Advento é palavra que aponta para uma chegada. E essa chegada é um acontecimento importante. No sistema cíclico do ano litúrgico podemos alternar e recomeçar sempre com os mesmos temas, as mesmas celebrações, os mesmos acontecimentos repetidos e retomados da nossa história da salvação. Mas este ciclo, em vez de nos cansar, convida-nos a recolocar-nos sempre porque sabemos onde começamos e onde acabamos. É esta a interpelação de cada Advento: há um tempo de preparação e de espera, outro de celebração do grande acontecimento, outro ainda para a percepção, em cada momento da nossa história, daquilo que já foi e do que ainda está para vir. Com o Advento percebemos que houve um tempo de preparação para a vinda de Cristo, outro tempo de Jesus na história, que mudou e continua a mudar o mundo, e um outro tempo ainda da vinda definitiva que coincidirá com o final da história. Até lá, a nossa atitude deve ser de atenção permanente, de vigilância e alerta constantes para compreender os sinais do Senhor no tempo que nos toca viver e olhar o futuro com confiança.

  1. Esperança perdida e recuperada

– O Advento não é apenas um tempo: é uma atitude que brota do fundo do nosso ser. O verdadeiro Advento é o que se cultiva e desenvolve na esperança; o que leva a acender e a manter a luz para estarmos vigilantes, que abre os ouvidos para a escuta, o que dispõe para acolher e receber…
– Temos esperança em cada manhã quando despertamos da noite… Ao pequeno-almoço, quando projectamos o dia, podemos já tê-la perdido… Mas somos capazes de a recuperar logo que iniciamos o trabalho nas primeiras horas do dia… E durante o dia, quando nos encontramos com os outros, lhe falamos e partilhamos alguns momentos… A nossa esperança é assim: perde-se e recupera-se, vai e volta…
– O Advento é para fazer voltar a nossa esperança e para tomar consciência que a temos, embora às vezes pareça que se vai… A esperança cristã é assim: não se retoma como o medicamento que se ingere para produzir imediatamente efeito… Por vezes, é necessário aguardar mais tempo do que era previsto e ultrapassar obstáculos…
– A esperança cristã retoma-se indo ao encontro d’Aquele que vem ter connosco; é por isso que se exercita na procura, uma procura que preenche toda a nossa história porque as soluções não aparecem logo, não estão ao alcance de um estender da mão, mas existem, simplesmente porque Deus está presente e continua a actuar na história…

  1. Procurar sempre e estar de pé

– A história da humanidade é uma constante busca de Deus: na natureza, na cultura, nas religiões… As descobertas, os encontros e desencontros fazem com que se continue sempre a procurar…
– As consequências destes tempos de pandemia manifestam-se também nos sentimentos de incerteza, de angústia, de desalento, de medo e de ansiedade… Quando pensávamos que estávamos a virar de página, eis que surgem mais dúvidas e inquietações… Quando conseguiremos viver em segurança e acreditar em dias melhores? Valerá a pena ter esperança?
– Na linguagem própria, chamada apocalíptica, o Evangelho de São Lucas diz-nos que é preciso continuar a ler os sinais, a procurar enquanto estamos neste mundo, sabendo que “é preciso levantar a cabeça e estar de pé porque a nossa libertação está próxima”…
– O advento que hoje iniciamos é um convite a manter-nos de pé diante do Filho do Homem, a não vacilar nem desanimar… “Estar de pé” significa ter confiança, estar em caminho, de cabeça levantada para ver bem, sabendo em quem acreditamos, não estar sempre no mesmo sítio mas “progredindo sempre mais” como diz São Paulo (2ª leitura)…
– “A cabeça levantada” deve orientar-nos para Deus, sem pesos e com serenidade… Quem tiver a cabeça muito cheia de outras coisas pode desorientar-se, virar-se para o ruído e ficar nele sem ser capaz de escutar a voz da esperança…

  1. O nosso compromisso

– A salvação não se conquista com as nossas forças: acolhe-se, é um dom que nos vem do Céu (Evangelho.)…
– Esta salvação realiza-se connosco, no nosso tempo, que tem muitas coisas más, mas que também espera um futuro melhor… Experimentamos muitos medos mas, alguns deles são fabricados por nós: medo do tempo sem relógio, das crianças sem televisão, sem tablete ou computador, da noite em que não tomámos os comprimidos para dormir, do dia em que não acordarmos, temos medo da multidão, da solidão, medo do que passou e do que está para vir, medo de morrer e medo de viver… Somos a sociedade do medo e duvidamos que chegue a libertação…
– Porém, quando Deus faz promessas é para as cumprir. Deus é de fiar, as suas palavras são autênticas e, quando intervém, é sempre em benefício do homem (1ª leitura e os textos proféticos que nos hão-de acompanhar neste Advento)…
– Se conseguirmos ser parte desta promessa, já estamos a participar no Advento em ordem a celebrar bem o Natal…