Um dos grandes problemas com que a Igreja se enfrenta é o da transmissão da fé. Com alguma frequência, os métodos e as estratégias da catequese são questionados porque se reconhece que algumas práticas não produzem o efeito desejado. Sublinha-se que o encontro com Jesus Cristo está no centro de todo o itinerário cristão e que as razões para acreditar, apresentadas de tantas maneiras, podem não ter como efeito a adesão à pessoa de Jesus. Parece que foi um pouco disto que se passou com Tomé: quis ter razões, argumentos para acreditar e acabou por confessar a sua fé não porque os outros o convencessem, mas porque se encontrou com Jesus.
Tomé, habitualmente considerado o símbolo da incredulidade, bem nos pode representar a todos nós neste percurso de reconhecimento de Jesus ressuscitado. Não era tanto de provas que ele precisava… Precisava era de estar junto com os outros no Domingo (o primeiro dia da semana e oito dias depois) e de estabelecer um contacto pessoal com Cristo, de o reconhecer como pessoa e de identificar a sua missão.
É quando alguém se encontra com Cristo que vence o medo, a cobardia e a incredulidade. Tomé, primeiro incrédulo e depois crente, confessa que Cristo ressuscitou porque descobriu que só há uma razão para a fé: a pessoa de Jesus
- Um grupo fechado e triste
– Oito dias depois da Páscoa reunimo-nos como os discípulos e olhamos para o mais específico das primeiras testemunhas da ressurreição…
– O sentimento de desilusão e fracasso tinha-se apoderado dos que seguiam Jesus… Aqueles tempos devem ter sido muito difíceis: tristeza, desespero, cobardia, desintegração do grupo…
– O impacto da morte do crucificado gerou “medo das autoridades judaicas” porque os discípulos podiam ser identificados com as mesmas causas que condenaram Jesus… Medo era também um sentimento de culpa por parte de alguns que tinham abandonado e negado Jesus… Os rumores de Maria Madalena e de outras mulheres, as incertezas de João, o abandono da cidade e a procura de refúgio no campo (Emaús), em nada contribuíam para desanuviar do momento…
– A situação pode muito bem ser a nossa hoje: recebemos a notícia de que o Senhor ressuscitou, mas continuamos a olhar para trás, tristes, preocupados e ansiosos porque as soluções para os problemas que estamos a viver tardam, continuamos na mesma rotina, cada um a olhar para si e desligado dos outros… E sentimos também medo de arriscar, de nos comprometermos,… Muitas vezes achamos preferível fechar-nos no nosso mundo sem que ninguém nos incomode muito…
– A realidade libertadora da ressurreição ainda não nos terá tocado a sério como acontecia com os discípulos…
- Paz e alegria
– No entanto, o Evangelho diz-nos que os discípulos “se encheram de alegria ao ver o Senhor”: o medo dá lugar à alegria e à confiança… Ele mostrou-lhes as mãos e o lado para perceberem que era Ele mesmo e reconhecerem que o ressuscitado é o crucificado…
– É Jesus que toma a iniciativa de se dar a conhecer e de lhes trazer à memória todas as experiências antes da Páscoa que, pelos vistos, ainda não estavam amadurecidas…
- Tomé não estava com eles quando veio Jesus
– Mantém-se uma ferida aberta no grupo: faltava um deles e este dado parece que atingia a coesão do grupo…
– Tomé representa todos aqueles que fizeram alguma experiência de Jesus mas não deram o passo para a fé na ressurreição, ainda não vivem a intimidade com Jesus estabelecendo uma relação pessoal de vida nova com o ressuscitado…
– Tomé é o discípulo do oitavo dia, que proclamará solenemente a fé no crucificado-ressuscitado: “Meu senhor e meu Deus”… Tomé mostra como a fé tem de ser pessoal, mesmo que o testemunho dos outros também seja importante e sirva para dar os primeiros passos…
- Comunhão de vida e de bens
– A comunidade dos que aderiam à fé tinha “o mesmo pensamento e os mesmos sentimentos… Possuíam tudo em comum e ninguém passava necessidade…” (Actos dos Apóstolos). O testemunho da comunidade é sempre um caminho para levar à fé. Sejam quais forem as circunstâncias, a coesão e a comunhão de todos os membros deve ser sempre um sinal e um estímulo para os que estão de fora. Aquilo que o livro dos Actos diz é um relato de alguém que está dentro. Mas deve ser quem está de fora que possa dizer isso…
– Que testemunho de vida é que nós damos? Que alegria e paz transmitimos? Em que consiste a nossa comunhão de modo que quem está de fora possa sentir-se atraído?