A situação em que vivemos é caracterizada por uma certa confusão porque se verifica que, muita gente quer mostrar que tem explicações para o que estamos a passar, e o resultado é uma amálgama de opiniões que faz com que ninguém se entenda. Há muitas vozes, e é difícil seleccionar e avaliar os graus de certeza e de verdade no emaranhado das explicações que nos são dadas sobre os acontecimentos.
Ao tempo de João Baptista e de Jesus também havia muita gente a intervir e a pronunciar-se sobre a situação em que o povo vivia, ao ponto de os responsáveis religiosos e políticos do país se sentirem incomodados com o aparecimento de líderes e de profetas à margem das suas estruturas tradicionais. João Baptista é um destes personagens que chama a atenção das autoridades, que não escondem a sua inquietação e lhe enviam mensageiros para saber quem é ele.
1. Enviados por Deus
– O Evangelho diz-nos que João Baptista é um homem enviado por Deus, a voz do que clama no deserto, pedindo para endireitar o caminho do Senhor, como antes já tinha dito o profeta Isaías…
– Como todos os profetas, João foi escolhido por Deus para falar… Mas ele é enviado no momento em que as profecias já estão cumpridas e o Salvador já está no meio dos homens….
– Por isso, a figura de João é, ao mesmo tempo, igual e diferente dos outros profetas porque actua num momento em que o maior acontecimento da salvação já está em marcha… Nas respostas que dá àqueles que lhe perguntam, mostra que todos estão envolvidos, que ninguém fica de fora, que todos somos enviados por Deus…
– Com João, descobrimos que a nossa missão é preparar o caminho do Senhor, endireitá-lo, ao menos cada um na parte que lhe toca percorrer…
2. Testemunha da luz
– “Ele não era a luz mas veio para dar testemunho da luz”: no Evangelho de João o tema do testemunho e da luz têm particular significado: para ser testemunha tem que ter contactado com a realidade, tem que ter visto…
– Ser testemunha da luz implica ter-se deixado iluminar por ela, no seu interior tem que existir a luz de Cristo…
– É o que deve acontecer connosco: nós não somos a luz, mas a nossa vida tem que projectar a luz de Cristo… Neste mundo confuso, onde parece não haver fronteiras entre o bem e o mal, a luz e as trevas, o objectivo do cristão é ser testemunha da luz…
3. A força do Espírito
– Ouvimos o profeta Isaías dizer: “o Espírito do Senhor está sobre mim, ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres, para curar os corações atribulados…” Extraordinária tarefa esta: “curar as feridas das pessoas”…
– Sabemos que estas palavras se aplicam directamente a Jesus e que Ele assumiu este encargo (Lc 4,21)… Mas, não terminam n´Ele: todos nós, pelo Baptismo, recebemos este Espírito e, portanto, devemos gritar “aos quatro ventos” esta boa notícia: que o Senhor está connosco, que veio para nos curar e libertar e que partilha connosco a sua obra…
– Não pode ser em vão que S. Paulo nos convida a estar sempre alegres, a não apagar o Espírito, a conservar o que é bom e a afastar-nos do mal…
4. Somos colaboradores de Deus
– A obra que anunciamos e testemunhamos é de Deus e não nossa: como João Baptista, somos testemunhas da luz e não a luz… Não anunciamos o que nos pertence mas o que é de Deus para conduzir as pessoas para Ele. Não nos anunciamos a nós mesmos. Somos, como João Baptista, simplesmente “lugares de passagem”…
– Deus já está no meio de nós como nos diz João Baptista: sempre que haja pessoas a fazer o bem, a colaborar com os outros para curar as feridas e aliviar os sofrimentos, aí está Deus…
– Juntos, colaborando uns com os outros, descobriremos o Senhor… Abrindo a mente e o coração, havemos de reconhecer que o outro é um sinal de Deus, que Deus habita nele… Este é o melhor antídoto para a tentação da superioridade que quase sempre está presente em qualquer comunidade…
– João Baptista, aquele que não é o Messias, nem se considera Elias nem profeta, é a voz que clama com as palavras do profeta Isaías, “endireitai o caminho”, e o que baptiza na água para purificar os corações e os abrir ao conhecimento do que se passa à volta e aí descobrir Alguém que já está presente e precisa de ser identificado… É verdade: Deus está aí…