O Advento é um tempo em que vale a pena ouvir outra vez a mensagem de esperança do nosso Deus a um mundo que se sente angustiado e perdido no meio de muitas incertezas. Pensávamos que tínhamos respostas para todas as perguntas e, afinal, há muitas questões às quais a ciência e a técnica não são capazes de responder. Dizem-nos que “isto vai passar” mas, ao mesmo tempo, assistimos a avanços e recuos, sem que se preveja ainda uma saída.
Estamos numa situação que tem alguns contornos semelhantes aos que experimentou o pastor e teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer. Em Novembro de 1943, na prisão nazi de Berlim-Tegel, (ele veio a ser condenado e morto por um processo sumário em 1945!) escreveu as seguintes palavras: “A cela de uma prisão, em que alguém aguarda, espera e se torna completamente dependente do fato de que a porta da liberdade tem que ser aberta por fora, torna-se cenário ideal para o Advento”. A porta abre-se do lado de fora, porventura até, inesperadamente. Mas, é sempre resposta aos que aguardam com esperança.
Todos queremos que aconteça algo diferente. Só não sabemos é como… Não encontramos novidades e precisamos que alguém nos abra a porta ou nos dê a chave…
A porta só pode ser aberta do lado de fora… Nós cansamo-nos, fazemos muitas coisas, mas é Outro quem abre a porta… Ansiamos por um novo começo que só Deus pode oferecer (“Ó se rasgasses os céus e descesses!…”) De facto, só Deus pode tornar possível uma vida nova… Só Ele nos pode fazer tomar consciência de que em cada dia pode haver um novo começo…

  1. Tempo de mudança para uma vida mais recta

– Em boa verdade, nós estamos sempre a mudar: há mudanças pessoais e mudanças sociais… Alterações de modos de vida… Seguranças que pensávamos ter e que desmoronaram… “almofadas”, “alavancas”, que são pura ficção…
– A crise até tem isto de positivo: faz-nos ver as fragilidades das mudanças que supúnhamos ter, e faz-nos pensar também para fora de nós: “como é que isto aconteceu? Quem são os que mais sofrem? Porquê? O que é que nós fizemos para chegar aqui? Onde é que pusemos as nossas esperanças?”…
– O profeta Isaías anseia por uma mudança que depende de Deus porque os caminhos traçados pelos seus contemporâneos, como acontece hoje connosco, só conduziram à desgraça: “Oh! Se rasgasses os céus e descesses!”… “Tu, Senhor, és o nosso Pai e nós, a argila que tu modelaste”.

  1. Estar vigilantes

– A palavra central deste domingo é: “Vigiai”… Vigiar é o contrário de dormir… E o que é dormir? É estar ausente, estar supostamente seguro mas sem dinamismo de vida, é estar inactivo, parado e sem utopia,…
– Vigiar é esperar e receber, trabalhar e resistir, construir, despertar, sonhar,…
– Exige-se que tenhamos uma nova atitude, com outra disposição e vontade para poder receber este novo começo e esta renovação: Vigiai, estai atentos!…
– Vigiar é ter consciência do que sucede ou de Alguém que se aproxima… Deus vem ao nosso encontro e caminha connosco, mas a maioria das vezes não temos consciência desta presença… Andamos tão ocupados e preocupados com mil e uma coisas que até pensamos que é Deus que dorme quando, de facto, somos nós que estamos distraídos…
– É por isso que o estar vigilante deve ser uma das características dos discípulos de Jesus: quem espera a vinda do Senhor, não pode dormir, não pode deixar que a rotina o domine, mas deve estar sempre atento ao que acontece à sua volta…
– Vigiar é, literalmente, não adormecer, não se deixar vencer pelo sono ou pela distracção… Vamos procurar viver este Advento em estado de vigia, de atenção permanente, pedindo ao Senhor que nos abra a porta para podermos sair do cansaço e da rotina… É isso que nos poderá permitir celebrar a sua vinda, o seu encontro em ambiente de festa e de esperança sempre renovada.