Iniciámos esta Quaresma em Quarta-feira de Cinzas evocando a nossa debilidade e as frágeis circunstâncias em que se desenrola a nossa vida. Possuímos uma grande força que brota da graça do nosso Baptismo mas, precisamos de parar, de reflectir, de dar espaço à nossa interioridade, de admitir as incertezas da vida porque o caminho que conduz a Deus é longo e precisa de ser pensado em função das oportunidades que a vida nos oferece.
Foi isto que fez Jesus imediatamente a seguir ao seu baptismo no rio Jordão: o Espírito conduziu-o ao deserto… Para quê? Para reflectir sobre o sentido da sua vida e da sua missão, e amadurecer o seu projecto: contrariamente ao que se possa imaginar, Jesus também precisou de descobrir o caminho que devia percorrer para nos salvar… Diante dele também se colocaram várias possibilidades, e Ele teve de escolher…

1.    Adão e Jesus

– A liturgia deste Domingo coloca em confronto as escolhas do princípio da existência do género humano, representado em Adão e Eva, no jardim do Eden, e as de Jesus, no deserto… 
– Em Adão admiramos a natureza humana, obra de Deus, mas lamentamos a ruptura com o Pai Criador que conduziu à desumanização da própria natureza humana… Em Jesus, apreciamos também a sua natureza humana e admiramos a sua missão libertadora que recuperou o que tínhamos perdido: a liberdade, no seu sentido mais pleno, porque não se deixou conduzir pela sedução e pelo desejo (todo o campo semântico do relato do Genesis nos situa nesta dimensão: comer, agradável à vista… É mais instinto do que razão!…) e assim nos restituiu a humanização da vida humana…
– O importante é interrogar-nos sobre o sentido da vida: para o que é que eu vivo? Para onde é que quero caminhar?…

2.    As tentações de Jesus     

– As tentações de Jesus apresentam-nos os três sentimentos negativos que podem comprometer a nossa existência: o prazer, a exibição e o poder… Satisfazer todas as nossas necessidades, viver para triunfar e para dominar…
– São tentações, quer dizer, meias verdades, mentiras disfarçadas aparentando ter algum valor, desejos egoístas…
– Prazer, êxito e poder: é a proposta que, quotidianamente nos é apresentada pela publicidade e que pretende ir ao encontro dos nossos pensamentos ocultos despertando em nós as tais tentações de gozar os bens deste mundo, de cuidar da nossa reputação, de administrar o que temos ou que nos cai nas mãos…
– O que tudo isto esconde é a auto-satisfação egoísta, o êxito como condição do triunfo e o poder como domínio sobre os outros… E a pergunta é esta: será para isto que vivemos? Deixamos triunfar os critérios de Adão ou os de Cristo?…

3.    A escolha de Jesus 

– As respostas de Jesus ilustram bem a alegria de estar ao serviço dos outros, a simplicidade e a naturalidade das nossas relações procurando uma sã convivência, e a moderação do nosso viver com austeridade para que outros participem dos nosso bens e do nosso viver… 
– É aqui que se colocam todas as iniciativas e as propostas que, anualmente, nos são feitas para este tempo… 
– A Quaresma é tempo de graça e de conversão… É preciso ter uma ideia clara sobre o lugar para onde caminhamos e o caminho que nos há-de conduzir até lá…