aqueles a quem Deus se dirige para nos falar como a amigos, tal como fazia com Moisés (Cf. Ex.33,11). Podemos aproximar-nos do texto do Evangelho de muitas formas: procurando informações sobre a história de Jesus, procurando uma lição moral ou uma resposta a um problema, ou como quem estuda uma obra literária… No entanto, o Evangelho foi escrito para que Deus continuasse a falar-nos como a amigos. Para isso, é preciso escutar com amor, com o coração, com a disposição de quem vai estar e falar com um amigo. Numa relação de amizade há lugar para cada um abrir o coração, para o acolhimento, para o caminhar juntos mesmo com as diferenças de cada um… Senhor, como Te escuto?

“Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado”
Lucas apresenta-nos assim o início do ministério de Jesus, indo à Sua terra, entrando na sinagoga como costumava fazer ao sábado. Jesus não faz nada de extraordinário, nem de espetacular, nem muito diferente do que sempre fez. E nós, estamos a viver um ano missionário e por vezes não sabemos bem por onde começar. Andamos à procura de grandes ideias, de atividades diferentes, ou achamos que a missão é para outros que tem capacidade e tempo para essas coisas. Mas a nossa vida continua igual, rotineira, marcada pelo ritmo de trabalho, as responsabilidade habituais, a gestão familiar e não temos disponibilidade para viver a missão. Será que a nossa vida assim como é, com tudo o que de costume fazemos, pode ser uma missão? O que é que costumo fazer e pode ganhar mais sentido se o vivo inspirada pelo Espírito de Deus?

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres”
Jesus encontra nas palavras do profeta Isaías, aquilo que o Pai quer dizer, ser, fazer através da Sua vida, humana, frágil, e ao mesmo tempo, bela e cheia de possibilidades. Ali, está claro o para quê da sua vida. A Palavra de Deus pode dar sentido às pequenas coisas que fazemos, e àquelas que não fazemos porque achamos demasiado pequenas. Deixemos que Jesus nos ensine a anunciar a boa nova através de um telefonema, da nossa forma de chegar ao trabalho, ou da maneira de estar à mesa. Que o Senhor nos faça viver como enviados, ungidos, inspirados, impulsados pelo Espírito que nos foi dado. 

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

Espírito Santo, amigo e companheiro de caminho, 
Dá-me a tua força e luz
Para que a minha vida de cada dia, 
As pequenas e as grandes coisas,
Seja impregnada do Teu amor. 
Faz-me cada vez mais amiga de Deus e dos homens. 

Viver a Palavra
Esta semana vou reparar naquelas coisas que geralmente faço, e perguntar ao Senhor como quer que as viva.