Mistagogia da Palavra

Apesar de o homem ter esquecido o seu destino sobrenatural, Deus, tomando a iniciativa do diálogo, vem ao seu encontro, revela-Se-lhe e deseja estabelecer com ele relações pessoais de amizade. A aliança feita com Abraão e outras que se lhe seguiram são preparação da aliança definitiva realizada em Cristo. A esta prova de confiança dada por Deus, o homem só pode responder como Abraão com a disponibilidade total, disponibilidade que não suprime as dificuldades do caminho. Mas o nosso caminho de dor levar-nos-á sempre à nossa transfiguração em Cristo.
A 1ª leitura é do Livro do Génesis. No seu desígnio de Se tornar mais próximo do homem, Deus estabelece relações pessoais com Abraão e contrai com ele uma aliança, pela qual confirma as promessas feitas. No diálogo Deus-homem, Abraão soube sempre dar a resposta humilde, confiada e generosa.
Na 2ª leitura, aos Filipenses, S. Paulo ensina-nos que o cristão, realizando o seu destino terrestre, já tem garantido em Jesus Cristo, o direito à cidadania do Céu. O Baptismo configurou-o não só à morte, mas à Ressurreição do Senhor. Consciente do seu destino eterno, o cristão trabalha pela construção de um mundo melhor, a favor dos irmãos, e não faz da fé uma evasão da vida.
A 3ª leitura é do Evangelho segundo S. Lucas. No nosso caminhar para a verdadeira vida, o Senhor Jesus não deixa de nos falar. Ao serviço da sua Palavra colocou mesmo o magistério vivo da sua Igreja. Se não nos queremos perder a caminho da meta, indicada pela sua Transfiguração, temos de cumprir a ordem do Pai: “ Escutai-O”.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra
Espírito Santo, abre o meu coração às tuas interpelações!


Evangelho    Lc 9, 28b-36
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.


Caros amigos e amigas, nesta Quaresma, uma vez mais, Jesus confronta-nos com a necessidade e a urgência de nos retirarmos, em oração, para que a nossa transformação interior aconteça.

Interpelações da Palavra

“Jesus subiu ao monte para orar!” 
A oração para Jesus não surge em última instância, mas, como um imperativo advindo da Sua relação com o Pai. Linda, profunda e interpelante é a lição que Jesus nos dá, não apenas com palavras, mas sobretudo com o Seu exemplo de vida! De facto, é muito fácil cairmos na tentação de nos deixarmos levar pelos muitos afazeres e nem colocarmos a possibilidade de nos retirarmos para parar, reflectir, rezar, ponderar, avaliar a nossa vida, de modo a retomarmos a marcha com energias renovadas a partir de dentro. Quando nos confrontamos com a Palavra de Deus, tornamo-nos mais dóceis e susceptíveis de mudança, de transformação a partir do mais profundo de nós mesmos.
“Cair de sono”, adormecer, esmorecer, é fácil e tentador! Há que nos pormos sempre à espreita destas e de outras facilidades que nos espreitam e poderão conquistar-nos. Importa fazermos tudo o que está ao nosso alcance para saborearmos a presença do Senhor e o Seu amor para connosco, de modo que como Pedro cheguemos à conclusão de que é de facto bom estar e viver junto d’Ele e pautar a nossa vida pelas Suas exigências e modo de vida! 

“Mestre, como é bom estarmos aqui!” 
Afinal, o difícil e exigente tem o seu preço de renúncia, de auto-superação, de altruísmo e de coragem para ser diferente e remar contra a corrente! Mas, não é só! Também nos dá o gozo interior e a alegria de estarmos junto d’Aquele que nos chama e ama profundamente! Ter a oportunidade de parar e estar diante do Senhor que nos conhece e ama a partir de dentro, é qualquer coisa de único, belo e enriquecedor.
É, sem dúvida, deste encontro e da profundidade e autenticidade do mesmo, que brota o crescimento amadurecido da nossa relação com Deus e com aqueles com quem nos cruzamos no dia-a-dia. O tempo que dispomos para “perder” em momentos de encontro com o Senhor, revertem, sem dúvida, a nosso favor. Daqui resultam grandes benefícios, de valor incalculável: paz interior, uma maior clarividência para tudo o que nos preocupa e ocupa a mente e o coração. São tempos fortes de organização e reforço interior.

 “Este é o meu Filho muito amado, escutai-O!”
Este é um conselho que o Pai dá aos Seus filhos. Escutar Jesus, é também dispor o coração a pôr em prática, vivendo no concreto da nossa vida, os princípios do Mestre. Mais do que falar, é importante escutar. Escutar significa ouvir com atenção, interpretando e assimilando o que se escuta! 

Rezar a Palavra
Senhor, ensina-me a retirar-me!
Ajuda-me a reflectir na minha vida!
Eleva-me ao mais alto nível da relação conTigo!
Que a minha vida e ação sejam pautadas pela Tua Palavra!
Quero crescer no amor para contigo e os irmãos! 
Dá-me sempre a coragem de parar junto de Ti e conTigo!

Viver a Palavra
Que o Senhor nos ajude a dar prioridade à oração, como imperativo de renovação e mudança interior!