As análises e estatísticas que, quotidianamente, nos são apresentadas, transportam-nos, na generalidade, para aspectos da vida sombrios e pouco animadores. A frieza dos números com que são avaliados os comportamentos e modos de vida desemboca, quase sempre, em constatações negativas e monótonas.
No Tabor, provavelmente o lugar da Transfiguração, Jesus convida-nos a sair da rotina dos números, da lógica e da ciência. Apresenta-nos uma perspectiva de vida que é um apelo a ir mais para diante, a ultrapassar esse horizonte fechado “do mais do mesmo e sempre igual; das nossas supostas seguranças”. Jesus abre-nos para um horizonte novo, maior, e de um alcance que a rotina dos dias desconhece.

1.    O silêncio de Deus

– Algumas vezes sentimos Deus distante, sem que a Sua Palavra se ouça ou a sua presença seja sensível… O tempo litúrgico da Quaresma há-de terminar com a contemplação da paixão e da morte de Jesus… O próprio Jesus experimentará essa aparente ausência no momento da sua paixão e há-de interrogar-se sobre o porquê daqueles acontecimentos que nós recordaremos na Semana Santa…
– Pois bem: ainda que a nossa caminhada quaresmal se oriente também para o reviver desses acontecimentos, o silêncio de Deus na paixão é hoje quebrado com a manifestação gloriosa de Jesus na transfiguração… No nosso itinerário acontece muitas vezes isto: Deus fala para depois calar… É uma experiência que se repete na história da salvação e para a qual todos devemos estar avisados…
– Esta experiência teve-a Abraão (1ª leit): a ele foi dirigida a palavra para sair do que já conhecia para se dirigir ao desconhecido; para deixar as suas seguranças e tornar-se errante, peregrino de Deus…
– Quando se arrisca o seguimento sabe-se de onde se sai mas, não se sabe nunca bem para onde se vai… É preciso é deixar-se guiar por Deus: Ele é o nosso GPS, como Jesus foi para os seus discípulos…

2.    Luz no caminho

– Uma das finalidades da Transfiguração é mostrar que Jesus é Luz: ilumina a vida, a morte, os valores, dá sentido a todas as coisas…
– Ao mesmo tempo Ele é caminho que conduz para o alto e ponto de encontro da longa história da manifestação de Deus com o povo escolhido, narrada no Antigo Testamento: ao seu lado estão Moisés e Elias; a Lei, a Aliança do Sinai, a Páscoa e a Terra Prometida, com a voz dos profetas nos momentos cruciais desta história em que a justiça e o amor de Deus se deviam sobrepor à idolatria e às infidelidades…
– A Transfiguração também nos transporta para outros horizontes da vida: não é só recapitulação da história, mas impele para sair da própria história levando-nos para lá da realidade humana e mostrando-nos o verdadeiro rosto de Jesus: Ele é Deus… A verdade da sua pessoa é que Ele é o Filho de Deus…
– Quando chegar a cruz já saberemos que ela é sinal do amor de um Deus que se esvazia totalmente de si mesmo para nos dar a verdadeira vida…

É este Jesus que está connosco e preside à nossa Assembleia Eucarística: a Luz, o Caminho, a Verdade e a Vida… É o Jesus da amizade, com quem podemos estabelecer uma relação pessoal… Que a Liturgia de hoje seja um convite a segui-Lo porque sabemos quem Ele é e para onde nos leva…