No Domingo de Ramos somos todos convidados a dirigir-nos para Jerusalém e a recordar o que lá se passou no termo da grande viagem de Jesus em direcção à cidade. O Evangelho de São Lucas, que nos acompanha neste ano litúrgico, diz-nos logo muito cedo, em Lc 9,51, que “como estavam a completar-se os dias da sua elevação, Jesus tomou a firme decisão de ir para Jerusalém”. Muitas coisas aconteceram durante esta longa caminhada mas, o evangelista vai recordando sempre que o profeta é rejeitado e não é admissível que um profeta morra fora de Jerusalém (Lc 13,33). Em Jerusalém vai consumar-se tudo o que foi escrito por meio dos profetas acerca do Filho do Homem (Lc 18,31). Jesus vai adiante, subindo para Jerusalém, e chega a Betfagé e a Betânia onde inicia a fase final da sua caminhada, montado num jumentinho e aclamado pelas multidões na descida do monte das Oliveiras (Lc 19,27-40). Isto não impediu que Jesus chorasse sobre a cidade por não ter reconhecido aquilo que lhe traria a paz e anunciasse a ruína que haveria de se abater sobre ela (Lc 19,41-44).
Eis por que este Domingo é, ao mesmo tempo, de aclamação e de festa, de entrada triunfal, e também de paixão. Aquele que é aclamado como rei, é o servo maltratado e insultado, o profeta que é morto na cidade. Jerusalém é a grande cidade onde tudo isto se passa como se poderia passar hoje nas grandes metrópoles da actualidade: riqueza e poder, triunfo e glória; a par dos abandonados, do sofrimento e da morte.

  1. Pórtico

– O Domingo de Ramos é o pórtico de entrada na Semana Santa: é mesmo o pórtico porque já estamos junto da entrada mas ainda não entrámos totalmente no edifício… Já podemos ver o que está dentro mas, ainda não entrámos totalmente…
– Esta porta dá acesso ao mistério central da nossa fé, da humilhação e da exaltação de Jesus… Os dias da Semana Santa são de contemplação e de silêncio… Estes dias não são para se colocar no lugar dos espectadores mas para assumir a nossa condição de autênticos discípulos…
– Nas leituras, encontramos referências à Quinta-Feira Santa, à paixão, morte e ressurreição de Jesus… Sabemos o caminho e conhecemos o final…
– Estamos à porta e queremos acompanhar Jesus no tríduo Pascal… Não queremos fazer a figura dos que num dia aclamam vitoriosamente e poucos dias depois exigem a crucifixão… Queremos acompanhar Jesus e estar perto d’Ele…

  1. Jesus morreu como viveu

– Jesus morreu como viveu… É a verdade nua e crua de todo o processo de Jesus: morreu por amor dos outros, dando-se totalmente, sem reservar nada para si próprio…
– A sua preocupação foram sempre os outros e, mesmo no momento da morte, sobressai o seu coração misericordioso… Morre como viveu: totalmente ao serviço de todos…
– No jardim das Oliveiras, em momentos de dor e ansiedade, a sua preocupação é a situação dos discípulos…
– Às mulheres que choram por ele responde-lhe com a ternura de sempre “não choreis por mim, chorai antes por vós e pelos vossos filhos”… É assim: morreu como tinha vivido…
– Na cruz, crucificado no meio de dois malfeitores, acedendo ao pedido de um deles que lhe roga para “se lembrar dele”, dá uma resposta imediata: “hoje estarás comigo no Paraíso”… Foi sempre assim que actuou em vida: infundiu coragem, confiança e esperança e erradicou o medo da vida das pessoas…
– Mesmo na cruz, a sua oração é a favor dos seus carrascos: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”… Toda a sua vida foi implorar o perdão do Pai para os pecadores e, na cruz, não muda de atitude: pura gratuidade até ao extremo…
– Uma das coisas surpreendentes do cristianismo é esta: na cruz, sem fazer apelo aos méritos, sem contas ou cálculos, Jesus continua com a mesma postura de sempre: tão humano assim, fazendo tudo pelos homens, só podia ser Deus…
– A coerência de Jesus é que ilumina o mistério da cruz… E é assim, com os olhos postos n’Ele, que queremos celebrar esta semana…
– Olhando para Jesus que se compadece dos que sofrem, compreende as suas penas e angústias… Assume tudo isto e sofre com todos e por todos…
– É no seu sofrimento que compreendemos todos os sofrimentos deste mundo… Não porque Ele o aceita com resignação mas porque partilha tudo o que faz parte da condição humana: sofreu porque nós sofremos… Assumiu em tudo a condição humana, menos no pecado…