Entramos na Semana Santa, a Semana Maior, a Semana da Paixão do Senhor. Para nós, cristãos, este termo evoca os últimos dias de Jesus neste mundo. Parece que termina a sua atividade. Mas não: os acontecimentos da vida de Jesus que nós celebramos são a alternativa de vida a este mundo egoísta e violento; são “o outro reino” diferente do que nós, tantas vezes, idealizamos; são a transformação das nossas ilusões em frutos de verdade.    

1.    O cenário histórico   

– Vindo do Ocidente, de Cesareia marítima, distante de Jerusalém cerca de 90 Km, chega Pôncio Pilatos, o Procurador, representante do poder romano. Vive em Cesareia porque ali a vida é mais calma e tem menos problemas com os judeus. Jerusalém é, para o observador romano, uma cidade hostil, partidária e provinciana. Mas, Pôncio Pilatos vem a Jerusalém para controlar as manifestações que celebram a “Grande Libertação” de um outro império, do faraónico, há uns 1300 anos atrás… A sua entrada é triunfal: cavalaria, soldados em grande número, todo o aparato militar romano se concentra na cidade por estes dias… As bandeiras, as águias imperiais, e todos os outros símbolos do império romano, têm que ser bem visíveis… Devia ser deslumbrante, soberbo, espetacular…
– Da Galileia, de uma distância de cerca de 150 Km de Jerusalém, chega Jesus, com os seus discípulos, a proclamar um outro império, o Reino de Deus. A eles, junta-se uma procissão de entusiastas e simpatizantes, exultando de alegria, estendendo as capas e os ramos pelo caminho e gritando: “Bendito o que vem em nome do Senhor”. Cumprindo os oráculos proféticos, este Messias “é um rei humilde montado num jumento”…
    Pode dizer-se que ambas as entradas são triunfais: a de Pilatos impõe o respeito e o medo; quer seduzir pelo esplendor da riqueza, do prestigio e do poder; a de Jesus, na sua simplicidade, provoca a manifestação da alegria e o entusiasmo espontâneo. Os que O acompanham, experimentam algo inteiramente novo: Jesus e o seu Reino que se aproxima…

2.    Importância dos contrastes

– Cavalos, poder militar e económico, espetáculo montado – Jumento, simplicidade e espontaneidade…
– Exibição de autoridade, imposição do respeito, intimidação e garantia de submissão – uma entrada sem publicidade, adesão livre e slogans improvisados…
– Não houve nada programado para receber Jesus como seria habitual na recepção dos reis… Ao contrário, parece que a cidade “ficou inquieta”, tal como aconteceu com os Magos quando eles perguntaram pelo Rei dos Judeus que acabava de nascer…
– Na recepção de Jesus há uma atmosfera em que se respira, não o poder deste mundo, mas a presença de Deus, o profeta vindo da Galileia, que faz abalar as seguranças habituais…
– Muitos são os contrastes na narração da paixão que S. Mateus nos oferece. São os contrastes da Igreja, da comunidade e das famílias: histórias de fidelidades, de entregas generosas, mas também de traições, dúvidas, invejas… Quando vemos desfilar todas as personagens devemos perguntar-nos em quais delas nos revemos… Sobressai, sobre todas, a fidelidade a um projeto, a entrega generosa, a gratuidade absoluta de Jesus…
– Há uma história que acaba e outra que começa: o véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo, a terra estremece, fendem-se as rochas, abrem-se os túmulos… E, depois da ressurreição, há um mundo novo a começar…